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SAÚDE
Medidas do abdômen são importantes para detectar possibilidade de desenvolver diabetes e hipertensão
Gordura na cintura pode causar doenças
BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
O empresário Toni Saporta, 68,
fazia sempre atividades físicas,
não tinha colesterol alto, mas, em
um teste de esforço, descobriu um
problema cardíaco que lhe rendeu cinco pontes de safena. Embora não fosse obeso, tinha 101
cm de cintura e 93 cm de quadril.
As medidas são uma informação importante. Segundo os médicos, o acúmulo de gordura abdominal visceral -muitas vezes
chamado "barriga de cerveja"-
pode causar diabetes e hipertensão arterial e aumentar o risco de
infarto e derrame cerebral.
Esse tipo de gordura -que não
pode ser retirado por lipoaspiração por estar dentro do abdômen- é apontado como a causa
de um conjunto de problemas
chamado síndrome metabólica.
Quem tem a síndrome pode
apresentar, além de diabetes e
pressão alta, alterações das gorduras no sangue: triglicérides aumentadas e HDL (o "bom colesterol") reduzido. O "mau colesterol" (o LDL) pode não sofrer nenhuma alteração.
"Eu nem desconfiava que tivesse problemas", disse Saporta, que
tem a síndrome e agora está tomando remédios e fazendo dieta.
A gordura aumenta o nível de
ácidos graxos livres na circulação
portal (circulação próxima ao fígado) e leva a uma resistência à
insulina. Com isso, para manter
normal a glicose do indivíduo, o
pâncreas é obrigado a produzir
insulina em excesso. Esse processo pode conduzir ao diabetes.
O aumento do nível dos ácidos
graxos pode causar também uma
disfunção do endotélio, que é
uma espécie de capa de revestimento das artérias e produz substâncias relacionadas à dilatação e
à constrição dos vasos. Com a disfunção, a pressão arterial aumenta, e os vasos sofrem alterações
que favorecem sua obstrução.
"Cerca de 50% das pessoas que
desenvolvem doenças cardiovasculares não têm colesterol alto,
mas têm a síndrome metabólica",
declara o presidente da Sociedade
Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia, Amélio Godoy Matos. "Nem sempre a pessoa desenvolve todas as disfunções da síndrome, mas o risco continua."
A deposição de gordura no abdômen é mais comum em homens e está relacionada à manutenção no organismo, em doses
elevadas, de hormônios liberados
em decorrência do estresse crônico. Esse acúmulo não deve ser
confundido com a gordura que se
deposita entre a pele e o músculo
-que é o caso do "pneuzinho".
Medir a cintura é uma maneira
indireta de saber se alguém tem
excesso de gordura visceral. Com
a tomografia computadorizada é
possível obter a medida exata.
"Pelo menos 20 substâncias no
organismo se alteram no contexto
dessa síndrome", afirma o médico Walmir Coutinho, coordenador do Consenso Latino-americano de Obesidade. "E o melhor tratamento é perder cintura."
A síndrome atinge pessoas de
todas as idades. Embora crianças
e adolescentes obesos possam ter
a doença, ela é mais comum entre
os 50 e os 70 anos. A Sociedade
Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia estima que, no país,
cerca de 30% das pessoas nessa
faixa etária tenham a síndrome.
Entre os novos tratamentos para a síndrome está o uso de medicamentos que melhoram o metabolismo da pessoa, diminuindo a
resistência à insulina ou tratando,
ao mesmo tempo, duas ou mais
disfunções. Drogas que abaixam
só o peso ou só a pressão não seriam as mais recomendadas.
Outra opção são os remédios
que aumentam a produção de um
hormônio chamado adiponectina. Esse hormônio, normalmente
produzido pelas células de gordura, protege o endotélio e tem propriedades antiinflamatórias.
O tema será discutido no 9º
Congresso Internacional de Obesidade, entre os dias 24 e 28 deste
mês, em São Paulo, e no Simpósio
Internacional em Obesidade,
Hormônios e Síndrome Metabólica, nos dias 30 e 31, no Rio.
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