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DANUZA LEÃO
Amor e felicidade
Ela sempre foi uma mulher
daquelas: bonita, alegre, divertida, sem cuja presença a festa
nunca era tão animada. Sempre
teve os homens que quis (e alguns
que nem quis tanto assim), mas
eis que um dia se apaixonou pra
valer.
Se apaixonou e mudou. Começou a se vestir diferente: roupas
menos ousadas, pernas mais cobertas, decotes mais pudicos, palavras mais escolhidas. As três
vodcas com gelo que contribuíam
para fazer dela aquela pessoa tão
engraçada e tão solta foram trocadas por um cálice de vinho do
porto -um só. Passou a conviver
mais com outro tipo de mulheres,
aquelas que tinham um homem
fixo -que fosse namorado, caso
ou marido-, e nunca mais disse
nada que provocasse uma gargalhada no grupo. Nem ela mesma
gargalhava mais como antes; não
contente, ficou ciumenta. Ciumenta, controladora e, consequentemente, chata.
Quando ele olhava para o lado,
ela acompanhava com os olhos
para saber para que -ou
quem- ele estava olhando; se
fosse uma mulher bonita, fazia
tromba e, na ida para casa, uma
cena. Telefonava várias vezes para o escritório, e quando o celular
estava desligado submetia o coitado a um interrogatório. No
princípio ele ria de seus ciúmes,
mas, com o tempo, foi achando
menos graça.
Passou a podar os amigos solteiros e sobretudo as amigas companheiras dos tempos de loucura.
Ele não percebeu logo -homens
são distraídos-, mas pouco a
pouco os programas foram mudando: passaram a ser um jantarzinho a quatro, uma reuniãozinha a oito, sempre com pessoas
escolhidas a dedo, isto é, que não
representassem nenhum risco.
Aquela mulher que topava tudo,
que às 2h da manhã estava pronta para a saideira em qualquer
lugar barra-pesada, só de farra,
mudou. Mudou e ficou insuportável, como muitas mulheres
muito apaixonadas costumam ficar. Um dia ele não aguentou, e o
romance acabou.
Ela sofreu, e como. Fez tudo para voltar: mudou o cabelo, simulou encontros casuais, telefonava
de madrugada para saber se ele
estava, continuou amiga dos
amigos dele, mas não adiantou.
Procurou a antiga companheira
de todas as horas -e de todas as
loucuras- para poder chorar, e
chorou. Chorou muito e, seguindo
seus sábios conselhos, resolveu
partir para qualquer outra, apaixonada ou não.
Voltou a sair com a turma de
antes e, aos poucos, foi se dando o
direito de voltar a dizer bobagens
e a fazer as pessoas rirem, e conseguiu até rir dela mesma. O tempo
passou e um dia apareceu um homem; começaram a sair, e quando viu, ele estava apaixonado e a
história se repetiu. Só que, dessa
vez, foi ele quem mudou.
Aquele homem sedutor, que
adorava quando ela se punha toda linda para irem dançar, se
transformou. No lugar de saírem
com os amigos divertidos e engraçados, passaram a conviver com o
irmão dele e a cunhada, que não
tinham nada a ver. E começou de
novo o filme do ciúme e do controle, só que ao contrário.
Ela adorava se apaixonar, mas
nunca dava certo; quando gostava muito -e ela não era de gostar pouco-, se angustiava, nas
noites em que não se viam fazia
fantasias, achava que o namorado do momento estava com outra
e não ia aparecer nunca mais.
Mas desta vez o ciumento e controlador era ele; as coisas foram
ficando difíceis e ela foi embora
pensando que gostar era uma coisa, ser feliz, outra.
E passou a fugir do amor.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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