|
Próximo Texto | Índice
SAÚDE FEMININA
O objetivo é oferecer acompanhamento que vai de tratamentos profiláticos a mudanças nos hábitos de vida
Hospital do Câncer investe em prevenção
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Hospital do Câncer de São
Paulo inaugura neste mês um
Ambulatório de Prevenção do
Câncer de Mama. A intenção é
oferecer às mulheres com maior
risco um acompanhamento que
vai de tratamentos profiláticos a
mudanças nos hábitos de vida.
A equipe multidisciplinar do
ambulatório, além de oncologistas e geneticistas, terá assistente
social, nutricionista e mesmo um
especialista em exercícios físicos.
Segundo Mário Mourão Netto,
64, diretor do departamento de
mastologia do Hospital do Câncer, o ambulatório não se limitará
a um aconselhamento genético.
As mulheres serão acompanhadas e seguidas de perto, com consultas e exames frequentes. Também será um local de informação
para as interessadas no tema.
Segundo Mourão, cerca de 70%
dos casos desse tipo de câncer que
chegavam ao hospital 20 anos
atrás eram "localmente avançados", com poucas chances de responder ao tratamento. "Hoje,
65% dos casos são iniciais e 35%
avançados." Abaixo, trechos da
entrevista que Mourão Netto concedeu à Folha.
Folha - Como se faz a detecção
precoce?
Mário Mourão Netto - A mamografia é o melhor método para detectar tumores, mesmo os mais
pequenos, de até 1 cm. O exame
deve ser feito a partir dos 40 anos
para quem não tem antecedentes
na família, e a partir dos 35 para
quem tem um parente de primeiro grau com câncer de mama.
As campanhas, as informações
na mídia e a evolução da mamografia -hoje temos mamógrafos
de alta resolução- estão mudando o cenário, há um número muito maior de casos iniciais sendo
diagnosticados. O problema está
na rede pública de saúde, que
nem sempre tem disponível um
mamógrafo de alta resolução e
um médico que oriente a paciente. O fundamental na detecção
precoce é que, muitas vezes você
vai evitar o tratamento mutilante.
Quando se trata de tumores invasivos, com a possibilidade de a
doença progredir a outros órgãos,
a detecção precoce permite que se
faça uma quimioterapia, diminuindo os riscos de metástase.
Em grandes centros, nos EUA,
Paris, todos os tumores encontrados têm em média 1 cm. Se tivéssemos uma campanha de diagnóstico precoce, daria para reduzir a mortalidade infinitamente.
Nos EUA, a curva está assim, o
número de diagnóstico aumentando e a mortalidade diminuindo. No Brasil, a curva de mortalidade é quase paralela à incidência,
o que significa muita gente sem
acesso aos serviços de saúde.
Folha - Se todas as mulheres tivessem acesso a um médico e a um
mamógrafo, isso resolveria?
Mourão Netto - Esse é o sonho da
Sociedade Brasileira de Mastologia, da qual faço parte. Eu estou
neste hospital desde 67, quando
era estressante. Eu sabia que, a cada dez mulheres que entravam,
sete iriam morrer em cinco anos.
Hoje esse quadro mudou muito, mas essa é a realidade dos centros de referência. Não adianta só
diagnosticar, é preciso também
tratar. Em alguns centros norte-americanos, o tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento
não passa de alguns dias.
Aqui em São Paulo, mesmo em
hospitais públicos de referência, a
espera é de seis meses entre o
diagnóstico e a primeira consulta.
Aqui no nosso hospital também
há demora, pois atendemos 65%
SUS e temos uma capacidade limitada de internação.
Folha - Como é feita a reconstrução simultânea da mama e quem
pode se beneficiar?
Mourão Netto - Para a mulher, a
mama é o símbolo da feminilidade. Daí a importância de evitar os
procedimentos mutilantes. Mas
há casos, mesmo iniciais, que não
podem ser submetidos a um tratamento conservador. É quando
se descobre, por achado radiológico ou mesmo por processo intraoperatório, que o câncer pode
comprometer vários pontos da
mama e ser multicêntrico ou multifocal. Então é preciso tirar toda a
mama, ou seja, fazer uma mastectomia. Faz-se então um planejamento anterior de forma que a
mama seja retirada e imediatamente reconstruída pelo cirurgião plástico. Das mulheres com
câncer inicial, que são 65% aqui
no hospital, cerca de metade delas
não retira a mama toda, mas apenas uma parte, o que chamamos
de quadrantectomia. Retira-se
apenas o tumor e o tecido adjacente. A outra metade dessas mulheres terá de retirar totalmente a
mama, e, dessas, a maioria poderá
se beneficiar de uma reconstrução imediata da mama.
Folha - E quando não há necessidade de se retirar toda a mama?
Mourão Netto - Também se faz
um tratamento cirúrgico, retirando apenas parte da mama. E faz-se, em alguns casos, esvaziamento
axilar. Em casos seletos, não mais
se esvazia as axilas.
A biópsia vai permitir saber se é
necessário ou não esvaziar as axilas. Se houver comprometimento,
vai ser necessário o esvaziamento.
O não-esvaziamento evita o inchaço do braço.
Próximo Texto: Individualização do risco é nova tendência Índice
|