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SAÚDE
Mamadeiras e bicos estão incluídos em determinação, que, segundo ministério, procura incentivar o aleitamento materno
Embalagem de chupeta terá advertência
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois do cigarro, as vilãs da
vez do Ministério da Saúde são as
chupetas e as mamadeiras. Por
determinação da Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária),
as embalagens desses produtos
deverão conter a partir de agora
os seguintes dizeres:
"O Ministério da Saúde adverte:
a criança que mama no peito não
necessita de mamadeira, bico ou
chupeta. O uso da mamadeira, bico ou chupeta prejudica a amamentação e seu uso prolongado
prejudica a dentição e a fala da
criança."
A decisão causou revolta entre
os fabricantes dos produtos e dividiu opiniões de fonoaudiólogos
e ortodontistas. A maioria dos especialistas considera a advertência do ministério exagerada.
A Anvisa discorda dessa avaliação e afirma que a norma atende a
recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e visa o
incentivo ao aleitamento materno
exclusivo nos seis primeiros meses de vida.
Ninguém discute o fato de que
sempre se deve priorizar o aleitamento materno, mas, em situações em que isso não é possível, os
especialistas garantem que o uso
orientado da mamadeira e da
chupeta não são prejudiciais.
"Estão querendo transformar a
chupeta em droga. Para nós, isso é
uma ofensa", afirma Synésio Batista da Costa, 45, superintendente da Abrapur (Associação Brasileira dos Fabricantes de Artigos
de Puericultura), referindo-se à
semelhança do texto de advertência da chupeta ao estampado nos
maços de cigarro.
Para ele, a Anvisa agiu com "radicalismo dogmático". Segundo
Paulino Araki, 50, gerente-geral
de produtos para a saúde da Anvisa, a decisão da agência foi baseada em "inúmeras pesquisas científicas" e, antes de ser publicada
no "Diário Oficial" da União, foi
submetida a consulta pública.
"Todos os interessados tiveram
oportunidade de se manifestar",
diz. O superintendente da Abrapur afirma que representantes da
associação tiveram mais de 30
reuniões com a Anvisa, em que
foram sugeridas diferentes versões para a redação do texto de
advertência, mas que a agência
não acatou nenhuma delas.
Araki discorda. Ele diz que, por
sugestão das indústrias, a Anvisa
refez um trecho ambíguo do texto
quanto ao prazo para a adequação das indústrias às novas regras.
Os fabricantes terão até fevereiro
de 2003 para se adequarem às determinações do ministério.
Prejudiciais
Na opinião de Maria Thereza
Rezende, presidente do Conselho
Federal de Fonoaudiologia, a advertência do ministério é "forte
demais". De acordo com ela, não
dá para tachar a chupeta e a mamadeira como prejudiciais à dentição e à fala das crianças. "Elas
podem vir a prejudicar, mas isso
depende de vários fatores, inclusive hereditários", afirma. No entanto a fonoaudióloga diz que o
uso da chupeta não deve ir além
dos dois anos de idade.
Segundo a fonoaudióloga Ana
Maria Alvarez, um terço das
crianças com distúrbios da fala
são usuárias de chupeta. Ainda
assim, ela considera tanto o bico
quanto a mamadeira importantes
auxiliares em casos em que as
crianças não dispõem de força suficiente para sugar o peito ou que
têm necessidade emocional de
uma maior sucção.
Para o ortodontista Omar Gabriel da Silva Filho, do Hospital de
Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP (Universidade
de São Paulo) de Bauru, o uso da
chupeta não traz graves problemas à dentição da criança.
Diferentemente da fonoaudióloga Maria Thereza, ele acredita
que os pais não devem interferir
no hábito de a criança chupar
chupeta até os cinco anos. Segundo ele, nessa faixa etária os defeitos e a posição dos dentes podem
ser corrigidos espontaneamente
ou com o uso de aparelhos.
Para ele, a atitude de retirar a
chupeta -pelo medo de defeitos
na arcada dentária- pode causar
sérios problemas emocionais à
criança. Silva considera a resolução da Anvisa "um exagero".
A decisão do ministério não se
limita a advertir sobre os "perigos" das chupetas e mamadeiras.
Ela também proíbe a propaganda
dos produtos em qualquer meio
de comunicação, seja eletrônico,
escrito, auditivo ou visual.
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