São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2008

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Médico nega ter burlado fila de transplante no Rio

Ribeiro Filho foi solto em 5 de agosto depois de ter recebido habeas corpus

No primeiro depoimento à Justiça, médico diz ter usado fígados recusados por pacientes que estavam na frente na fila do transplante

Rafael Andrade/Folha Imagem
O médico Joaquim Ribeiro Filho, acusado de furar a fila de transplantes de fígado, depõe na 3ª Vara Criminal Federal, centro do Rio

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE, NO RIO

O médico Joaquim Ribeiro Filho, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) denunciado à Justiça sob acusação de envolvimento em esquema de fraude na fila de transplantes de fígado no Rio, negou ontem ter participado de qualquer irregularidade.
No primeiro depoimento à Justiça desde que foi preso na Operação Fura-Fila, Ribeiro Filho afirmou que não priorizou seus pacientes.
Preso no dia 30 de julho, Ribeiro Filho foi solto no último dia 5, mas continua a responder a processo por peculato (desvio de recursos ou bens).
Ao juiz Lafredo Lisboa, da 3ª Vara Criminal Federal do Rio, o médico disse que, em dois dos três casos citados pelo Ministério Público, a operação foi realizada porque os fígados disponíveis eram marginais -o que, na linguagem técnica, quer dizer que eram inadequados segundo as regras da central de transplantes, por alguma limitação do doador ou do órgão- e os dois pacientes foram os primeiros a aceitá-los.
Os pacientes foram Jaime Ariston, irmão do secretário estadual de Transportes, em 2003, quando Ribeiro Filho era chefe da central de tranplantes, e Frederico Sattelmeyer, que acabou não recebendo o órgão por impedimento da própria central de transplantes, ao considerar a operação irregular.
O procurador Marcello Miller, autor da denúncia, contestou o critério do médico -reuniões com os membros da equipe- para determinar os pacientes aptos a receber fígados marginais. Ribeiro Filho afirmou que os pacientes à frente dos dois operados disseram que não queriam receber o órgão, mas disse não ter nenhuma dessas declarações por escrito.
"Era um processo dinâmico, não se podia perguntar a cada paciente se aceitaria ou não um fígado marginal."
No caso de Jaime Ariston, Ribeiro Filho afirmou que o fígado havia sido oferecido antes ao HGB (Hospital Geral de Bonsucesso), que não quis porque fazia outro transplante no momento. No hospital da UFRJ, Ariston -que, segundo a denúncia, era o 32º na fila- foi o primeiro candidato disponível, disse o médico. Já no caso de Sattelmeyer, o médico alegou que o paciente da vez não tinha "reserva de sangue" para ser submetido ao transplante.
Na denúncia contra Ribeiro Filho, o procurador afirma que, para inscrever Carlos Augusto Arraes na lista, o médico omitiu que o paciente tinha um tumor maior do que o permitido pelo Ministério da Saúde para a realização de transplantes. O médico afirmou que Arraes tinha "cirrose hepática, o que garante sua inscrição". Arraes diz que fretou um avião com recursos próprios para buscar o fígado, que seria descartado por falta de transporte.


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