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Presidente da Associação dos Cabos e Soldados diz que ações contra PMs não vão continuar
"Vamos para cima deles", diz dirigente
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Se os cabos e soldados da PM de
São Paulo tivessem uma CUT, o
Cabo Wilson seria seu Vicentinho. E o "Vicentinho da PM" está
bravo. "Agora nós vamos para cima, vamos buscá-los", disse em
entrevista à Folha Wilson Morais,
49, presidente da Associação dos
Cabos e Soldados da Polícia Militar do Estado de São Paulo, entidade que reúne 40 mil policiais.
O "nós" a que se refere o ex-deputado estadual (PSDB, de 1999-2003) e ex-PM (por 28 anos) é a
polícia de São Paulo, que, diferentemente da do Rio de Janeiro, segundo ele, "prende, mata, age
com rigor". O "eles" são os autores dos recentes ataques aos policiais, que podem fazer isso "por
uma, duas semanas, mas não
sempre. Somos 90 mil".
Cabo Wilson comanda uma
manifestação amanhã, às 5h, que
sairá do Masp, reunirá viúvas e
promoverá "o enterro da segurança pública de São Paulo". Leia
trechos da entrevista abaixo.
Folha - Os PMs estão com medo?
Wilson Morais, o Cabo Wilson -
Medo, não, tensão. O pessoal está
tenso, muito tenso. Em 28 anos,
nunca vi isso, bandido correndo
atrás de policial. Isso é comum no
Rio de Janeiro, aqui não.
Folha - Se os ataques aos policiais
continuarem, o sr. não teme uma
reação que fuja ao controle?
Cabo Wilson - Agora, nós vamos
para cima, vamos buscá-los.
Aliás, nós já partimos para a ação,
tanto é que prendemos 29, inclusive os que mataram o cabo Cunha (Pedro Cassiano da Cunha,
morto no último domingo), na
base de Tremembé. A polícia já
partiu para cima.
Folha - Em sua opinião, qual a razão dos ataques?
Cabo Wilson - São duas. Primeiro, nunca a PM prendeu tanto
bandido quanto agora. Há 4 anos,
prendíamos 4.000 pessoas em flagrante delito por ano. Hoje, são
quase 10 mil. Nos últimos 3 meses, apreendemos mais de 20 toneladas de maconha. Isso desestabiliza qualquer organização criminosa, traz prejuízo para eles.
Segundo, os cabeças do PCC
(Primeiro Comando da Capital)
querem desestabilizar, desmoralizar a polícia. Podem fazer isso por
uma, duas semanas, mas não
sempre. Somos 90 mil. Tanto que
até hoje não tem bandido com
nome aqui em São Paulo. Porque
a polícia aqui não deixa, prende,
mata, age com rigor.
Folha - Qual a principal reclamação dos soldados?
Cabo Wilson - Salário. O policial
começa ganhando hoje R$ 1.150.
Em 30 anos, se virar coronel, pode
chegar, no máximo, a R$ 7 mil. É
menos do que em outros Estados
que arrecadam menos do que São
Paulo, como Brasília, Acre, Espírito Santo. Com 10 salários mínimos de piso, R$ 2.400, acabaria o
bico, o segundo emprego, que hoje é feito por 85% da tropa.
Depois, tem as condições de trabalho. O governo anuncia que
comprou 50 mil coletes, 50 mil armas. É verdade, mas nós somos
90 mil. Além disso, tem de blindar
as bases comunitárias, para o policial não morrer com tiro disparado de longe. Não chegou ainda
como na época do Maluf (1979-1982), quando não tínhamos viatura e, quando tínhamos, ela quebrava e o policial pedia para o comerciante para pagar o pneu.
Folha - Mas há relatos ainda hoje
de bases comunitárias que dependem de doações do comércio local.
Cabo Wilson - Sim, mas é uma
minoria, e só nas bases.
Folha - Mas não tem de mudar
também a imagem da polícia?
Cabo Wilson - Não, o que tem de
voltar é o poder de polícia. Ao
longo dos anos, fomos perdendo
o chamado "poder de polícia".
Antes, o policial tinha autoridade.
Quando gritava "mão na cabeça",
era respeitado pelo bandido. Hoje, com a Constituição, o Ministério Público fiscalizando, os direitos humanos, diminuiu o poder.
O policial fica preocupado, trabalha correto e o pessoal critica.
Folha - Mas isso aconteceu porque houve e há excessos.
Cabo Wilson - Lógico que tem,
mas são exceções que devem ser
punidas. Por exemplo, não sou favorável ao extermínio. Deve ser
punido. E geralmente é: até o mês
de junho, a PM demitiu 422 policiais. Nos últimos cinco anos, foram mandados embora 2.413 homens.
Compare os números. No mesmo período, 1.226 policiais foram
assassinados, 4.376 foram feridos,
176 cometeram suicídio. Aí, vem a
representante da ONU, a sra. Asma Jahangir, e diz que houve 349
extermínios no Brasil nos últimos
cinco anos. Mas não fala uma palavra sobre os 1.226 soldados assassinados no mesmo período...
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