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VIDA DE CELEBRIDADE
Atrás do ídolo há sempre uma legião de "carentes" querendo tirar alguma vantagem com todo tipo de conversa
Famosos atraem flashes e enfrentam micos com "fãs"
PAULO SAMPAIO
LULIE MACEDO
DA REVISTA
Raul Cortez foi filmado por um
vizinho de mictório fazendo xixi
no banheiro do aeroporto. Gisele
Bündchen teve de aguentar a
companhia do filho de um comandante de avião que foi daqui a
Los Angeles tentando convencê-la a ser modelo da confecção que
ele pretendia abrir. Raí perdeu a
conta de quantos vendedores de
"dogão" pediram ajuda para
comprar uma perua Topic".
A fama é assim: atrai flashes, capas de revista, glamour e muito
mico. Ser celebridade é brilhar no
paraíso do "aluguel" -e virar
psicólogo, parceiro intelectual,
sócio, objeto de macumba. Atores, modelos, jogadores de futebol, não existe famoso que não
colecione histórias de gente que se
aproxima para, nas palavras de
Assunção, "engrupir o ídolo".
O ator não se esquece de um
episódio particularmente tragicômico, da época em que a atriz Daniela Perez, que fazia seu par romântico na novela "Corpo e Alma", foi brutalmente assassinada.
"Eu estreei um espetáculo 20
dias depois com a Cristiana Oliveira e toda noite a gente convidava o público a participar de um
abaixo-assinado pelo aumento da
pena do réu primário. Um dia,
uma mulher, que se dizia espírita,
disse que tinha ido avisar que a
Dani estava querendo "falar" comigo. Eu fui. Quando cheguei à
casa da mulher, estava a família
dela toda sentada em volta de
uma mesa, tentando fazer "a comunicação". Era uma cilada."
No país do sincretismo religioso, da TV e do futebol, nada parece mais engenhoso do que juntar
os três em um "golpe de mestre".
Rodrigo Paiva, 39, assessor do
craque Ronaldo, conta que há cerca de 20 dias um pai-de-santo se
propôs a desfazer uma "macumba peruana", antes do jogo contra
o Uruguai. Mas o "descarrego" só
teria efeito se fosse arranjado no
estádio, a poucos minutos do começo da partida. "Ele queria armar a pajelança na presença de
200 jornalistas do mundo todo."
O ex-meia e atual símbolo sexual Raí também tem um assessor
para filtrar as propostas. Paulo
Velasco, 24, diz que, de vez em
quando, deixa passar um mico.
Ele dá o exemplo de um rapaz que
se apresentou como "designer de
tênis" e queria mostrar "um projeto revolucionário" a Raí. "Dava
para ver que o cara sonhava muito com aquilo, mas não tinha condição de executar o projeto."
O "designer de tênis" pelo menos formulou uma proposta.
Muitas vezes, o que chega ao famoso é o "pedido bruto". Pedem-se casas, carros e dinheiro para
negócios e consultas médicas. "Já
me pediram de tudo, até tratamento dentário", diz o ator e produtor Miguel Falabella, 46.
Raul Cortez, 72, conta que tem
de mandar outra pessoa fechar
seus negócios para evitar que a fama seja incluída na conta. "Estou
construindo uma casa e outro dia
me apresentaram uma nota de R$
80 mil por uma compra que não
sairia por mais de R$ 10 mil."
Não é só a possibilidade de arrancar "algum" do astro que dá
coragem ao "ser humano comum" de se aproximar. Muitas
vezes, o aspirante à celebridade
quer só ser capa da revista. "Tem
gente que não sabe nem por que
quer tanto ser famoso", diz o ator
Diogo Vilela, 46. "Chega a ser infantil a necessidade que se tem de
aparecer. Mais do que nunca, a
sociedade quer ser incluída no
champanhe dos artistas", diz.
Além do aspirante a "famoso
capa de revista", uma outra categoria que gruda é a do aspirante a
"famoso autor de teatro".
Segundo os atores, são "toneladas" de textos de gente que nem é
do ramo. No desespero de conseguir cumplicidade, o aspirante a
celebridade tenta "contracenar"
com o personagem que o ator está
vivendo na TV. Entra nesse segmento o intelectual que quer conversar sobre o espetáculo citando
frases "bonitas", à altura do autor.
Diogo Vilela conta que tem o
sujeito que "elogia com nojo" -a
expressão verbal é positiva, a facial, negativa.
"Tem uma situação típica de
agressividade, que eu chamo de
hora da Cinderela. Você é convidado para uma festa e faz papel de
atração principal, até que as pessoas ficam bêbadas e começam a
te agredir", diz Raul Cortez. Para
evitar o pior, ele descobriu uma
estratégia -sair da festa no auge.
Fácil saber a hora: um minuto antes de perder a vontade de rir.
Leia a íntegra da reportagem no site
www.uol.com.br/revista
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