|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PRESÍDIOS
Taxa de HIV/Aids diminui após queda no consumo de drogas injetáveis; Plano Nacional de Saúde começa a ser implantado
Crack faz aumentar hepatite em presos
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A cocaína injetável está desaparecendo do sistema penitenciário
paulista. Nas "varreduras" que a
Tropa de Choque costuma fazer
no interior das celas, foram encontradas "pouquíssimas seringas" nos últimos dois anos.
Segundo a Coordenadoria de
Saúde do Sistema Prisional, órgão
da Secretaria de Estado da Administração Penitenciária, a taxa de
presos com HIV/Aids está atualmente entre 2,5% e 5,5%, dependendo do local. Há dez anos, a
proporção chegava a 22% na Casa
de Detenção (Carandiru).
Esse é o lado positivo da queda
do uso de droga injetável. O lado
negativo é o aumento do uso do
crack e o crescimento vertiginoso
das hepatites C e B. Uma pesquisa
com um grupo de presos da Penitenciária 2, de São Vicente (Baixada Santista), revelou que 52% estavam com hepatite B, 18,3% com
hepatite C e 18,6% com HIV/Aids.
"Os números precisam ser vistos
com cautela, pois trata-se de apenas um grupo de presos, voluntários", diz Ilham El Maerrawi,
coordenadora do programa municipal de DST-Aids de São Vicente. "De todo modo, a situação
é alarmante."
A Aids e as hepatites nos presídios foram tema da 1ª Conferência de Redução de Danos da América Latina e do Caribe, realizada
nesta semana em São Paulo.
Troca de seringas
Em Bilbao, na Espanha, há um
projeto oficial em que presos recebem seringas. No Brasil, há 12
projetos -financiados pelo Ministério da Saúde e realizados por
ONGs ou coordenações municipais de DST-Aids- que fazem
trabalhos em presídios.
Na teoria, não é permitida a troca de seringas, como acontece nos
126 programas do lado de fora. Na
prática, as seringas acabam entrando. Segundo o Ministério da
Saúde, desde que esses 12 projetos
foram iniciados, há dois anos, 17
mil seringas já foram disponibilizadas para os presos.
Em alguns presídios, os kits de
redução de danos -com folhetos, camisinhas e seringas, que os
agentes de saúde usam para dar
"aulas"- ficam em lugares onde
os presos depois os recuperam.
No Instituto Penal de São José
do Rio Preto, o trabalho começou
com barbeiros e tatuadores para
impedir a transmissão de hepatites entre os presos.
Uma parceria entre a coordenação municipal de Aids e a ONG
Grupo de Apoio aos Doentes de
Aids providenciou agulhas e treinou os profissionais. "Trabalhamos para que os funcionários assumam a atenção básica dentro
do presídio", diz Maria Inês Spinelli Arantes, coordenadora do
programa municipal.
Maria Eli Bruno, coordenadora
do Sistema de Saúde Prisional do
Estado, diz que em São Paulo o
principal uso hoje é o de crack,
que facilita a transmissão de hepatite. "As hepatites serão o grande problema dos presídios", diz.
Dez anos atrás, chegavam a
ocorrer duas mortes por Aids por
dia na Casa de Detenção. Em janeiro passado, no Estado todo, a
doença matou 15. "Há cada vez
mais gente morrendo de hemorragia por cirrose, o que indica hepatite avançada", diz Eli Bruno.
Plano Nacional
Os cerca de 210 mil presos do
sistema passarão a receber o mesmo tratamento de saúde que os
cidadãos em liberdade. O Plano
Nacional de Saúde do Sistema Penitenciário, em implantação, prevê unidades básicas de saúde dentro de presídios com mais de cem
detentos, além do credenciamento de hospitais.
No encerramento da conferência de redução de danos, os participantes divulgaram uma moção
pedindo urgência na implantação
do programa, que tem parceria
dos ministérios da Justiça e da
Saúde e prevê ações de redução de
danos e fornecimento de insumos. Em outras palavras, a troca
de seringas no interior dos presídios pode estar entre as ações
contempladas, o que significa um
reconhecimento de que há uso de
drogas no interior das prisões.
"Todas as ações deverão ser compactuadas no âmbito de cada Estado", diz Maria Cristina Fernandes Ferreira, assessora do Ministério da Saúde. A troca de seringas, mesmo como projeto-piloto
na área da saúde, depende do aval
da Justiça, do Ministério Público e
do diretor do presídio.
Segundo Maria Cristina Ferreira, são os Estados que estão demorando no detalhamento de
seus planos, que incluem o cadastramento de equipes e dos hospitais de referência.
A conferência questionou como
ficará o tratamento da dependência química dentro dos presídios.
O reconhecimento de que o uso
de drogas ocorre implica também
montar estratégias de tratamento,
dizem os especialistas.
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Festança: SP oficializa hoje união de 1.434 casais Índice
|