São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 2003 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PATRIMÔNIO Rachaduras comprometem estrutura do templo, tombado em 66 pelo Estado; Ministério Público abriu inquérito Igreja de Niemeyer ameaça desabar no Rio
FERNANDO MAGALHÃES FREE-LANCE PARA A FOLHA Vítima do crescimento desordenado do Rio de Janeiro, uma igreja projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, 94, corre o risco de desabar. Inaugurada em 1960 pelo então presidente da República Juscelino Kubitschek, a igreja São Daniel Profeta, em Manguinhos, na zona norte do Rio, está hoje cercada por uma favela dominada pelo tráfico de drogas. O péssimo estado de conservação e as rachaduras comprometem a estrutura do templo, tombado em 1966 pelo governo do Estado do Rio. Em abril do ano passado, a Defesa Civil emitiu laudo, afirmando que existe "um processo evolutivo de corrosão na armadura da laje que poderá, com o decorrer do tempo, levar a estrutura ao colapso". O Ministério Público Federal abriu inquérito civil. Nove meses depois, apenas o problema das infiltrações foi resolvido, porque a igreja não tem dinheiro para bancar o restante da obra. "Não temos ajuda do patrimônio nem fundos em caixa para fazer o trabalho", disse Luiz Antônio de Mello, 42, administrador da igreja. Ele vai apresentar a situação ao padre Luiz Antônio Pereira Lopes que está assumindo a igreja. Somente a reforma do teto da capela está orçado em R$ 7.000. Segundo o administrador, o desejo da comunidade era que a igreja fosse restaurada, mas, se não tiver apoio, vai pedir o destombamento da obra. "Assim teremos mais liberdade para trabalhar. O patrimônio não faz nada e só reclama. O próprio Oscar Niemeyer não reconhece a igreja como sendo sua. Ela -a igreja- não aparece nos livros dele. Em último caso, acho que a melhor solução seria o destombamento", afirmou Mello. Niemeyer disse à Folha que não renega a obra. "A igreja foi projetada por mim. No momento, não vejo possibilidade de solução, mas estaria disposto a rever o projeto", afirmou. O presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e cultural (Inepac), Marcus Monteiro, afirmou que o destombamento é complicado e que seria a última alternativa. "A princípio descarto essa hipótese", resumiu. O pedreiro Valdir Rodrigues da Silva, 40, disse que é triste acompanhar a deterioração da igreja. Ele conta que, quando criança, brincava próximo à igreja. "Lembro como se fosse hoje. A igreja era muito bonita", disse. A igreja ficava numa área onde haviam poucas casas. O surgimento da favela aconteceu com a remoção da população de morros da zona sul e norte do Rio. "Principalmente da favela da Praia do Pinto (zona sul) e do Esqueleto (zona norte)", lembra Valdir. Além da má conservação, a igreja sofreu com a perda do conjunto de 14 quadros do pintor Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) que decorava o interior do templo. Os quadros, que retratam a via sacra, foram retirados em 1968. O fato aconteceu dois anos depois do tombamento da igreja feito pela Divisão do Patrimônio Histórico do antigo Estado da Guanabara. De acordo com o Inepac, os quadros pertenciam a Elba Sette Câmara e foram retirados por ela sob a alegação de que havia cupins na igreja. Elba, mulher do então embaixador José Sette Câmara, foi quem teve a iniciativa de construir a igreja. Texto Anterior: Plantão médico: Estudo sugere nova área para injeção intramuscular Próximo Texto: SP restaura antiga sede do governo Índice |
|