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COMPORTAMENTO
Livrarias sofisticadas viram local de busca de relacionamento
Atrás de um bom livro pode estar uma ótima paquera
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Todo domingo, Alessandra, 27,
toma o caminho de sua livraria
predileta (uma das megastores da
cidade) com um objetivo e uma
fantasia: checar as novas edições
da seção de arte e, enquanto espia
um ou outro volume, conhecer
um cara interessante.
Certa vez, a freqüência local lhe
pareceu compatível com os caprichos de sua imaginação. Alessandra viu um homem "maravilhoso". Aproximou-se um pouco para tentar reconhecer o livro que
seu alvo tinha nas mãos. Perfeito.
Seu coração disparou. Uns passos a mais e o inesperado: "Benhê,
vem aqui ver que livro legal eu
achei". Bastou uma frase para o
castelo que Alessandra construíra
em poucos minutos desmoronar.
"E o "benhê" que apareceu era outro cara ainda mais maravilhoso
que ele. Não pude acreditar", conta. "Mas tudo bem. Tenho esperança de que, algum dia, essa fantasia vá se realizar", conforma-se.
Com a mudança no perfil das livrarias -que hoje contam com
espaços confortáveis para leitura,
cafés, exposições, cursos e
shows-, que induz os leitores a
passar mais tempo entre prateleiras e atrai mais gente, há quem as
considere uma ótima opção de lugar para paquerar.
"Já falei para a minha sobrinha
ir à Fnac para ver se ela conhece
alguém legal. Em bar, ela vai arranjar, no máximo, um rolo", diz
Ana Lúcia Godoy, 49.
O conselho tem fundamento
em sua própria experiência: Ana
conheceu dois de seus mais recentes namorados no local. Com o segundo deles, o psicólogo Carlos
Francisco Lombardi, 48, ela já comemora um ano e meio de namoro. "Acho que, nas livrarias, você
encontra pessoas com as quais sabe que haverá uma qualidade diferenciada na conversa e nos assuntos", aposta Lombardi. "É um
lugar onde as pessoas buscam um
pouco de romantismo."
Para Ana, um fator decisivo na
paquera em livrarias é a identificação de todos ali com um mesmo assunto: a leitura.
"Se você vai a um bar, encontra
de tudo. Se quiser encontrar alguém interessado e informado, a
livraria já filtra essas pessoas para
a paquera", acredita Sônia Goldfeder, criadora dos Cafés Filosóficos, debates que acontecem semanalmente nas unidades da Livraria Cultura. "O próprio Marc
Sautet, que criou os cafés filosóficos na França, conheceu sua mulher em um evento desses numa
livraria", conta.
"Mesmo assim, você pode selecionar o alvo pelo livro de seu interesse. Se há alguém folheando
um Sidney Sheldon e outra pessoa
com um Thomas Mann, é claro
que vou me identificar com a segunda leitora", diz Lombardi.
Só que nem todo mundo investiga o objeto de seu desejo antes
de se aproximar. Durante visita a
uma livraria, a reportagem flagrou o indiano Samir Bhutani, 31,
levando um fora de uma cliente
da loja, que se afastou rapidamente quando percebeu a aproximação do estrangeiro, cheio de intenções. Era paquera? "Claro. Esse é o meu hobby. Aliás, antes dessa entrevista, tinha pensado em
flertar com você", disse.
Bola fora
O professor de relações amorosas da Faculdade de Psicologia da
USP, Ailton Amélio, autor do livro "O Mapa do Amor" (Ed. Gente), afirma que casos de paquera
em livrarias já bateram em seu
consultório. "Procuro verificar in
loco o que ouço no consultório e
percebi que não é fácil paquerar
em uma livraria. Há muita bola
fora. Gente que parece estar só, às
vezes, está acompanhada", alerta.
"Quando se vai a um local de
paquera, como um bar, quem está
ali sabe que há pessoas dispostas a
um contato. Numa livraria, isso é
ambíguo. É preciso dar e buscar
sinais de disponibilidade", diz.
Em sua investigação, Amélio
chegou a fazer algumas tentativas
de aproximação. "Um bom truque é fazer comentários em voz
alta não direcionados. A outra
pessoa pode responder."
Opção
O psicoterapeuta Sérgio Savian,
49, já ganhou o título de personal
trainer da paquera. Além de ter
publicado oito livros sobre relacionamentos (três deles sobre paquera), Savian dá palestras e
workshops a respeito do tema em
todo o Brasil e disponibiliza dicas
em seu site (www.mudancadehabito.com.br). "Crio várias situações em que a paquera é possível.
Um desses lugares é uma livraria.
Acho uma ótima alternativa ao
bar, local tradicional de paquera
que está ligado ao álcool e a um
contato rápido e sexualizado."
Para a escritora Fábia Vitiello
Azevedo, 33, que conheceu seu
marido em uma livraria há cinco
anos, essa é a grande vantagem do
local. "É um espaço maravilhoso
porque, teoricamente, não tem
ninguém de fogo. E a chatice ou a
simpatia das pessoas não pode ser
creditada ao álcool", conta.
Savian explica que, como na livraria há gente de vida cultural
mais rica, a aposta dos paqueradores é que ali haja uma conversa
mais profunda. Para ele, quem
quer namorar deve ter mais sucesso numa livraria que num bar.
Quem não quer levar um fora
também: "As pessoas que lêem
são mais delicadas e educadas.
Portanto, se rolar um fora, vai ser
algo com classe, sem grandes
constrangimentos".
Mas o personal trainer da paquera, que elaborou um passo a
passo sobre o tema e um guia dos
leitores das principais seções de
uma livraria, avisa: "O cara que não
gosta de ler e for a uma livraria paquerar de forma oportunista tem
de tudo para se dar mal". "É preciso ter coerência com o que você
quer e o local aonde vai", afirma o
especialista em conquistas.
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