São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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VIOLÊNCIA

Percussionista Paulo Negueba já é o segundo do grupo que foi baleado

Tiroteio fere músico de O Rappa

DA SUCURSAL DO RIO

O percussionista da banda O Rappa, Paulo Sérgio dos Santos Dias, o Paulo Negueba, 21, foi baleado no pé, perna e costas na sexta-feira à noite, durante tiroteio entre a polícia e cerca de 30 traficantes na favela de Vigário Geral (zona norte do Rio), onde mora.
Atingido por três tiros, Negueba foi operado no hospital Getúlio Vargas, na Penha (zona norte). Depois disso, foi transferido para o hospital Copa D'Or (zona sul), que, no início da noite de ontem, divulgou boletim médico afirmando que o músico sofreu fratura da perna direita, mas que está lúcido, com boa circulação sanguínea e apresentou resultados satisfatórios nos exames.
Na tarde de ontem, a governadora Benedita da Silva (PT) exonerou o comandante do Batalhão de Operações Especiais da polícia (Bope), coronel Venâncio Moura, por causa da operação na favela. Mais tarde, Benedita visitou Negueba no hospital. Segundo ela, a ação da PM foi "malsucedida" e será investigada. Além de Negueba, duas pessoas ficaram feridas e uma morreu no tiroteio.
Negueba é o segundo integrante da banda a ser baleado. Em novembro de 2000, o baterista Marcelo Yuka levou um tiro e ficou paraplégico ao tentar evitar que uma mulher fosse assaltada.
O percussionista, que faz parte da banda de apoio de O Rappa, saía de casa para participar de um show do grupo em Queimados (Baixada Fluminense) quando foi atingido. Os outros feridos foram Rogério Rodrigo dos Santos, 18, e Élcio Pereira do Nascimento, 40.
A vítima que morreu havia sido identificada apenas como Joel até a noite de ontem. Segundo a polícia, seria um traficante.
Marcelo Yuka conversou com Negueba pouco antes da cirurgia. Ele disse que, segundo os moradores, a polícia "entrou na favela atirando". "Ele saiu do carro para dizer que não era bandido. Não teve tempo de falar nada", declarou Yuka.

Vingança
O relações-públicas da PM, tenente-coronel Luís Antônio Corso, divulgou nota afirmando que o Bope foi para Vigário Geral depois de receber uma denúncia anônima de que traficantes iriam sair da comunidade para matar PMs em vingança às mortes dos traficantes Maurício de Lima Matias, o Boizinho, e Ricardo Victor dos Santos, o Cuco. Eles morreram na última quinta.
Segundo a PM, os policiais não teriam entrado na favela atirando, e os traficantes teriam apagado as luzes para dificultar a operação.
A polícia tem feito incursões frequentes na favela em busca do traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, acusado de ser o principal suspeito do assassinato do jornalista Tim Lopes.
Ontem, a polícia prendeu, na favela Vila Cruzeiro (Penha), o traficante Silmar Martins Filho, o Mazinho. Segundo os policiais, ele pertence a quadrilha de Elias Maluco.
A família do cantor, que mora em Vigário Geral, não quis comentar o incidente. Até 2000, Negueba era integrante da banda AfroReggae -formada em 1993, depois de uma chacina na favela ter deixado 21 moradores mortos.
Jaqueline de Andrade Luiz, 21, filha de Élcio Nascimento (que levou dois tiros nas costas), reclamou da ação da polícia e disse que a PM "sempre chega atirando".
"Chegaram aqui por volta das 23h. Alguém me avisou que meu pai havia sido baleado e eu corri para ver o que estava acontecendo. Tinha muita gente na rua, e todos estavam assustados", contou.
O delegado substituto da 38ª DP (Delegacia de Polícia), Daniel Goulart, disse que irá apurar se houve "excesso" do Bope.



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