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SAÚDE
Combinação de psicoterapia com uso de medicamentos obtém melhores resultados em pesquisa nos EUA
Ação conjunta é eficaz contra depressão
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma pesquisa divulgada na semana passada nos Estados Unidos tornou cientificamente comprovado o que já era aceito como
uma prática bem-sucedida no
dia-a-dia das clínicas e consultórios que tratam pacientes jovens
acometidos de depressão.
Trata-se de um estudo atestando a eficiência da combinação do
emprego de antidepressivos com
a aplicação de psicoterapia em
crianças e adolescentes.
O estudo, patrocinado pelo Instituto Nacional de Saúde Mental
dos EUA, foi conduzido por Graham Emslie, professor de psiquiatria do Centro Médico da Universidade do Sudoeste do Texas, e teve excelente acolhida por parte da
comunidade médica e científica
do país, pelo universo pesquisado
e pelos resultados obtidos.
O trabalho -que durou seis
anos e custou cerca de R$ 51 milhões- envolveu 439 adolescentes, de 12 a 17 anos, que tinham
depressão moderada ou grave.
Eles receberam o medicamento
Prozac (fluoxetina) e/ou atendimento de psicoterapia, denominada comportamental cognitiva.
Depois de 12 semanas, os pesquisadores constataram que 71%
dos pacientes que tomaram Prozac e fizeram terapia responderam bem ao tratamento, comparados com 61% dos que receberam apenas Prozac, 43% dos que
fizeram só terapia e 35% dos que
tomaram placebo.
Maus pensamentos
A terapia cognitiva comportamental é uma abordagem psicológica desenvolvida pelo norte-americano Aaron Beck especificamente para o tratamento da depressão. Tenta refazer os esquemas mentais, os pensamentos
distorcidos -como autodepreciação, medo e pessimismo-, ao
mesmo tempo em que atua na
mudança de comportamento
-combate ao isolamento, à falta
de atividade, à agressividade.
O tratamento tem tempo limitado (16 a 20 sessões) e procura sobretudo conscientizar sobre as características da doença e como
enfrentá-la adequadamente.
O estudo também aponta que
diminuiu o risco de suicídio nos
adolescentes pesquisados, e isso
toca no ponto mais polêmico do
tratamento da depressão com
medicamentos. Recentemente, o
FDA (sigla em inglês para o órgão
que controla alimentos e medicamentos nos EUA) determinou
que as embalagens dos antidepressivos exibissem um alerta para o risco de suicídio no início da
administração desse tipo de droga. O risco existe de fato e não exime os adolescentes.
"O medicamento tira o jovem
do estado de prostração, ele sai da
cama, tem ânimo para agir. Mas,
como continua deprimido, a ação
pode ser a tentativa de suicídio",
explica Marcelo Feijó de Mello,
pesquisador do Departamento de
Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo, com pós-doutorado e especialização em depressão. Para o médico, o estudo norte-americano comprova o que a
prática clínica já vinha demonstrando e ressalta a importância do
acompanhamento por intermédio da terapia para detectar e evitar a tendência suicida.
Tendência essa, aliás, que predomina entre os jovens: segundo
o médico, mais do que qualquer
outra, o suicídio é a principal causa de morte de jovens entre 10 e 19
anos nos países desenvolvidos.
"A conjunção da terapia cognitiva com o antidepressivo é o melhor tratamento simplesmente
porque apresenta o melhor resultado e resgata o adolescente mais
rapidamente para a vida normal",
afirma Lee Su I, coordenadora do
Serviço Psiquiátrico da Infância e
Adolescência do Instituto de Psiquiatria da USP, que funciona no
Hospital das Clínicas.
"Como o medicamento melhora a sensação de cansaço, o desânimo, os distúrbios de sono e de
apetite e torna o humor mais palatável, a terapia surte um efeito
muito melhor", diz a médica, que
complementa: "Se não tomar o
medicamento, o adolescente nem
sai de casa para ir à terapia".
Para ela, o acompanhamento
sistemático do jovem doente é
fundamental quando se pensa no
risco de suicídio. "O controle tem
que ser rigoroso. O médico e o terapeuta devem detectar se há a
ideação da morte ou se há alguma
coisa mais grave nesse sentido.
Por isso, o menor de 18 anos com
depressão deve ter acompanhamento no mínimo uma vez por
semana na clínica médica, fora o
acompanhamento psicológico."
A depressão no adolescente se
refere a um número muito expressivo de pessoas, de acordo
com os dados dos dois médicos.
"De todos os casos que chegam ao
HC, pelo menos 15% se referem a
crianças e adolescentes deprimidas", diz Su I.
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