São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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SAÚDE

Medidas do abdômen são importantes para detectar possibilidade de desenvolver diabetes e hipertensão

Gordura na cintura pode causar doenças

BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário Toni Saporta, 68, fazia sempre atividades físicas, não tinha colesterol alto, mas, em um teste de esforço, descobriu um problema cardíaco que lhe rendeu cinco pontes de safena. Embora não fosse obeso, tinha 101 cm de cintura e 93 cm de quadril.
As medidas são uma informação importante. Segundo os médicos, o acúmulo de gordura abdominal visceral -muitas vezes chamado "barriga de cerveja"- pode causar diabetes e hipertensão arterial e aumentar o risco de infarto e derrame cerebral.
Esse tipo de gordura -que não pode ser retirado por lipoaspiração por estar dentro do abdômen- é apontado como a causa de um conjunto de problemas chamado síndrome metabólica.
Quem tem a síndrome pode apresentar, além de diabetes e pressão alta, alterações das gorduras no sangue: triglicérides aumentadas e HDL (o "bom colesterol") reduzido. O "mau colesterol" (o LDL) pode não sofrer nenhuma alteração.
"Eu nem desconfiava que tivesse problemas", disse Saporta, que tem a síndrome e agora está tomando remédios e fazendo dieta.
A gordura aumenta o nível de ácidos graxos livres na circulação portal (circulação próxima ao fígado) e leva a uma resistência à insulina. Com isso, para manter normal a glicose do indivíduo, o pâncreas é obrigado a produzir insulina em excesso. Esse processo pode conduzir ao diabetes.
O aumento do nível dos ácidos graxos pode causar também uma disfunção do endotélio, que é uma espécie de capa de revestimento das artérias e produz substâncias relacionadas à dilatação e à constrição dos vasos. Com a disfunção, a pressão arterial aumenta, e os vasos sofrem alterações que favorecem sua obstrução.
"Cerca de 50% das pessoas que desenvolvem doenças cardiovasculares não têm colesterol alto, mas têm a síndrome metabólica", declara o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Amélio Godoy Matos. "Nem sempre a pessoa desenvolve todas as disfunções da síndrome, mas o risco continua."
A deposição de gordura no abdômen é mais comum em homens e está relacionada à manutenção no organismo, em doses elevadas, de hormônios liberados em decorrência do estresse crônico. Esse acúmulo não deve ser confundido com a gordura que se deposita entre a pele e o músculo -que é o caso do "pneuzinho".
Medir a cintura é uma maneira indireta de saber se alguém tem excesso de gordura visceral. Com a tomografia computadorizada é possível obter a medida exata.
"Pelo menos 20 substâncias no organismo se alteram no contexto dessa síndrome", afirma o médico Walmir Coutinho, coordenador do Consenso Latino-americano de Obesidade. "E o melhor tratamento é perder cintura."
A síndrome atinge pessoas de todas as idades. Embora crianças e adolescentes obesos possam ter a doença, ela é mais comum entre os 50 e os 70 anos. A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia estima que, no país, cerca de 30% das pessoas nessa faixa etária tenham a síndrome.
Entre os novos tratamentos para a síndrome está o uso de medicamentos que melhoram o metabolismo da pessoa, diminuindo a resistência à insulina ou tratando, ao mesmo tempo, duas ou mais disfunções. Drogas que abaixam só o peso ou só a pressão não seriam as mais recomendadas.
Outra opção são os remédios que aumentam a produção de um hormônio chamado adiponectina. Esse hormônio, normalmente produzido pelas células de gordura, protege o endotélio e tem propriedades antiinflamatórias.
O tema será discutido no 9º Congresso Internacional de Obesidade, entre os dias 24 e 28 deste mês, em São Paulo, e no Simpósio Internacional em Obesidade, Hormônios e Síndrome Metabólica, nos dias 30 e 31, no Rio.



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