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EDUCAÇÃO
Disputa interna no PT entre duas correntes pedagógicas seria a causa da lentidão na implantação do programa
Projeto contra analfabetismo não decola
ARMANDO PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Três meses depois, o projeto de
combate ao analfabetismo
-uma das estrelas do governo
Lula- não decolou.
Educadores, secretários municipais da área, congressistas de
dentro e de fora do PT consideram que há lentidão -alguns falam em "imobilismo".
Integrantes do partido duvidam
até da viabilidade de educar 20
milhões de analfabetos em quatro
anos, como propôs o governo.
Até o MEC (Ministério da Educação) fez uma alteração sintomática no nome do programa. Era
Analfabetismo Zero. Passou a ser
Brasil Alfabetizado.
Todos apontam como fator responsável dessas dificuldades a falta de diretrizes claras sobre como
será o programa.
Correntes opostas
Uma disputa interna no partido
entre duas correntes pedagógicas
teria sido a causa de tudo. Havia
divergências sobre qual método
de ensino escolher.
Um dos modelos era o defendido pela ex-deputada federal Esther Grossi (PT-RS), que usa professores profissionais e promete
alfabetizar em três meses.
O outro era o Mova (Movimento de Alfabetização), usado, por
exemplo, pela prefeitura petista
de São Paulo. Alfabetiza no período de seis meses a um ano e usa
monitores leigos.
Para não criar atritos, o ministro Cristovam Buarque escolheu
um engenheiro agrônomo, em
vez de um educador, para a Secretaria Extraordinária de Erradicação do Analfabetismo.
A idéia era evitar o favorecimento de uma corrente ou de outra. A ordem do ministro foi utilizar todos os modelos possíveis de
alfabetização.
Todos elogiam a disposição do
ministério em apoiar experiências já realizadas.
Falta de iniciativa
O problema é que nenhuma
ação nova foi implantada por iniciativa do governo federal. O
MEC promete assinar os primeiros convênios só nesta semana
(veja texto nesta página).
"Hoje é um imobilismo, um tudo-vale", diz Liana Borges, mestre
em educação e integrante da Comissão de Assuntos Educacionais
do PT. Borges defende a adoção
do Mova.
"O Mova tem dado certo nas experiências de administrações petistas. O que o governo federal está fazendo é passar uma borracha
em cima dessa experiência. E por
isso há uma certa rebelião política
e pedagógica [no partido]."
Para a educadora, é importante
"dialogar com todo mundo, respeitar e acolher todas as experiências", mas não pode deixar de haver definições.
"O Estado tem de ser indutor da
política de educação de adultos.
Tem de ter política pública, porque senão o movimento [de alfabetização" não vai acontecer."
Ela diz que a meta de alfabetização total em quatro anos deve ser
perseguida, mas é "impossível"
de ser atingida.
A avaliação de que falta iniciativa do MEC é compartilhada pela
outra ponta dessa disputa.
A professora Esther Grossi, defensora da metodologia que promete alfabetizar em três meses,
afirma que falta articulação ao
ministério.
"Atualmente, o MEC trata de
atender as demandas, mas não está sendo ele mesmo um articulador e um tomador de iniciativas",
declara Grossi.
Ela elogia o apoio dado aos diferentes projetos, diz que se sente
no governo, mas faz reparos.
"Quando não há uma iniciativa
[do governo], há alguns professores fazendo [alfabetização", mas
não chega a ser concatenado, articulado", afirma.
Otimismo cauteloso
Mesmo quem está otimista com
o futuro do programa admite que
há atraso. É o caso do deputado
federal Chico Alencar (PT-RJ),
membro da comissão de Educação da Câmara.
"Ainda não foram realizados fóruns nacionais para a implementação da política pública de alfabetização. Por enquanto, estamos
numa fase preliminar. Daqui a
uns dois meses, acho que a gente
vai ter vários pólos funcionando."
A deputada federal Raquel Teixeira (PSDB-GO), também da comissão de Educação da Câmara,
diz que está otimista, mas avalia
que, por enquanto, há uma "paralisia" no MEC e "nenhum programa do ministério está em pleno
funcionamento".
A socióloga, pesquisadora da
Unesco e integrante da Comissão
Nacional dos Fóruns de Educação
Eliane Ribeiro Andrade avalia que
a demora do programa não é tão
grande. "Sei que estão correndo o
Brasil inteiro para organizar esses
convênios."
Mas a socióloga também sente
falta de uma diretriz federal. "Estamos aguardando a política pública para a educação de jovens e
adultos no país. Qual é essa política?", questiona.
Vera Masagão, coordenadora-geral da ONG Ação Educativa, de
São Paulo, reforça a necessidade
de uma política geral.
"Acho que o ministério não deveria descer ao detalhe técnico de
definir um método [de alfabetização], mas poderia elencar alguns
princípios para nortear. Nesse
sentido, de alguns parâmetros,
acho que de fato está faltando."
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