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SAÚDE
Problema, que causa mais comprometimento da qualidade de vida que o diabetes, não é "natural" da velhice
Incontinência urinária tem solução
DA REPORTAGEM LOCAL
Para não se arriscar, a aposentada Adélia Gloria Goulart, 76, passou a calcular. No cinema ainda
era possível ir. Mas ao show não
dava mais. Era muito tempo sem
um banheiro bem perto.
Quem tem incontinência urinária e não trata vive assim, pela metade, calculando por causa do risco de, em qualquer lugar, aparecer a vontade incontrolável de fazer xixi e o corpo não agüentar.
"Fui alterando minha vida", diz a
aposentada, que mora no Rio.
Famílias chegam a internar seus
idosos em asilos por causa da disfunção, diz o uroginecologista
Manoel Girão. Acham, erroneamente, que é um problema "natural" do envelhecimento, incurável, que não há como lidar.
A incontinência, ou perda involuntária de urina, atinge principalmente as mulheres e é considerada hoje uma das disfunções que
mais causa comprometimento da
qualidade de vida. Ganha do diabetes, só perde para a depressão,
afirma o urologista José Alaor de
Figueiredo, doutor e assistente da
Clínica de Urologia do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. "Até seria natural,
se não houvesse tratamento."
"A verdade é que raramente há
situações em que não têm jeito",
diz Girão, chefe do Departamento
de Ginecologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Segundo o urologista Miguel
Srougi, professor titular da Unifesp, levantamentos feitos no Brasil mostram que até 40% das mulheres com incontinência importante não procuram ajuda. Muitas
vezes, só falam ao médico se questionadas. "Boa parte por achar
que não tem solução."
Estudos internacionais, confirmados recentemente por levantamentos feitos no país, apontam
que a incontinência atinge cerca
de 15% da população feminina, da
adolescência à terceira idade, e
que o problema se agrava à medida que o tempo passa.
Na pré-menopausa atinge aproximadamente 20% das mulheres,
percentual que pode chegar a 50%
na pós-menopausa, explica Girão.
Exercício, correções cirúrgicas,
medicamentos são algumas alternativas de tratamento, dependendo do tipo de incontinência, segundo o ginecologista.
Existem basicamente dois tipos
da disfunção, a bexiga hiperativa
-em que o paciente tem uma
vontade incontrolável de urinar,
algumas vezes com perda de urina- e a incontinência por esforço. No segundo tipo, a perda se dá
quando há um estresse, como levantar um peso ou até mesmo
uma gargalhada.
Há ainda a possibilidade de os
problemas aparecerem juntos, a
chamada incontinência mista.
Bexiga hiperativa
É desconhecida ainda a causa da
bexiga hiperativa, diz Figueiredo,
mas sabe-se que ocorre um aumento dos sensores que fazem a
bexiga contrair e relaxar, o que a
torna mais suscetível -se antes o
alerta de que estava cheia acontecia com 300 ml de líquidos, passa
a ocorrer com 200 ml, por exemplo. Aqui, só remédios adiantam.
A incontinência por esforço é
caracterizada por uma fraqueza
de um dos músculos da uretra
que ajuda a segurar a urina. É possível corrigir com cirurgia. Alguns
procedimentos podem ser feitos
com anestesia local.
Segundo os médicos, a incontinência atinge menos os homens
porque eles têm uma uretra mais
longa e forte. Além disso, a gravidez contribui para forçar a musculatura da região pélvica, que sofre ainda com a falta de hormônio
feminino durante a menopausa.
Nos EUA, calcula-se que a incontinência cause perdas de R$ 16
bilhões anuais por conta de absenteísmo no trabalho, gastos
com tratamentos e fraldas -cifra
muito próxima a das despesas
com osteoporose, por exemplo.
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