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RETRATOS DO BRASIL
Segundo IBGE, de 91 a 2000 houve crescimento significativo da quantidade de homens que cuidavam dos filhos
Censo aponta aumento no número de pais solteiros
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O clichê de que "não basta ser pai, tem que participar", popularizado em uma campanha publicitária na década de 80, vai aos
poucos sendo seguido mais à risca no Brasil. Dados do censo do
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que
de 1991 a 2000 houve um aumento
de 74,5% no número de pais que
cuidavam sozinhos dos filhos nos
domicílios brasileiros.
São pais solteiros, desquitados
ou viúvos que, por força das circunstâncias ou por opção, tentam
acumular as funções de pai e mãe
ao mesmo tempo.
Eles cresceram em ritmo mais
acelerado no período que as mulheres na mesma situação, que tiveram aumento, também significativo, de 58,8%.
"Há uma mudança na postura
do homem. Além da paternidade,
os pais querem viver essa "paternagem", ou seja, ter uma relação
mais calorosa e amiga com os filhos. Há até homens querendo
adotar crianças. Depois da grande
revolução da independência feminina, eles ficaram mais perdidos e estão encontrando um novo
caminho", afirma a demógrafa Elza Berquó, do Núcleo de Estudos
de População da Unicamp.
"Esse novo homem que começa
a aparecer é mais generoso, aberto e rompe com a assimetria tão
negativa das relações de gênero",
diz a demógrafa.
Apesar de os elogios ao "novo
homem", Elza lembra que ele
continua sendo raridade. "Em geral, numa gravidez, quem segura
a barra é sempre a mulher, e não o
homem", afirma ela.
O censo do IBGE mostra que
apenas 15,6% do total de chefes de
família sem cônjuge e com filhos
são homens. Em 1991, eram
14,4%. Entre todos os chefes de família, os homens nessa situação
representam apenas 3,4% (1,1 milhão de brasileiros). Em 1991,
eram 2,3% (655 mil).
Questão de costume
Na estatísticas desses parcos -
mas crescentes- 3,4%, se encontra o fotógrafo Henrique Alvarenga de Andrade, 42, que desde 1998
mora com duas das três filhas.
"Foi uma mudança enorme na
minha vida. Eu estava morando
sozinho havia seis ou sete anos e já
estava acostumado. Tive que mudar minha rotina e me acostumar
com a casa cheia de novo", conta
Andrade.
Apesar de alguns contratempos,
ele diz não ter se arrependido:
"Morar com elas era algo que eu
queria há muito tempo, desde que
elas viajaram para os Estados
Unidos e ficaram quatro anos lá.
Quando elas viajam e fico sozinho, eu morro de saudade."
A filha mais velha, Catarina Andrade, 21, diz gostar de morar
com o pai, mas conta que também
teve de se acostumar.
"Morei a vida inteira com a minha mãe. A principal diferença é
que ela me mimava mais, fazia
sanduíches, sabia qual a marca de
absorvente que eu gosto e queria
sempre saber onde eu estava.
Com meu pai, eu tenho que me virar mais sozinha", diz.
Catarina afirma que o pai não
tem problemas de relacionamento com os namorados. Andrade,
no entanto, diz que a recíproca
não é verdadeira.
"Elas são um pouco ciumentas
com relação às minhas namoradas e às vezes criam caso. Mas eu
sempre digo que não vou abrir
mão do que é meu."
Elza Berquó mostra que, pelas
estatísticas, o ciúme do filho com
o namorado da mãe é um caso
mais raro.
"Enquanto a maioria dos homens que moram com filhos e
sem cônjuge são viúvos, entre as
mulheres, o número maior é de
divorciadas. Na separação, a
guarda ainda costuma ficar mais
com as mulheres, que têm mais
dificuldade de encontrar um parceiro a partir dos 35 anos do que
seus ex-companheiros."
A pesquisadora diz perceber, no
entanto, um aumento no número
de casos de homens que lutam pela guarda dos filhos.
Ela afirma que uma das explicações para o fenômeno do aumento de pais e mães solteiros com filhos é o fato de os casamentos terem cada vez menor duração, o
que faz com que as crianças passem a morar mais cedo com apenas um dos pais.
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