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ENTREVISTA
Nova pesquisa nos EUA condena terapia de reposição hormonal
DA REPORTAGEM LOCAL
Nenhum outro tratamento na
história da medicina foi tão idolatrado e, em seguida, tão questionado. Trata-se da terapia de reposição hormonal, a TRH, apresentada nos anos 60 como a "pílula
da eterna juventude". Vários estudos recentes estão revelando
que a terapia oferece mais riscos
do que benefícios.
Na semana passada, o Instituto
Nacional de Saúde dos EUA -o
equivalente ao Ministério da Saúde no Brasil- interrompeu uma
pesquisa com 11 mil mulheres
acompanhadas desde 1997.
O estudo testava o estrógeno na
prevenção de doenças cardiovasculares em pacientes na pós-menopausa. Os pesquisadores concluíram que, em lugar de proteger, colocava as pacientes em perigo: houve aumento de 40% no
risco de derrame e nenhuma redução na probabilidade de infarto
ou de câncer de mama.
Em 2002, o mesmo órgão americano determinou a interrupção
de um estudo com 16 mil mulheres submetidas a outra reposição,
uma combinação dos hormônios
estrógeno e progesterona. Nesse
caso, o comprimido aumentou a
possibilidade de câncer de mama,
infarto, derrame e trombose.
Outro estudo, da Sociedade
Respiratória Européia, mostrou
que a terapia aumentava em até
50% as chances de desenvolver
asma. Uma quarta pesquisa revelou que a TRH não reduzia sequer
o mau humor que acompanha as
mulheres durante a menopausa.
O encerramento precoce do estudo americano coincidiu com a
7ª Conferência Internacional de
Pesquisa da Soja realizada em Foz
do Iguaçu na semana passada.
Uma das conferências finais tratou dos benefícios da soja na saúde dos seres humanos e, mais precisamente, na capacidade de reduzir os sintomas da menopausa.
De lá, vieram boas notícias. A
médica nutróloga Esther Laudanna, assessora da Fugesp (Fundação para o Estudo da Nutrição e
da Gastroenterologia), relatou
pesquisa feita no Hospital das Clínicas da Universidade de São
Paulo mostrando que um isolado
protéico da soja era tão eficaz no
combate aos sintomas da menopausa quanto as TRHs clássicas.
"Foi o único estudo apresentado que tratava a soja por esse ângulo", disse Esther Laudanna, que
participou do estudo. "Os sintomas como calores, nervosismo,
melancolia, dores articulares, dores de cabeça, palpitação e angústia desapareceram como se as
mulheres estivessem tomando a
TRH clássica, e não foi registrado
nenhum efeito colateral."
O produto testado na pesquisa
foi um isolado protéico de soja
desenvolvido numa parceria entre a Fugesp e pesquisadores da
Esalq -Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP,
em Piracicaba (SP).
O produto foi testado em 98
mulheres saudáveis, com queixas
dos sintomas da menopausa, e se
estendeu por 16 semanas. Metade
das mulheres tomou o isolado
protéico em forma de alimento, as
outras receberam um repositor
hormonal em comprimido, bastante prescrito pelos médicos. "Os
resultados foram surpreendentes", disse a médica Ângela de
Maggio, do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora da pesquisa no HC.
Abaixo, trechos da entrevista
que concedeu à Folha:
Folha - A interrupção da pesquisa
norte-americana surpreendeu?
Ângela de Maggio - Esse estudo
era um dos últimos braços de
uma ampla pesquisa monitorada
pelo governo dos Estados Unidos.
Não foi uma boa notícia, mas eu
faço questão de repetir: a hormonioterapia é excelente, mas deve
ser individualizada. Cada mulher
precisa de uma prescrição e um
acompanhamento personalizados.
Folha - O isolado protéico pesquisado por sua equipe já está no mercado com o nome de Previna. Há
outros estudos sendo conduzidos
no seu departamento?
Maggio - Vários. Além dos fitoestrógenos presentes na soja, também estamos trabalhando com o
trevo vermelho, planta que também produz fitohormônios. A julgar pelos bons resultados da primeira pesquisa, a soja aparece como uma alternativa que considero muito interessante.
Mais informações no site
www.estudosojamenopausa.com.br
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