São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2008

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40 infecções ocorreram após procedimentos estéticos

Mesoterapia e preenchimento de rugas também podem causar infecções, segundo a Anvisa

Micobactéria é causa de "emergência epidemiológica", afirma a agência; segundo médicos, não há motivos para cancelamento de cirurgias


CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao menos 40 casos de infecção por micobactéria (2% do total) foram registrados no país após procedimentos estéticos, como a mesoterapia e o preenchimento de rugas, segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Há outros três registros dessa infecção -que causa perdas de tecidos, nódulos e feridas que não cicatrizam- após preenchimentos sendo investigados em Minas Gerais desde julho. Esses procedimentos, diferentemente das cirurgias, ocorrem normalmente em clínicas, com aplicação de remédios na pele por agulhas que podem estar contaminadas.
O país vive uma epidemia de infecções por micobactéria. A situação é descrita pela Anvisa como "emergência epidemiológica" nunca vista no Brasil nem no exterior. Desde 2001, houve 2.025 casos em 14 Estados, a maioria após videolaparoscopias abdominais (72%), seguidas por cirurgias pélvicas, ortopédicas e plásticas.
Os casos colocaram em alerta médicos e pacientes e começam a provocar o cancelamento ou a suspensão de cirurgias eletivas, segundo a Sociedade Brasileira de Videocirurgia. Sujeira dos aparelhos e resistência da bactéria aos produtos de esterilização seriam as principais causas da epidemia.
O cirurgião Antonio Bispo, secretário-geral da entidade, afirma que pacientes com cirurgias agendadas têm ligado para seus médicos aflitos com a situação. "Eles querem garantias de que não vão se infectar."
Segundo ele, não há motivos para cancelamento em massa de cirurgias. "Não faz o menor sentido. A maioria dos hospitais possui processos seguros de limpeza, desinfecção e esterilização dos equipamentos. E naqueles onde houve problemas certamente o que estava errado já foi corrigido."
O mesmo entendimento tem o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, José Tarik. Ele afirma que os surtos de infecção estão localizados e não há razão para alardes.
Segundo ele, a entidade está alertando os cirurgiões plásticos a checarem seus equipamentos e avaliarem se é necessária a troca das cânulas.
Esse instrumento, usado nas lipoaspirações, serve para sugar a gordura. Se estiver muito velho, a bactéria pode se alojar nas ranhuras, ficando imune ao processo de esterilização.
Há uma semana, o governo do Espírito Santo decidiu suspender as lipoaspirações no Estado em razão de casos de infecções por micobactéria durante esse procedimento.
Tarik explica que a maioria dos médicos tem os próprios equipamentos, mas a esterilização fica a cargo dos hospitais. "Estamos os orientando a ficarem mais atentos a esse processo dentro dos hospitais."
A lipoaspiração é a cirurgia plástica mais realizada no Brasil. "Desde que foi introduzida há 30 anos, não há, na literatura médica, relatos que comprovem sob o ponto de vista estatístico que a incidência de infecção em lipoaspiração ultrapasse as relatadas em qualquer outro procedimento cirúrgico."
A comerciante Luciene Teixeira, que contraiu a bactéria após lipoaspiração no Rio, diz que mal consegue se olhar no espelho. Ela toma há seis meses potentes antibióticos, que atacam o fígado e o estômago. A cicatriz ainda não fechou por completo. Ela processou a clínica e o médico. Para Bispo, da sociedade de videocirurgia, dificilmente há chance de o médico ser condenado. "O médico não sai de casa de manhã pensando em contaminar alguém. Não há intenção ou falha."


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