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ENTREVISTA
Grupo estuda expansão de práticas da medicina alternativa no SUS
DA REPORTAGEM LOCAL
Tai chi chuan, lian gong, tui ná
(ginástica e massagem chinesas),
shantala, shiatsu, meditação, antroposofia, fitoterapia. Em breve,
essas atividades não serão mais
restritas a comunidades hippies
nem a centros zens dos melhores
bairros da cidade.
A idéia é que essas medicinas
naturais e práticas complementares sejam incorporadas pelo SUS
-a rede pública de saúde do
país- e que sejam oferecidas a
todos que desejarem, como ocorre com as outras medicinas.
Um grupo de trabalho criado
pelo Ministério da Saúde vem trabalhando desde o ano passado na
elaboração de uma Política Nacional da Medicina Natural e das
Práticas Alternativas. Na primeira
fase, está sendo feito um levantamento de todos os serviços públicos de saúde que já oferecem homeopatia, acupuntura, antroposofia e fitoterapia.
Paralelamente, equipes do Programa Saúde da Família terão técnicos e treinadores em práticas
como yoga e shiatsu. "O levantamento e as propostas ainda serão
encaminhados aos secretários do
ministério e ao próprio ministro
da Saúde", diz Maria do Socorro
Matos, coordenadora de gestão
da atenção básica do ministério. A
intenção é que o ministério possa
vir a bancar os novos profissionais das novas terapias.
Dois grandes encontros com representantes de vários setores
-ONGs, grupos de estudos, prefeituras e secretarias de Estado da
Saúde- já foram realizados sobre homeopatia e antroposofia.
Outros sobre acupuntura e fitoterapia estão sendo preparados.
Quatro diferentes secretarias estão envolvidas nesse processo: a
da Atenção à Saúde, a de Saúde,
Ciência, Tecnologia e Insumos
Estratégicos, a Executiva e a de
Gestão do Trabalho e Educação
em Saúde.
Abaixo, trechos da entrevista
com Maria do Socorro Matos:
Folha - A nova política não pode
ser vista como um retrocesso nos
cuidados em saúde?
Maria do Socorro Matos - Ao
contrário. Embora a antroposofia
não seja reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina, tanto a
medicina natural como as práticas alternativas vêm sendo cada
vez mais adotadas pelos países
desenvolvidos, especialmente no
Canadá e na Europa. A medicina
indiana (a Ayurvética) e a medicina tradicional chinesa vêm, há séculos, contribuindo para a saúde
das populações. A Organização
Mundial da Saúde está cada vez
mais incentivando e recomendando a adoções dessas práticas.
Folha - Uma política de saúde alternativa como essa permite a redução de custos, especialmente
quando se sabe que a consulta terá
de ser mais longa?
Matos - O profissional precisará
de mais tempo para ouvir o paciente, mas os medicamentos custam menos e serão necessários
menos exames e menos encaminhamentos a especialistas. Há
também a economia que se consegue quando se fala dos benefícios da saúde como um todo e da
ação preventiva dessas práticas.
Porém, o mais importante é permitir que o paciente do SUS tenha
acesso a essas possibilidades. A
maioria das práticas hoje está limitada a consultórios e clínicas
particulares. Queremos que o cidadão conheça as alternativas e
possa fazer a sua escolha. Por outro lado, essa medicina e essas
práticas vêm fortalecer os princípios do SUS, de humanização, de
integralidade. O país está definindo as regras sobre a fitoterapia e
os medicamentos fitoterápicos.
Estamos buscando maior segurança para o paciente, mas não
queremos leis que venham limitar
seu uso e impedir ou dificultar
práticas culturais.
Folha - Já há cidades onde a medicina e as práticas alternativas são
bastante usadas.
Matos - Muitas. Em Suzano
(Grande São Paulo), por exemplo,
o lian gong (ginástica terapêutica
chinesa) já é praticado em postos
de saúde. Na favela Monte Azul,
na zona sul de São Paulo, o posto
de saúde emprega a antroposofia.
Em Juiz de Fora (MG), a rede pública usa muito a homeopatia. No
projeto Qualis, de saúde da família, ano atrás, no Estado de São
Paulo, havia hortas medicinais no
quarteirão e as famílias podiam
levar para casa preparados ou folhas para chás.
(AURELIANO BIANCARELLI)
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