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EDUCAÇÃO
1.073 docentes podem sair se considerarem a reforma previdenciária prejudicial, diz o reitor Adolpho José Melfi
USP pode ter aposentadoria de 22% dos professores
ARMANDO PEREIRA FILHO
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO
Nada menos do que 22% dos
professores da Universidade de
São Paulo estão em condições de
se aposentar e podem fazer isso se
considerarem que a reforma previdenciária será prejudicial.
Isso seria um "baque grande"
para a USP, que completa 70 anos
em janeiro de 2004, avalia seu reitor, Adolpho José Melfi.
No entanto, ele tenta demonstrar otimismo e afirma não acreditar que haja aposentadoria em
massa. Mas o governo federal tem
demonstrado preocupação com o
possível êxodo do funcionalismo.
Uma das áreas mais fragilizadas
seria justamente a academia.
Além da perda de cérebros, a
USP também tem outras preocupações. As cotas para entrada de
alunos carentes, por exemplo.
Melfi diz que é necessário haver
políticas públicas para atender a
essa demanda, mas afirma que a
entrada de alunos por cotas prejudica o nível da universidade.
Leia a seguir trechos de entrevista concedida à Folha.
Folha - Como estão as finanças da
USP?
Adolpho José Melfi - Nosso orçamento é distribuído a partir de
uma cota-parte do ICMS [9,57%
para as três universidades estaduais -USP, Unicamp e Unesp].
O orçamento pode variar em razão do desenvolvimento da economia. Se observarmos o orçamento dos últimos anos, ele vem
tendo uma evolução razoável. Em
1996, era de R$ 769 mi; em 2002,
foi de R$ 1,404 bi, o que significa
que dobrou. Neste ano, temos
uma situação um pouco mais
preocupante, porque a economia
vem caindo e a inflação subiu.
Folha - A USP arca com os gastos
de seus aposentados. Como está a
situação?
Melfi - Os aposentados são um
problema que nós vamos ter de
resolver. Quando ganhamos autonomia, em 1989, os aposentados representavam 19% da folha
de pagamento. Hoje são 29%.
Desde 98, são 29% e o número
tem se mantido. Agora a curva
atingiu um patamar de equilíbrio.
Folha - A reforma previdenciária
pode desequilibrar essa situação?
Melfi - Na mudança anterior da
Previdência (1998), houve grande
aumento. Agora não. Estamos
perfeitamente dentro da média.
É verdade que cerca de mil professores pediram a contagem de
tempo para aposentadoria agora?
Melfi - Dos 4.857 professores da
USP, 1.073 têm tempo de aposentadoria. Evidentemente que isso é
preocupante, são 22% do nosso
corpo docente. Agora, esse tempo
de aposentadoria não significa
que eles vão se aposentar. Claro
que, se houver perigo de acabar
com os direitos adquiridos, vamos ter um problema. Mas não é
problema só nosso, é de todo o
funcionalismo. Seria ruim, um
baque grande para a universidade. Agora, não sinto esse movimento pela aposentadoria.
Folha - A USP faz 70 anos em
2004. Onde ela acertou e onde ela
errou?
Melfi - A USP é extremamente
complexa, é muito difícil analisar
de um ponto de vista monolítico.
Mas, se fizermos isso, vamos falar
que a USP acertou mais do que errou. A USP forma pouco menos
de 40% de todos os doutores formados no país. Trinta por cento
de toda a pesquisa científica brasileira é feita na USP. Então, existem indicadores que mostram
que a USP acertou.
Um grande problema que vejo
nas universidades públicas é o número baixo de vagas para ingresso. Com a universidade pública,
de pesquisa e, portanto, cara, dificilmente vamos atender toda a
comunidade que chega às portas
da universidade. A Fuvest teve,
neste ano, 165 mil candidatos, e a
USP oferece 8.000 vagas.
Folha - E qual a sua proposta?
Melfi - Aí devemos ter uma política de Estado, uma política de
longo prazo. O que as universidades podem fazer é colaborar na
discussão, juntamente com outros organismos do Estado, sobre
como poderíamos atender a toda
essa população. Através de escolas técnicas, universidades com
outras características e bolsas de
estudo para estudantes carentes
em universidades particulares.
Folha - A entrada de alunos por
cotas pode causar algum prejuízo
para a qualidade da universidade,
por serem estudantes que, em tese, estão menos preparados que os
das escolas particulares?
Melfi - Acho que sim, acho que a
cota tem esse problema e acho
que a cota também é uma questão
discriminatória. Agora, acho que
é um problema muito sério, que
nós vamos ter de estudar. Já existe
uma comissão no âmbito do
Cruesp (Conselho de Reitores das
Universidades Estaduais de São
Paulo) para estudar esse problema da exclusão.
Acho que temos de trabalhar
em diferentes frentes. Melhorar o
nível da escola pública, dar bolsas
para cursinhos [pré-vestibulares]
e ter avaliações de quais universidades privadas poderiam ter alunos com bolsa paga pelo governo.
Folha - Os críticos dizem que as
fundações são uma forma de privatizar a universidade pública. Qual o
papel das fundações na USP?
Melfi - Vejo as fundações de maneira benéfica para a universidade, por causa da agilidade de estabelecer convênios etc. O que acho
que precisa ser melhor definido é
de que maneira essa fundação deve se relacionar com a universidade. O que precisamos é ter um
controle efetivo dessas fundações.
Folha - O que o sr. chama de controle efetivo? Há algum problema
que precise ser corrigido?
Melfi - Hoje, as fundações provavelmente têm um controle financeiro muito maior. Não há
desvio de dinheiro, nada disso. O
problema é do relacionamento
com a universidade. Determinadas atividades que uma fundação
pode fazer, por que isso não é feito
pela universidade? Por exemplo,
ministrar cursos de extensão.
Folha - A reitoria tem alguma influência nessas fundações.
Melfi - Não. Elas funcionam todas fora da USP. Talvez algumas
dêem cursos dentro da USP. Esses
cursos dentro da universidade, as
fundações pagam pelo espaço.
Mas se elas dão um curso, estão
usando o nome da USP, que é
uma grife. Então acho que aí temos de ter um controle maior. Para uma atividade, o "overhead"
deveria ser de 30%; para outro, de
10%; para outro, não cobrar nada.
Folha - Mas como se regula isso?
Melfi - O assunto ficou muito
polarizado e não existia possibilidade de aprovar qualquer projeto
tentando regulamentar o uso.
Não existe esse perigo de privatização da universidade pública. Isso é bobagem.
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