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ENTREVISTA
Encontro em SP discute a relação entre o estresse e a pressão alta
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Costuma-se atribuir ou relacionar ao estresse excessivo boa parte dos males modernos. A pressão
alta é um deles. Um dos temas do
20º Encontro da Sociedade Internacional de Hipertensão, que começa hoje em São Paulo, é justamente a relação entre o estresse e
a pressão alta.
Décio Mion Jr, diretor da Liga
de Hipertensão do Hospital das
Clínicas e tesoureiro do congresso, diz que essa relação existe e já é
conhecida. O que não se sabe é se
o aumento da pressão ocorre apenas no período de estresse ou se
poderia ser responsável por uma
hipertensão crônica. O que poderia levar a uma confusão entre o
estresse e a hipertensão.
Um dos conferencistas, o canadense Otto Kuchel, defenderá a
tese de que a hipertensão provocada pelo estresse é conseqüência
da falta do hormônio dopamina.
A professora Maria Teresa Zanella, titular de endocrinologia da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que o estresse libera um hormônio constritor
(a adrenalina) que elevaria a pressão arterial. Em indivíduos não
propensos à hipertensão, o organismo liberaria um segundo hormônio, um vasodilatador, a dopamina, impedindo que a pressão se
mantenha alta.
Segundo ele, a tese de Otto é que
em indivíduos hipertensos pode
haver uma falha na produção da
dopamina. A professora, que pertence à Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia,
lembra que, além do estresse, o
histórico familiar, o acesso à medicação e à informação interferem no nível de pressão.
Décio Mion cita pesquisa feita
entre os médicos hipertensos do
Hospital das Clínicas: só 40% disseram tomar remédio.
Abaixo, entrevista concedida
pela professora Maria Zanella:
Folha - Já foram feitos estudos no
Brasil relacionando a hipertensão e
o estresse?
Maria Teresa Zanella - Sim, pelo
menos dois grandes estudos foram feitos em São Paulo. Um deles é o da psicóloga Geni Furquim
Leite, que defendeu tese no Hospital do Rim e da Hipertensão da
Unifesp. Havia uma relação clara
entre os dois fatores. No nosso
ambulatório, na Unifesp, nós
constatamos que 77% dos pacientes não tinham a pressão controlada e fomos buscar os motivos.
Um deles era a não aderência ao
tratamento, por falta de conhecimento ou de acesso ao medicamento. A outra causa era psicológica. Cerca de 80% dos pacientes
eram mulheres com idade média
de 56 anos. Em 34% deles encontramos sintomas de depressão e
associações com a síndrome do
pânico e a ansiedade gerada por
estresse.
Folha - Quais eram os sintomas?
Zanella - Taquicardia, sensação
de morte iminente, de desmaio,
suor frio, esfriamento das extremidades. Verificamos também
que esses sintomas eram mais freqüentes nos pacientes de bairros
que eles consideravam violentos
-56% achavam os seus bairros
violentos. Aqueles que já tinham
sofrido alguma violência, ou tiveram parentes vítimas de violência,
apresentavam um nível de pressão mais alta ainda.
Folha - E o segundo trabalho?
Zanella - Este é da década de 80 e
relaciona as profissões com a prevalência de hipertensão. Foram
estudados cerca de 5.000 pacientes. A profissão com mais freqüência de pressão alta é a de jornalista, seguida dos profissionais
de transportes, metalúrgicos e
corretores de companhia de seguros. Vale lembrar novamente que
o estresse é um fator facilitador,
que desencadeia o processo.
Uma pessoa geneticamente predisposta a desenvolver hipertensão, se submetida a constante estresse, poderá manifestar a pressão alta anos antes. A tese do professor Otto Kuchel é a de que os
organismos com falha na produção da dopamina têm mais facilidade para serem hipertensos.
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