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EDUCAÇÃO
Pesquisa realizada pela Unesco mostra que Brasil tem 94% de professoras -só perdendo para Itália, com 94,6%
Mulheres comandam as salas de aula do país
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O Brasil é o país das professoras.
Com exceção da Itália, em nenhum outro país do mundo há
tantas mulheres exercendo o magistério quanto aqui.
A constatação pode ser feita a
partir de uma pesquisa sobre o
perfil do professor realizada pela
Unesco e divulgada na semana
passada. Ela mostra que, da 1ª à 6ª
série do ensino fundamental, a
porcentagem de mulheres dando
aulas no Brasil é de 94%.
Em um total de 138 países comparados, a porcentagem só não é
maior do que a da Itália, onde as
mulheres representam 94,6% dos
professores nesse nível de ensino.
O perfil majoritariamente feminino dos professores nas séries
iniciais não é exclusividade do
Brasil. É assim em quase todos os
países do mundo, até mesmo nos
mais desenvolvidos.
A proporção de mulheres dando aulas na média de todos os países da OCDE (organização que
engloba 25 países desenvolvidos e
em desenvolvimento da Europa,
Ásia e América do Norte), por
exemplo, é de 77%.
O que chama a atenção no caso
brasileiro é que, por aqui, esse fenômeno é mais acentuado. Para
especialistas ouvidos pela Folha, a
predominância de mulheres no
magistério tem a ver com o perfil
do trabalho e com os salários.
"A natureza e o trabalho docente são mais atraentes para as mulheres, porque elas têm outros papéis em casa. Por serem mais verbais e mais fluentes, as professoras tendem a favorecer mais a
aprendizagem da língua e a expressão oral do que os professores
homens", explica o consultor em
educação João Batista Oliveira.
Para Oliveira, a grande desvantagem da feminização do magistério é que, no mundo inteiro, a
mulher ganha, em média, menos
do que o homem, o que tende a
baixar o salário do professor.
A educadora Guiomar Namo de
Mello, membro do Conselho Nacional de Educação, concorda
com Oliveira: "No Brasil, como lá
fora, ainda se repete um padrão
que pode mudar no futuro próximo: as mulheres ganham menos
para o mesmo trabalho. E as profissões com predominância feminina são pior remuneradas e em
geral têm menor prestígio social".
Os dados da pesquisa da Unesco confirmam que, mesmo em
países desenvolvidos, ainda persiste no magistério uma desigualdade a favor dos homens.
O estudo cita informações de 12
países europeus, entre eles Itália,
Suécia e Dinamarca, que mostram que a porcentagem de mulheres ocupando cargos de direção cai drasticamente quando
comparada com a porcentagem
de mulheres professoras. Mas esse cálculo não foi feito, na pesquisa, para o caso brasileiro. A professora Cynthia Pereira de Sousa,
da Faculdade de Educação da
USP e autora de tese que estuda o
fenômeno da feminização na educação brasileira, lembra que o
magistério nem sempre foi uma
profissão feminina e que os primeiros professores foram membros da ordem dos jesuítas.
"A educação escolar historicamente foi franqueada primeiro
aos meninos, que, de posse de alguns conhecimentos básicos, teriam na idade adulta condições de
poder ensinar", afirma Cynthia
em seu estudo.
De acordo com ela, a entrada da
mulher no mercado não é explicada somente pelo fato de os homens terem fugido dos baixos salários da profissão. "Quando os
homens ocupavam as salas de aula, no século 19, os documentos já
falavam em baixos salários e péssimas condições de trabalho", diz
a professora da USP.
Cynthia aponta a normatização
da profissão como um dos fatores
que ajudou a afastar os homens
da profissão: "Quando o Estado
começa a organizar o sistema público de ensino, no século 19, começa também a normatizar e regulamentar a profissão, criando
regras para seriação, horários e
concursos. Isso pode ter desinteressado homens que, muitas vezes, exerciam outras atividades
junto com o magistério".
O educador Arnaldo Niskier,
autor do livro "500 Anos de Educação Brasileira", cita a necessidade de complementar a renda familiar em uma das poucas atividades em que a sociedade aceitava a participação das mulheres
como incentivador da presença
feminina na educação.
"Era uma alternativa para contribuir com a renda familiar porque o marido, sobretudo o funcionário público ou militar, não
tinha bons salários", afirma.
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