|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SAÚDE
Ginecologista auxilia a diagnosticar casos de mulheres que são mais vulneráveis às oscilações hormonais
Hormônio ajuda a explicar depressão
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Beirando a menopausa, a instrutora de internet Claudete Cruz,
48, fez as contas. Vivia bem durante 200 dias por ano. Nos outros, desde a adolescência, era
"chata, manhosa, infeliz". Nas fases pré-menstruais, vivia triste,
ansiosa, com medo. "Mais coragem. Controle-se", diziam parentes. "A vida é assim mesmo".
Dos ginecologistas vieram mais
chavões. "Arranje um relacionamento", disse um dos últimos que
visitou. Há quatro anos, a depressão se estabeleceu. Pensou em
suicídio. Depois de buscar um
psiquiatra e medicada com antidepressivos, a vida é outra.
Os mais de 30 anos que Claudete demorou para entender o que
se passava poderiam ser encurtados se algum ginecologista tivesse
feito a avaliação correta e a encaminhado para avaliação psicológica ou psiquiátrica. Médico primário da mulher, ele pode separar o que é tristeza passageira de
alterações de humor decorrentes
do ciclo reprodutivo -e até detectar os sinais de depressão grave, para encaminhar o caso ao psiquiatra, como explica o presidente da Federação das Sociedades
Brasileiras de Ginecologia e Obstetrícia, Edmund Baracat.
"Uma coisa bem prática a ser dita: não é uma "impressão". Existe
realmente essa associação entre
oscilações hormonais, ansiedade
e depressão. E há maneiras de
juntos, psiquiatras e ginecologistas, controlarem isso. Com intervenções hormonais ou não hormonais", afirma o diretor de pesquisa clínica do Centro de Saúde
Mental da Mulher da Harvard
Medical School (EUA), Cláudio
N. Soares.
A "interface" entre ginecologia
e psiquiatria está bem estabelecida. Da menarca (primeira menstruação) à menopausa, três momentos de oscilação hormonal
são associados à depressão e ansiedade: o período pré-menstrual,
o pós-parto, e a transição para a
menopausa, a perimenopausa
-quando começam as irregularidades do ciclo menstrual.
A prevalência de depressão é
muito maior em mulheres do que
em homens. A proporção é de
dois para um. A de distúrbios ansiosos é de quatro para um.
"O que foi observado é que tudo
isso é mais frequente durante o
período reprodutivo", explica Joel
Rennó Júnior, coordenador do
Projeto de Atenção à Saúde Mental da Mulher do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Os estudos desenvolvidos a partir da constatação epidemiológica
não têm mais do que cinco anos.
A tese é de que não são os hormônios em si os "culpados", mas o
fato de algumas mulheres terem
sua "química" cerebral mais vulnerável às oscilações hormonais.
As flutuações do estrógeno e progesterona teriam um efeito negativo sobre as células cerebrais, afetando as atividades do órgão.
Texto Anterior: Há 50 anos Próximo Texto: Médico recomenda "anotar sensações" Índice
|