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Inflamações são a mais nova ameaça para o coração
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Estudos recentes, um deles da
semana passada, estão comprovando a gravidade do mais recente inimigo identificado do coração, as inflamações. Ao longo de
décadas, acreditou-se que a aterosclerose, o entupimento das artérias que pode levar ao infarto do
miocárdio, era um processo decorrente do envelhecimento.
O colesterol alto sempre foi visto como o vilão no apressamento
desse processo. O que se sabe agora é que inflamações, em qualquer
ponto do organismo e muitas vezes sem sintomas, podem ser tão
ou mais prejudiciais que as piores
frações do colesterol.
Segundo os médicos, as inflamações produzem substâncias
químicas que, uma vez na corrente sanguínea, podem precipitar o
rompimento dos depósitos de
gordura dentro das artérias.
O risco é maior ainda quando a
inflamação ocorre nas próprias
placas de gordura ricas em colesterol do interior dos vasos, levando ao rompimento.
"Ao se romper, a placa libera
uma substância vasoconstritora
(que reduz o calibre do vaso sanguíneo), aumentando a adesividade das plaquetas e formando
um trombo (coágulo sanguíneo)
que fechará a artéria", diz Antonio Carlos Palandri Chagas, presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.
Há pelo menos quatro anos os
pesquisadores vêm suspeitando
da ação das inflamações nos episódios cardiovasculares. Um estudo divulgado na semana passada por Paul Ridker, do Boston
Brigham and Women's Hospital,
confirmou que toxinas e citocinas
das inflamações são tão perigosas
quanto o colesterol elevado.
Nos pacientes com histórico familiar de doenças cardíacas, ou
que já tiveram algum evento coronariano, os processos inflamatórios podem agravar as anginas
de peito e apressar os infartos. Para esses pacientes, as inflamações
representariam perigo maior que
o colesterol ruim elevado.
Entre as vítimas fatais de infarto
que não tinham um alto índice de
colesterol, as biópsias revelaram
algum tipo de inflamação.
Proteína C-reativa
Embora a maioria dos processos inflamatórios sejam assintomáticos, sua ocorrência pode ser
detectada por um exame de sangue tão simples quanto o do colesterol. Trata-se de medir os níveis
de uma proteína chamada C-reativa (PCR), que, em doses elevadas no sangue, indica a existência
de inflamações no organismo.
Pesquisas feitas nos Estados
Unidos e na Europa mostraram
que pessoas com níveis de PCR
acima de 0,16 miligrama por decilitro de sangue (mg/dl) estavam
três vezes mais propensas a apresentar problemas cardiovasculares. Já aqueles com altos níveis de
colesterol e de PCR corriam riscos
aumentados de seis a nove vezes.
Embora barato (cerca de R$ 30),
o PCR ainda não foi adotado como exame de rotina pelas sociedades internacionais. Nos EUA, a
maior parte dos médicos já estaria
solicitando o teste.
"O uso preventivo desse exame
ainda não é constante, mas seu
emprego vem aumentando de
dois anos para cá", diz Palandri
Chagas. A Sociedade de Cardiologia ainda não tem um consenso a
respeito, mas a grande maioria
dos especialistas já pede o exame
para pacientes com histórico cardíaco familiar e com colesterol alto. Nos casos de dores no peito, o
exame é sempre indicado.
O tratamento é semelhante ao
prescrito para portadores de colesterol alto: medicações à base de
estatinas, exercícios físicos, alimentação saudável, menos álcool
e cigarro. Como no caso do colesterol, exercícios físicos e alimentação chegam, em muitos casos, a dispensar os medicamentos.
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