|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Novo estudo diz que bactéria é resistente a desinfetante
Hospitais devem usar outros métodos de desinfecção
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais um estudo, agora do laboratório Fleury de São Paulo,
mostra que a micobactéria
massiliense, envolvida na
maioria dos casos de infecções
no país, é resistente a um dos
produtos mais usados na desinfecção de equipamentos hospitalares, o glutaraldeído a 2%.
O trabalho corrobora outra
pesquisa feita pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que já havia mostrado
que o saneante não conseguiu
eliminar a bactéria mesmo
após dez horas de exposição.
O estudo motivou a Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a recomendar aos
hospitais que usem outros métodos de desinfecção. O país registra 2.025 casos de infecção
em 14 Estados, a maioria em
instituições particulares. Não
há dados do setor privado que
permitam saber qual a porcentagem de infecções no total de
cirurgias feitas no Brasil.
Mas por que muitos hospitais -de São Paulo, por exemplo- que usam o glutaraldeído
rotineiramente não registraram recentemente infecções
pela micobactéria? Uma das
explicações estaria em uma
limpeza bem-feita dos equipamentos antes do processo de
desinfecção e esterilização.
Segundo o microbiologista
Jorge Mello Sampaio, assessor
médico do Fleury e que também faz parte do grupo de trabalho da UFRJ, se os aparelhos
são bem limpos, com detergentes enzimáticos adequados, antes de passarem pelo processo
de desinfecção, a bactéria tende
a não "grudar" neles.
"Se você fizer uma limpeza
bem rigorosa, a chance de a
bactéria aderir ao instrumental
é muito pequena."
Além da limpeza, Sampaio
alerta para outras precauções,
como a troca periódica do glutaraldeído. "Se você colocar
instrumentos molhados [na solução], o produto vai sendo destruído", explica.
Testes
Na opinião de Rafael Silva
Duarte, professor do departamento de microbiologia médica da UFRJ, ainda não há explicações sobre como a micobatéria se tornou resistente. "É
multifatorial. Também não sabemos qual o fator que ajuda na
disseminação de infecções."
Duarte diz que três marcas
de glutaraldeído testadas foram eficazes para combater
duas cepas da micobactéria, exceto a massiliense. Ele pretende testar as 22 marcas existentes no mercado para ver se a resistência persiste. "Não estamos condenando nenhuma
marca, mas há uma espécie nova de micobactéria para qual o
produto não foi testado."
Para Jorge Sampaio, os hospitais devem optar por outras
formas de desinfecção e esterilização.
"Existem alternativas como
o ácido peracético e instrumentos que podem ser esterilizados
em autoclaves."
Sampaio foi um dos responsáveis pelo seqüenciamento genético da M. massiliense. Ele
diz que existe um "clone único"
responsável pela maioria das
infecções. "Elas têm a mesma
impressão digital."
Texto Anterior: Médico nega ter burlado fila de transplante no Rio Próximo Texto: Frase Índice
|