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EDUCAÇÃO
Estudantes que passaram em vestibular por critérios raciais tiveram rendimento superior e evasão menor que os demais
Aprovado por cota se sai melhor na Uerj
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Os alunos que entraram por algum critério de cotas na Uerj
(Universidade do Estado do Rio
de Janeiro) no primeiro semestre
letivo deste ano tiveram rendimento acadêmico superior e taxa
de evasão menor em relação aos
estudantes que conquistaram a
vaga sem ter direito ao benefício.
É o que revela estudo elaborado
pelo Programa de Apoio ao Estudante da universidade. Os dados
mostram que, ao menos no primeiro semestre letivo do primeiro
ano da reserva de vagas na instituição, não houve o impacto negativo, temido por alguns, no rendimento acadêmico dos alunos
que chegaram à Uerj pelas cotas.
O estudo deve reforçar os argumentos dos defensores da introdução de cotas raciais ou para alunos carentes em todas as universidades públicas do país.
Um projeto que recomenda a
adoção de cotas está sendo elaborado por um grupo que reúne representantes de 11 ministérios, do
Conselho Nacional de Educação e
da Advocacia Geral da União. O
ministro da Educação, Cristovam
Buarque, já se declarou favorável,
com a ressalva de que não pode
impor as cotas, para não ferir a
autonomia universitária.
De acordo com o estudo, no
campus principal da Uerj, que
concentra a maioria dos cursos,
47% dos estudantes que entraram
sem cotas foram aprovados em
todas as disciplinas do primeiro
semestre. Entre os estudantes que
entraram no vestibular restrito a
alunos da rede pública, a taxa foi
um pouco maior: 49%.
A instituição adotou também o
critério racial no seu vestibular
com cotas. Entre os que se autodeclararam negros ou pardos, a
taxa foi também de 49%.
A comparação inversa também
é favorável aos cotistas. A porcentagem de alunos reprovados em
todas as disciplinas por nota ou
frequência entre os não-cotistas
foi de 14%. Entre os que ingressaram pelo vestibular para alunos
da rede pública, a porcentagem
foi de 4%. Entre os autodeclarados negros ou pardos, de 7%.
Falta de apoio
Além de terem um rendimento
acadêmico ligeiramente superior,
os cotistas abandonaram menos
os cursos, mesmo sem ter recebido apoio financeiro do Estado.
Entre os não-cotistas, a taxa de
evasão no primeiro semestre foi
de 9% dos estudantes. Essa porcentagem foi de 3% entre os ingressantes pela rede pública e de
5% entre os autodeclarados.
A Uerj considera como aluno
que abandonou o curso apenas o
estudante que foi reprovado por
frequência em todas as disciplinas
do primeiro semestre e que não
fez a matrícula para o segundo semestre letivo da instituição.
"O acompanhamento dessa primeira turma que entrou na Uerj
por cotas mostra que a universidade não teve prejuízo acadêmico
com esses estudantes", afirmou o
coordenador do estudo e do Programa de Apoio ao Estudante,
Cláudio Carvalhaes.
Os dados mostram também
que, ao menos para a primeira
turma de cotistas, o resultado do
vestibular não foi determinante
no desempenho acadêmico.
A nota de corte dos alunos cotistas na segunda fase do vestibular
foi inferior à dos demais alunos. A
maior disparidade ocorreu no
curso de odontologia, em que um
aluno cotista foi aprovado com
nota 6,25 sobre um total de 110,
enquanto o estudante aprovado
pelo vestibular tradicional teve
nota de corte 77,5.
O acompanhamento no primeiro semestre desse aluno que tirou
6,25 no vestibular mostrou que
ele foi aprovado em todas as disciplinas do curso de odontologia,
considerado um dos mais difíceis.
O estudo coordenado por Carvalhaes comparou ainda o rendimento acadêmico dos alunos por
área. Os cotistas tiveram desempenho ligeiramente superior nos
cursos das áreas de humanas, biomédica e ciências sociais.
O resultado só não foi melhor
para os cotistas nos cursos da área
de tecnologias e ciências -que
concentra disciplinas que, tradicionalmente, apresentam altos índices de reprovação, como as que
envolvem cálculos matemáticos.
Apesar de o estudo indicar um
resultado favorável aos cotistas,
Carvalhaes alerta que é preciso
continuar acompanhando o rendimento dos estudantes para chegar a conclusões consolidadas.
Para o ano que vem, por exemplo, o governo do Estado mudou
as regras das cotas e apenas os estudantes que comprovarem carência poderão se beneficiar da
lei. Como essa lei não valeu para o
vestibular passado, os atuais cotistas podem ter, por exemplo,
um perfil socioeconômico mais
favorecido do que os estudantes
que entrarão em 2004.
Neste primeiro ano de cotas, a
Uerj não teve apoio financeiro do
Estado para distribuir bolsas para
os alunos carentes que ingressaram na universidade.
A instituição fez, no entanto,
um programa de reforço acadêmico destinado a todos os estudantes -cotistas ou não- que se
sentissem com dificuldade para
acompanhar as aulas. Para o ano
que vem, o governo do Estado do
Rio e a Assembléia Legislativa
aprovaram uma lei que garante
ajuda financeira a esses alunos.
Carvalhaes suspeita que os estudantes carentes que ingressaram
por cotas na Uerj tiveram neste
ano um incentivo maior para superar possíveis dificuldades financeiras que poderiam prejudicar seu rendimento. Ele teme, no
entanto, que esse quadro mude
caso não haja ajuda financeira logo no primeiro ano de vida desse
estudante na universidade.
"A Uerj tem um amplo programa de bolsas de iniciação científica, mas elas são destinadas principalmente aos veteranos. Muitos
calouros pediram ajuda à universidade para se manter nos primeiros anos. Alguns afirmam que até
abrem mão de um auxílio-alimentação, mas que precisam de
ajuda para transporte", afirmou.
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