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DANUZA LEÃO
O que será que será
O desejo é misterioso, mais
forte do que o amor e a paixão, e quando brota, as pessoas se
transformam.
Os que se desejam não conseguem se olhar nem se falar de maneira natural e preferem, quando
estão num mesmo lugar, ficar
longe um do outro para que não
haja entre eles nenhum contato
físico, mesmo o mais inocente.
Mas quando os olhares se cruzam, o ímpeto é de atravessar a
sala, segurar a mão da pessoa desejada e sair com ela pelo mundo,
seja para o que for.
Quando o desejo é muito forte
-e desejo fraco não é desejo-,
as pessoas, mesmo quando sós, ficam trêmulas e mudas. O desejo
não deixa espaço para palavras e
muito menos para risos. Não há
humor no desejo, ele é sério; muito sério.
Diante do desejo, tudo desaparece: não existe nem mesmo sentimento entre pessoas que se desejam -nem precisa. No momento
em que ele se instala, tudo desaparece e quem deseja com intensidade é capaz de todas as infâmias: de roubar, de trair, de matar. Os possuídos pelo desejo mentem despudoradamente, isso
quando conseguem: só é possível
mentir quando ele ainda não é
tão forte, pois quando se torna
avassalador, nem mesmo o melhor ator consegue disfarçar e fingir que ele não existe.
Quem está perto de duas pessoas que se desejam muito capta o
que está acontecendo, e se sentem
desconfortáveis, com a sensação
de serem seres vazios, inúteis e supérfluos no universo. São as pessoas que não conhecem o desejo
as que mais defendem a moral e
os bons costumes; no fundo, apenas por inveja de não estarem
sentindo a mesma coisa.
Não é o amor que move o mundo, mas o desejo, e se os humanos
se desejassem mais não haveria
tanta luta pelo dinheiro, pelas grifes, festas, jóias, pelo poder. Talvez nem mesmo as guerras existiriam; quem vive o desejo não pensa em outra coisa.
Os muito jovens desejam com
muita facilidade muitas pessoas
ao mesmo tempo, mas isso não
tem nada a ver com o desejo verdadeiro, aquele intenso, maior do
que tudo. Aquele desejo que faz
com que se arrisque a vida para
passar uma hora com a pessoa
que se deseja muito. E que ninguém venha falar em nome da família, da religião, das convenções; o desejo não respeita nenhuma lei, e para os que desejam, é
imoral e injusto não poder estar
com a pessoa desejada o tempo
todo.
Quanto mais difícil de ser realizado, mais forte costuma ser o desejo, que freqüentemente é confundido com amor ou paixão. Ele
dura pouco, e é doloroso, depois
que passa, ver duas pessoas que se
consumiram tanto uma pela outra se encontrarem casualmente
em algum lugar, sem lembranças
nem saudades.
É o desejo -com licença, Chico- que faz com que "todos os
meus nervos estão a rogar e todos
os meus órgãos estão a clamar"
e é ele que "não tem vergonha
nem nunca terá, porque não tem
juízo".
O desejo não vive de recordações nem de planos, nem de passado nem de futuro; ele só vive no
presente, é sempre urgente, e nunca ninguém soube explicar como
e por que ele surge, nem como
nem por que ele desaparece.
Mas enquanto ele existe, é a força mais poderosa do mundo.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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