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FAMÍLIA
Eles presenteiam quem os cria, mas não conseguem anular a curiosidade de saber quem doou o sêmen que lhes deu vida
Filho gerado por inseminação tem Dia dos Pais "estranho"
DÉBORA YURI
DA REVISTA
O Dia dos Pais é uma data esquisita para a estudante canadense
Olivia Pratten, 20. Embora dê presentes, ela se sente em um quebra-cabeça desconjuntado. Filha legítima de um casal em que o marido
era estéril, Olivia foi gerada com
sêmen de um doador anônimo.
Do pai biológico, tem identificações superficiais, como "cabelos
loiros", "olhos azuis" e "tipo sanguíneo A positivo". "O pouco que
sei sobre ele lembra a ficha policial de um criminoso", diz, por telefone, de sua casa em Nanaimo.
Embora "diferente", sua concepção surgiu de um gesto positivo, uma boa ação. Mas a angústia
pelo "elo perdido" persiste. "Meu
pai já me perguntou: "Não está
contente comigo? Por que ficar
obcecada atrás de outro pai?'", diz
Olivia. "Só quero juntar as peças
do meu quebra-cabeças", explica
ao pai "de direito", Allan Pratten.
Até os 18 anos, o cinegrafista canadense Barry Stevens, 50, vivia
em Winnipeg (Canadá), com pai,
mãe e uma irmã. Quando o marido morreu num acidente, a mãe
contou que ele era estéril e os dois
irmãos haviam sido gerados com
sêmen de doador desconhecido.
Há dois anos, foi com a irmã para Londres, onde a mãe fez a inseminação. Não acharam o doador,
mas acabaram conhecendo um
meio-irmão, um advogado gerado de sêmen do mesmo homem.
A busca dos inseminados não é
como procurar uma figura paterna. "Para a maioria, ele é mais um
amigo, alguém a quem gostariam
de agradecer", diz David Towles,
um dos diretores do banco de sêmen norte-americano Xytex.
"A busca se torna fundamental
quando a pessoa busca a identidade adulta. A mãe representa o lado mais infantil, a dependência.
Ele precisa do pai para amadurecer", diz o psicanalista José Otávio
Fagundes, 60, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
A aeronauta carioca Bárbara*,
36, homossexual, sempre quis um
filho. Achou a opção do doador
desconhecido melhor que recorrer a um amigo. "Queria ver as fotos dos doadores, no Brasil isso
não é possível, o sigilo é absoluto.
Recorri a um banco dos EUA."
Gerado com sêmen de um fotógrafo americano, Breno, de dez
meses, tem à sua espera uma pasta com informações sobre os hábitos, preferências e até uma foto
do seu pai biológico na infância.
"Ele vai saber de tudo e, se quiser
procurá-lo, não vou me opor."
Fantasias e dúvidas ganham estímulo sempre que algo parece
inacessível, diz Luiz Cuschnir,
psiquiatra do Hospital das Clínicas da USP. "Pensar no pai biológico desconhecido amplia uma
indagação possível para qualquer
pessoa: "O que seria de mim se tivesse nascido de outro pai?'"
* Nomes trocados a pedido
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