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SAÚDE FEMININA
Usando modelos estatísticos, médicos definem riscos para cada mulher e iniciam discussão sobre o tipo de tratamento
Individualização do risco é nova tendência
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma nova tendência para a detecção precoce do câncer de mama, o tipo que mais mata mulheres brasileiras, é a individualização do risco. Usando modelos estatísticos, os médicos dos centros
de aconselhamento genético fazem o cruzamento dos riscos individuais da mulher e dos fatores
hereditários e calculam as chances de a pessoa ter câncer.
Quando as taxas de risco são altas, sugere-se a realização de um
teste genético, que irá detectar se
há ou não a mutação dos genes
BRCA1 e BRCA2 -envolvidos
tanto no câncer de mama quanto
no câncer de ovário. Se for constatada a mutação, as chances de desenvolvimento do câncer serão de
50% até os 45 anos e de 80% até 85
anos. Até 10% dos casos de câncer
de mama são hereditários.
Nesses casos, há três orientações médicas: exames clínicos e
mamografias semestrais, e não
anuais como ocorre normalmente, o uso de medicamentos para
prevenir o desenvolvimento do
tumor, como o tamoxifeno, e a
mastectomia preventiva, ou seja,
a retirada das mamas antes mesmo de o tumor se manifestar.
"As mulheres que têm um alto
risco de câncer olham as mamas
como duas armas apontadas para
elas. E ficam aliviadas após a cirurgia", afirma o mastologista e
cirurgião oncológico José Luiz Bevilacqua, 35, do IBCC (Instituto
Brasileiro de Controle do Câncer)
e do hospital Sírio Libanês.
Nos últimos dois anos, pelo menos 15 mulheres já retiraram as
mamas e os ovários como forma
de prevenir o câncer em três serviços de oncologia de São Paulo.
Mas, mesmo com a retirada das
mamas, ainda há 10% de chances
de o câncer se manifestar em algum tecido que tenha sobrado,
afirma o oncologista Artur Katz,
do Hospital Albert Einstein. "É
preciso muita reflexão. A iniciativa tem que ser da paciente", diz.
A tendência de individualização
também deve chegar ao tratamento. Novas drogas têm sido desenvolvidas a partir do perfil genético do tumor, o que trará mais
eficácia na terapia. Assim, uma
mulher com câncer de mama vai
receber um remédio específico
para o seu tipo de tumor.
"Ainda tratamos os tumores como se estivéssemos em um quarto
escuro. Com o quarto claro, veremos que as pessoas têm tumores
vermelhos, amarelos, verdes e trataremos cada um com um remédio específico", diz o oncologista
José Bines, 38, responsável pelo
setor de câncer de mama do Inca
(Instituto Nacional do Câncer).
Segundo Carlos Alberto Moreira Filho, coordenador do Centro
de Pesquisa Experimental Instituto de Ensino e Pesquisa Albert
Einstein, 1/4 das mulheres com
câncer de mama já pode se beneficiar da droga herceptina, que age
diretamente em um tipo de gene
(HER-NEU2), que, por ter sofrido
uma mutação, estimula a divisão
celular. A droga atua, então, na
inibição do crescimento das células do tumor.
O uso do remédio, porém, não é
isento de riscos. Segundo Bevilacqua, o remédio, com outros quimioterápicos, produz uma reação
tóxica ao coração. Esses efeitos seriam reversíveis, diz o médico.
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