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VIOLÊNCIA
Jovens de classe média alta do Rio se envolveram, nos últimos 20 dias, em sete confusões que acabaram na delegacia
Dinheiro e álcool abastecem brigões cariocas
CLEO GUIMARÃES
FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO
Eles andam em carros do ano e
usam roupas de marca. Vestem-se com os últimos lançamentos
das "surfwears" do Rio -camisas
sem manga, que deixam músculos à mostra, são as preferidas, assim como grossas correntes de
prata que envolvem seus pescoços. São os brigões cariocas. Uma
tribo com dinheiro no bolso e,
após algumas doses de álcool,
muita disposição para brigar, por
mais fútil que seja o motivo.
Das sete confusões que foram
parar nas delegacias do Rio de Janeiro e nas páginas policiais nos
últimos 20 dias, todas envolviam
alguém com esse perfil. Eles rejeitam o rótulo de "pit boys" -uma
mistura de playboy com pit bull, a
raça canina criada para disputar
rinhas e que tem atacado muita
gente. Quando são detidos pela
polícia, alegam ser as vítimas e
não os agressores.
"Nunca tinha brigado, sou supertranqüilo. Eu e meu irmão somos advogados e empresários.
São 20h e eu ainda estou no escritório vendo um contrato", disse à
Folha o advogado Raphael Domenech, 27, na terça-feira. Quatro
dias antes, Victor, 24, e Raphael
viram o dia amanhecer na 14ª Delegacia de Polícia. Os seguranças e
o gerente Demien Redü, da boate
Nova, em Ipanema, disseram ter
sido agredidos pela dupla.
"Compraram a versão dos seguranças. Fomos agredidos e nos
tornamos agressores", disse Raphael. O gerente alegou, em seu
depoimento, que os jovens estavam bêbados e incomodavam as
mulheres freqüentadoras da casa.
Violência
Desentendimentos, brigas em
festas, rixas. Nada disso é novidade. O que preocupa pais, mães,
polícia e especialistas em comportamento humano é a banalização
de atos violentos praticados por
jovens de classe média alta quase
sempre por motivos fúteis.
"Briga entre jovens sempre existiu, por causa da própria juventude, dos hormônios", diz Tânia Zagury, formada em filosofia e mestre em educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
"Mas antes elas aconteciam por
motivos mais sérios. Era menos
violento, e as pessoas tinham um
certo temor da punição."
No caso do estudante de comunicação Paulo Roberto Curi, 20, o
volume do som de uma festa num
condomínio da Barra da Tijuca
foi o motivo de uma briga que envolveu cerca de 30 pessoas e terminou com três esfaqueadas.
Paulinho -como é chamado
pelos amigos- foi preso por tentativa de homicídio e levado para
a carceragem da Polinter, na zona
portuária, onde ficou preso ao lado de mais 80 homens. As tardes
de surfe na praia da Barra e as idas
a boates e points de "mauricinhos", como Hard Rock Café e
Rock in Rio, ficaram fora de sua
rotina.
"Ele tem muita grana, muita
grana", diz um amigo de infância
que pede para não ser identificado. Pratica esportes radicais, viaja
com freqüência para o exterior
-"outro dia mesmo foi surfar na
Costa Rica"- e estuda numa faculdade particular. Mais ou menos como os recentes envolvidos
em confusões no Rio.
Ex-namorada de Curi, a estudante de engenharia da PUC Ana
Carolina se disse surpresa: "Comigo ele sempre foi um amor".
Preocupados com as freqüentes
brigas que vêm afugentando os
clientes "do bem", bares, boates e
casas noturnas do Rio prepararam o contra-ataque. Na entrada,
colocaram parrudos seguranças e
recepcionam os clientes com detectores de metal. São pelo menos
três em cada uma delas.
Mulheres -escolhidas aleatoriamente- têm a bolsa revistada.
Na Baronetti, as mais novas aquisições da casa são lanternas com
luzes azuis que conseguem deixar
visível a marca d'água de documentos. Tudo para evitar menores de idade e falsificações, o que
nem sempre acontece.
"Eu entrei com uma identidade
falsa", contou, às gargalhadas,
Alessandra Basilio, de declarados
23 anos. Em seguida, ela, que dividia uma mesa com três amigas na
Baronetti tenta se corrigir: "não é
falsa, é xerox". E a lanterninha de
luz azul não reparou no detalhe.
Em outra mesa, os paulistas
Dennis Dalarico, 23, e Milena
Breitenvieser, 23, disseram ter
achado "estranho" não terem sido revistados. "Em São Paulo, me
revistam em qualquer barzinho
que eu vá", disse Dalarico.
Dentro das boates, jovens bem
vestidos e com disposição de gastar até R$ 70 na entrada e R$ 18
numa taça de prosecco dançam
na pista ao som de refrãos como
"eu desenvolvo e evoluo com meu
pai", de Marcelo D2 - o ídolo
atual da classe média alta carioca.
Numa mesa no escurinho, a estudante Carolina Tostes, 20, explica seu gosto por homens fortes,
viris, com visual de lutador. "É lógico que o corpo deles é uma "parada" que me atrai", contou. "É o
que mais me atrai, aliás", disse ela,
que se sente "protegida" ao lado
de um fortão. Amiga de Carolina,
a estudante de medicina Flávia
(que pediu para não revelar seu
sobrenome) diz pensar exatamente o contrário. Sente-se insegura ao lado de um valentão.
"Ontem eu fiquei com um moleque", contou ela, "que ameaçou
um cara só porque ele esbarrou
em mim", disse. "Nada a ver, todo
mundo esbarra. Fiquei até com
medo dele. Eu vejo umas "paradas" dessas e fico até "bolada". Vou
sair com um cara desses de novo?
Não vou", disse, exibindo vasto
vocabulário de gírias cariocas.
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