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DANUZA LEÃO
Virando pelo avesso
Dentro de 50 dias teremos
um novo governo; já se sente
um cheiro de mudança no ar,
mas como bem disse Chico Buarque, se você não mudar o Brasil
não muda. Então aproveite, porque o tempo ruge.
Passe a valorizar coisas que antes nem via e deixe de lado outras
sem as quais achava que a vida
não tinha nenhuma graça. Não
tenha medo: mudanças renovam
o espírito, rejuvenescem e fazem
bem à alma.
Comece a praticar: no lugar de
ficar fissurada naquele jeans de
grife que custa uma fortuna, capriche mais no charme. Talvez assim você faça menos sucesso com
alguns amigos, mas isso não tem
a menor importância: ou eles
também mudam ou ficarão inteiramente fora de moda -e não é
isso que sempre te interessou?
Valorize o que é nosso, e nas
próximas férias vá conhecer Belém. É uma cidade linda, com casas deslumbrantes, ruas sombreadas por mangueiras que, dependendo da época, estarão carregadas de frutas. A gastronomia é
das mais requintadas, e na hora
das compras -viagem sem compras não existe- os perfumes
exóticos vão embriagar mais o
seu olfato do que todos os Chanel
nš 5 do mundo. E o melhor: de
graça, praticamente.
As grifes estrangeiras passam a
fazer parte do passado, e se você
comprar um sapato made in Brazil, além de estar economizando
dólares, estará fortalecendo a indústria nacional -o que significa mais empregos- e ajudando a
equilibrar as contas públicas. E
ainda vai ficar no auge da moda,
não é o que sempre quis?
No dia em que você ouvir a palavra mercado e não pensar no
preço do dólar nem no maldito
índice Nasdaq mas sim no mercado hortifrúti, onde se compram
mangas, goiabas, cajus, batata
doce e aipim, sua vida será infinitamente mais feliz, acredite. E
quando alguém pronunciar a palavra bolsa, pense naquela linda
que você viu numa loja; esqueça,
pelo bem de sua saúde mental,
que houve um dia em que bolsa
era só a de valores -que maldição. Quando isso acontecer, os assuntos nas mesas de bar, onde se
beberá mais chope e menos
champanhe, serão mais leves,
mais suaves, mais alegres.
Se algum playboy convidar você
para passar um fim de semana
em Angra -de helicóptero-, recuse. Sua reputação vai ficar não
com uma mancha, mas com uma
nódoa, daquelas que não saem
nem com benzina. E aproveitando: já que Ronaldo, o fenômeno
-que não perde uma de fazer
seu marketing-, se ofereceu para
ajudar no projeto para combater
a fome, que ele seja mais generoso
e contribua com parte da grana
preta que ganhou no comercial
daquele celular.
Contribuir só com a imagem,
para quem tem tanto dinheiro, é
piada. A onda musical vai passar
por sérias transformações: saem
os ritmos modernos, aqueles que
quem passou dos 17 não conhece
nem o nome, e entram os forrós, o
pagode e o samba nos lugares badalados da cidade -que aliás
vão ser outros.
Pessoas vão sair de moda, outras vão entrar, os cabelos tratados com alisamento japonês não
vão estar com na-da e o bom mesmo vai ser uma cabeça cheia de
cachinhos, cheirando a sabonete
Phebo.
É isso mesmo, Lula: aumente os
impostos sobre os cigarros -assim eu vou fumar menos-, sobre
as bebidas estrangeiras -nossa
cerveja é ótima-, e cobre 5% a
mais na conta de todos os restaurantes, para ajudar no combate à
fome. É justo, 5% não são nada, e
se fizer realmente diferença no orçamento, a gente passa a comer
menos na rua e fica em casa jogando truco. Na hora de pedir a
caipirinha, que ninguém é de ferro, nada de vodca polonesa: peça
a sua com cachaça, como aliás fazem os fotógrafos de moda e as
top models internacionais que
quando visitam o Brasil são tão
paparicados.
O Brasil vai passar a ser moda
aqui também, no dia em que as
pessoas forem avaliadas mais pelo que pensam e fazem do que pela marca de relógio que usam ou
pela etiqueta do tênis, aí sim, terá
acontecido a grande mudança.
E se você quiser fazer parte dela,
a hora é agora.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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