Na região onde se concentram os bares de São Paulo, "personal drivers" rebocam o carro até a casa da pessoa que bebeu

As seguradoras de veículos já oferecem desde reboque até motorista para os clientes que correm risco de serem pegos no bafômetro

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO

O publicitário Felipe Aguiar não está nem aí para a lei seca.
Quando chega o fim de semana, pega a namorada e vai de carro zero quilômetro bebericar nos bares da Vida Madalena (zona oeste de São Paulo). Ele, doses de uísque; ela, taças de espumante e coquetéis de vermute.
Na volta para casa, nenhum dos dois dirige depois de beber. Eles chamam um chofer que fica por ali mesmo, de porta em porta, e por R$ 20 têm um motorista sóbrio para levá-los.
O tal condutor, que se diz "personal driver" e se veste a caráter, de terno inglês, colete, gravata, chapéu e tudo, é um dos tantos serviços de traslado, por assim dizer, que incluem até caminhão-guincho, agora disponíveis na noite para driblar a proibição ao consumo de bebidas alcoólicas e a direção.
"No começo, não sabia como fazer. Agora, eu bebo sim. E esse serviço é muito mais conveniente e barato do que voltar de táxi", diz Aguiar.
O negócio, chamado de "seu Jarbas", começou há três semanas, decorrente da lei seca. Às sextas e aos sábados, são 40 serviços de traslado, em média.

Miss Daisy
Com idade média de 50 anos, os "personal drivers" são treinados em cortesia e bons modos para, por exemplo, abrir e fechar a porta do carro para os passageiros e não conversar se o cliente não puxar papo, no melhor estilo "Conduzindo Miss Daisy".
E os passageiros que beberam ficam tão à vontade com os "personal drivers", diz Guilherme Martins, um dos idealizadores e sócio do negócio, que até pedem para tirar fotos.
Hoje com 20 motoristas, a empresa, que atende na região da Vila Madalena, pretende expandir o serviço para Moema e Vila Olímpia, outros bairros boêmios e de baladas.
"Quem contrata são jovens que não querem se queimar com os pais e aproveitar a balada", diz um dos "Jarbas".
E o que parecia tormento hoje é solução. Para permitir que seus clientes se divirtam à vontade e não sejam flagrados pela lei que ampliou a punição aos motoristas que dirigem depois de beber, seguradoras criaram serviços especiais, como o de caminhões-guincho que rebocam o carro até a casa de quem bebeu.
Clientes da Porto Seguro, por exemplo, podem acionar o guincho se estiverem com medo de um flagrante após beber demais. Basta ligar para uma central de atendimento 24 horas. Em cerca de 20 minutos o guincho chega e reboca o veículo para casa. O motorista é transportado na cabine e ainda ganha um lanche.
Esse serviço já era oferecido em caso de quebra do veículo, mas, desde 1º de julho, foi adaptado para atender aos clientes que querem escapar da lei seca. Por enquanto, em todo o país, apenas cerca de 40 segurados usaram o serviço.

Assistência
Segundo a seguradora, são oferecidos três tipos de assistência. As duas mais simples -básica e intermediária- permitem que o cliente use o guincho apenas uma vez por ano. A mais completa não limita o uso do serviço: o caminhão-guincho pode ser acionado quantas vezes o cliente quiser.
O preço do seguro depende das características do veículo, da cidade e do bairro onde ele permanece por mais tempo e das características do principal usuário. O seguro básico de um Gol zero quilômetro, modelo novo, que permanece na cidade de São Paulo, custa de R$ 1.200 a R$ 3.000, conforme a região e o perfil do motorista.
A SulAmérica, por sua vez, oferece o serviço Motorista Amigo: o cliente que não quiser dirigir aciona a central de atendimento e a seguradora envia um motorista até o local. O funcionário dirige o carro até a casa do segurado, que é entregue são e salvo -e sem multa. Esse serviço está disponível para quem contratar dois tipos de planos de assistência 24 horas, classificados como 3 e 4. O plano mais básico, de número 2, não inclui o Motorista Amigo. A seguradora não informou quanto é acrescido ao valor do seguro para contratar os planos 3 e 4 nem qual é o valor do seguro básico de um carro.
O serviço Motorista Amigo pode ser usado duas vezes por ano, se o cliente for homem. Já o seguro Auto Mulher, exclusivo para o sexo feminino, permite que o auxílio seja solicitado até cinco vezes por ano.


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