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POLÍCIA FORA DA LEI
Infiltração de presos e condenados em ações não foi mencionada, o que compromete documento
Gradi omitiu informações em inquérito
ALESSANDRO SILVA
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Gradi (Grupo de Análise e
Prevenção dos Delitos de Intolerância) omitiu no Inquérito Policial Militar informações sobre a
infiltração de presos condenados
e a presença de dois deles na própria ação que terminou em 12
mortes, em março, em Sorocaba
(100 km de São Paulo). A falta
desses dados compromete o resultado do IPM, que investiga a
existência de crime militar e
transgressão disciplinar.
Em ofício reservado e sigiloso
enviado ao então juiz-corregedor
do Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais) de São Paulo,
Maurício Lemos Porto Alves, no
dia 12 de março -cinco dias depois da ação-, o Gradi confirmou que o planejamento da operação contou com a colaboração
dos presos Gilmar Leite Siqueira e
Marcos Massari.
O tenente H., coordenador do
Gradi, ainda deu detalhes dos cerca de 30 dias da preparação, dos
cinco encontros entre a quadrilha
e os presos infiltrados e chegou a
informar que o detento Siqueira
"pilotava as conversações" com
os membros da quadrilha.
No termo de declaração ao IPM,
no dia 3 de maio -52 dias depois
do envio do ofício-, no entanto,
o coordenador do Gradi não
menciona nenhum desses dados.
Ele fala que soube do suposto assalto a um avião pagador -que
motivou a ação policial- por
meio de informações conseguidas
com criminosos.
Outra diferença flagrante entre
as duas versões dadas pelo Gradi
refere-se a uma Parati que foi vista
na operação. No IPM, o tenente
fala que "passaram pelo local os
veículos leves".
No relato do caso, o coronel Osvaldo de Barros Júnior, encarregado do IPM, cita uma "Parati de
cor prata de placas não anotadas".
"Esse veículo foi apontado por alguns PMs como sendo pertencente ao grupo, estando junto do
comboio, passou pelo bloqueio,
mas nem todos perceberam, tanto que, sendo o primeiro veículo,
passou pelo bloqueio e se evadiu
sem que suas placas fossem anotadas", diz o IPM.
O mistério sobre esse veículo
não existe no ofício encaminhado
pelo Gradi ao juiz-corregedor, em
março. O coordenador esclarece
que a Parati prata fazia parte da
operação policial.
Nela, estavam dois PMs que
também se infiltraram na quadrilha e o detento Siqueira. A placa
do carro também não é identificada nesse documento.
O coordenador do Gradi ainda
informa ao juiz que o detento
Massari também está na ação, em
uma Ipanema vermelha, com
dois outros policiais. Segundo o
ofício, os três serviriam como
"apoio após o bloqueio, para possível reconhecimento".
O papel da escuta telefônica para o planejamento da ação é outra
questão que as contradições entre
as versões do Gradi não ajudam a
esclarecer. No ofício de março, o
coordenador diz que a polícia teve
acesso à quadrilha pelas conversas telefônicas dos presos com os
criminosos ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital) e não
menciona a palavra escuta.
Em depoimentos ao IPM, no
entanto, outros policiais envolvidos afirmam que o comboio foi
descoberto a partir de escutas telefônicas feitas pelo Gradi, com
autorização judicial.
Esse detalhe não é mencionado
no relato da operação feito pelo
encarregado do IPM. Barros Júnior pediu mais prazo para concluir as investigações.
"Não se confirmou o alardeado
grampo que teria originado a descoberta da expedição criminosa
nem existem fitas, transcrições ou
autorização judicial", afirmou o
presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP (Ordem
dos Advogados do Brasil), João
José Sady. Para ele, o ofício de
março reforça a tese de que a operação foi uma "armação para
atrair a atenção da mídia".
O secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, afirmou à Folha, na sexta-feira, que todos os casos envolvendo o Gradi estão em investigação.
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