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DANUZA LEÃO
Te cuida, Rita
Depois que os políticos
descobriram que as mulheres existem e até dão ibope, todos
os pré-candidatos à Presidência
estão à procura de uma vice -alguém que use saia e não seja padre, claro.
As pesquisas descobriram que o
eleitor acha que as mulheres são
mais honestas, mais verdadeiras e
não costumam fazer promessas
que sabem que não vão poder
cumprir -ao contrário da maioria dos homens. Daí os partidos
estarem procurando, sem o menor pudor, uma vice mulher. Estamos em alta. Que coisa.
O PSDB já encontrou a sua, Rita Camata; mas ela que se cuide.
Estão todos de olho -seus adversários políticos, seus correligionários e a imprensa-, esperando
que ela pise na bola para poder
acabar, no melhor e mais total
sentido, com sua imagem e sua
reputação.
Até onde se saiba, Rita foi uma
parlamentar séria e dedicada,
com muitos projetos aprovados e
um passado irretocável, o que faz
com que ela tenha agora de pisar
em ovos. De todos os lados haverá
sempre alguém querendo descobrir alguma coisa desabonadora
sobre sua vida, seja em que campo for. Até sua ex-cozinheira deverá ser procurada para dizer como era sua antiga patroa. De preferência, falando mal, claro.
Se ela sorrir muito, vão compará-la a Marco Maciel e achar que
uma candidata a vice tem de ser
séria não só em seu comportamento mas sobretudo na foto. Se
se vestir com elegância, vão dizer
que só pensa em roupa; se, no entusiasmo do palanque, arriscar
um passinho de samba, que é
uma doidivanas; se não puder ir a
uma reunião porque seu filho pequeno está com febre, fica constatado que mulher não pode assumir certos cargos e, se usar uma
saia mais curta ou um decote, já
viu. O que já dizem: que, como teve coragem para votar várias vezes contra projetos de seu próprio
partido, não é confiável (mas,
se tivesse votado em todos, é porque sempre foi um pau-mandado). Como teve sempre um comportamento discreto -e teve-,
foi por falta de personalidade para exercer uma liderança (mas, se
tivesse aparecido mais, seria uma
exibida).
É difícil a situação da pré-candidata a vice; um lindo tapete de
cascas de banana será estendido
por onde ela passar, e centenas de
pessoas estarão torcendo, em
tempo integral, para que ela escorregue e caia, de preferência
numa pose ridícula. A partir de
agora, Rita não poderá ser vista
com um copo de bebida na mão
-se é que ela às vezes teve a
liberdade de tomar uma caipirinha-, e cigarro, nem pensar. Vai
ter de ir para o banheiro, como
nos tempos de colégio, para fumar escondido.
E mais: terá de tomar o maior
cuidado nas fotos tiradas ao lado
de José Serra; um sorriso a mais e
o boato de que está havendo um
caso entre os dois vai incendiar o
Brasil. Todo mundo sabe que os
dois são casados -e bem casados; melhor ainda para os profissionais das baixarias. Rita Camata é inteligente, independente e
íntegra, mas o preconceito existe:
ela é jovem, linda, tem olhos azuis
e seus cabelos causam inveja a
todas as mulheres, do Oiapoque
ao Chuí. E os homens, sobretudo
os deputados que conviveram
com ela na promiscuidade de
Brasília, devem, no fundo e no raso, desejá-la e temê-la; uma mulher tão bonita, que deve conseguir gelar, com um olhar, qualquer um que queira se fazer de
engraçadinho com ela, é um problema. Deve causar muita raiva
nos homens -e da raiva para o
despeito, do despeito para a raiva
e da raiva para o ódio são apenas
dois passos.
Te cuida, Rita. Quem mandou
ser tão bonita?
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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