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SAÚDE
Uma atividade cerebral intensa mesmo em sono profundo explicaria o cansaço e a insatisfação ao acordar
Insones crônicos estão sempre alertas
DA REPORTAGEM LOCAL
Sempre alertas. Assim são alguns insones crônicos. A atividade cerebral intensa, mesmo em
estágios profundos de sono, explicaria o fato de essas pessoas não se
sentirem satisfeitas ao acordar.
A relação da insônia crônica
com alterações neurobiológicas e
elétricas do cérebro é estudada
com mais afinco nos últimos três
anos, explica Dalva Poyares, pesquisadora docente do Instituto do
Sono da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo) e uma das
organizadoras do 9º Congresso
Brasileiro de Sono, concluído ontem em Vitória.
"Não só condições psicológicas
como neuropsicológicas explicam a insônia crônica em alguns
pacientes." Segundo o neurologista Luciano Pinto Júnior, que
também trabalha no instituto, estudos feitos pela unidade mostram que 40% dos insones crônicos passam normalmente por todos os estágios do sono. Mas ainda assim acordam achando que
não tiveram o suficiente.
"A mente dessas pessoas não
pára. A atividade elétrica é de um
estado de alerta", afirma o neurologista Pinto Júnior.
Ainda são desconhecidas as
causas do problema, afirma o médico. Imagina-se que a predisposição genética, por exemplo, possa ser uma das explicações. Para o
neurologista, medicamentos, sozinhos, não funcionam. É preciso
recorrer também à psicoterapia.
Poyares explica que para combater as insônias é necessário
aprender a controlar os estímulos
a uma noite mal dormida, como
deitar sem sentir sono. O ideal é
fazer alguma atividade até ele chegar. Outra dica é anotar todos os
problemas a serem resolvidos -e
as possíveis soluções- algumas
horas antes de dormir. Ou seja,
antecipá-los e não levá-los para a
cama. Além disso, a "higiene do
sono", como dizem os especialistas: evitar estimulantes -cafeína
-, buscar um local calmo.
Pesquisa
A insônia crônica com o comprometimento da qualidade de
vida atinge de 5% a 10% da população, diz Pinto Júnior.
Um estudo internacional divulgado durante o congresso, organizado com apoio de um laboratório farmacêutico, mostra que ao
preencher uma escala de insônia,
79,7% dos 1.999 brasileiros participantes da pesquisa poderiam
ser classificados como insones (isso não quer dizer que todos tivessem comprometimento grave da
qualidade de vida). A pesquisa
mostrou, por outro lado, que
quando eram questionados sobre
problemas para dormir, apenas
19,2% diziam ter algum distúrbio.
"Quando uma pessoa tem dor
no peito, todo mundo diz que tem
de ir ao médico, ao cardiologista.
Se a pessoa tem problema de sono, ninguém dá valor. "Tome um
chazinho", dizem", afirma Poyares. Segundo pesquisadora, há
evidências de que só um derivado
de um tipo de planta aja contra a
insônia, em dosagem específica.
À insônia crônica está associado
o alto risco de desenvolver depressão. Não existem levantamentos nacionais sobre o impacto do problema.
Um estudo publicado em 1994
estimou em US$ 100 bilhões por
ano o impacto da insônia no
mundo, entre custos médicos diretos e indiretos, perda de produtividade e acidentes. Outro mostrou que o absenteísmo no trabalho é maior em insones.
A combinação de sonolência e
fadiga está associada a um maior
risco de acidentes com veículos.
(FABIANE LEITE)
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