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40 infecções ocorreram após procedimentos estéticos
Mesoterapia e preenchimento de rugas também podem causar infecções, segundo a Anvisa
Micobactéria é causa de "emergência epidemiológica", afirma a agência; segundo médicos, não há motivos para cancelamento de cirurgias
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao menos 40 casos de infecção por micobactéria (2% do
total) foram registrados no país
após procedimentos estéticos,
como a mesoterapia e o preenchimento de rugas, segundo a
Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária).
Há outros três registros dessa infecção -que causa perdas
de tecidos, nódulos e feridas
que não cicatrizam- após
preenchimentos sendo investigados em Minas Gerais desde
julho. Esses procedimentos, diferentemente das cirurgias,
ocorrem normalmente em clínicas, com aplicação de remédios na pele por agulhas que podem estar contaminadas.
O país vive uma epidemia de
infecções por micobactéria. A
situação é descrita pela Anvisa
como "emergência epidemiológica" nunca vista no Brasil nem
no exterior. Desde 2001, houve
2.025 casos em 14 Estados, a
maioria após videolaparoscopias abdominais (72%), seguidas por cirurgias pélvicas, ortopédicas e plásticas.
Os casos colocaram em alerta
médicos e pacientes e começam a provocar o cancelamento
ou a suspensão de cirurgias eletivas, segundo a Sociedade Brasileira de Videocirurgia. Sujeira
dos aparelhos e resistência da
bactéria aos produtos de esterilização seriam as principais
causas da epidemia.
O cirurgião Antonio Bispo,
secretário-geral da entidade,
afirma que pacientes com cirurgias agendadas têm ligado
para seus médicos aflitos com a
situação. "Eles querem garantias de que não vão se infectar."
Segundo ele, não há motivos
para cancelamento em massa
de cirurgias. "Não faz o menor
sentido. A maioria dos hospitais possui processos seguros
de limpeza, desinfecção e esterilização dos equipamentos. E
naqueles onde houve problemas certamente o que estava
errado já foi corrigido."
O mesmo entendimento tem
o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, José Tarik. Ele afirma que os surtos de infecção estão localizados e não há razão para alardes.
Segundo ele, a entidade está
alertando os cirurgiões plásticos a checarem seus equipamentos e avaliarem se é necessária a troca das cânulas.
Esse instrumento, usado nas
lipoaspirações, serve para sugar a gordura. Se estiver muito
velho, a bactéria pode se alojar
nas ranhuras, ficando imune ao
processo de esterilização.
Há uma semana, o governo
do Espírito Santo decidiu suspender as lipoaspirações no Estado em razão de casos de infecções por micobactéria durante esse procedimento.
Tarik explica que a maioria
dos médicos tem os próprios
equipamentos, mas a esterilização fica a cargo dos hospitais.
"Estamos os orientando a ficarem mais atentos a esse processo dentro dos hospitais."
A lipoaspiração é a cirurgia
plástica mais realizada no Brasil. "Desde que foi introduzida
há 30 anos, não há, na literatura
médica, relatos que comprovem sob o ponto de vista estatístico que a incidência de infecção em lipoaspiração ultrapasse as relatadas em qualquer
outro procedimento cirúrgico."
A comerciante Luciene Teixeira, que contraiu a bactéria
após lipoaspiração no Rio, diz
que mal consegue se olhar no
espelho. Ela toma há seis meses
potentes antibióticos, que atacam o fígado e o estômago. A cicatriz ainda não fechou por
completo. Ela processou a clínica e o médico. Para Bispo, da
sociedade de videocirurgia, dificilmente há chance de o médico ser condenado. "O médico
não sai de casa de manhã pensando em contaminar alguém.
Não há intenção ou falha."
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