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ENTREVISTA
A cada mês, instituição gasta R$ 24 milhões e recebe R$ 15 milhões do SUS
Déficit ameaça a Santa Casa de SP
DA REPORTAGEM LOCAL
Em mais de quatro séculos de
existência, as principais santas casas do país sobreviveram a revoluções, pestes, incêndios e falências recorrentes. Agora, estão
ameaçadas pela folha de salários e
por um sistema de pagamento em
que gastos sempre superam receitas. Correm o risco de quebrar.
A Santa Casa de São Paulo, considerada a maior do mundo -fez
1,16 milhão de atendimentos de
emergência e 45 mil cirurgias no
ano passado-, vem acumulando
um déficit de R$ 5,9 milhões por
mês. Dos R$ 24 milhões que gasta
mensalmente, recebe do SUS menos de R$ 15 milhões. A diferença
vem sendo empurrada junto aos
fornecedores ou parcialmente coberta com os constantes pedidos
de socorros e leilões que realiza
com doações recebidas.
Na última semana, a passagem
do ministro Humberto Costa por
São Paulo chegou a trazer algum
alento ao prometer que os hospitais universitários e de ensino
passariam a ser remunerados por
meio de contratos globais, não
mais por procedimentos.
Quer dizer, o hospital passaria a
ganhar, por exemplo, pelo fato de
manter um pronto-socorro de alta especialidade aberto 24 horas
por dia, independentemente de
quantos pacientes atendesse naquele dia ou mês. A nova prática
deve começar com os hospitais
universitários públicos.
"A proposta é muito boa, mas
de demorada execução, enquanto
nossos problemas são de curtíssimo prazo", diz Antonio Carlos
Forte, superintendente da Santa
Casa de São Paulo.
Abaixo, trechos da entrevista
que concedeu na sexta-feira:
Folha - O que mais preocupa o
hospital neste momento?
Antonio Carlos Forte - A folha de
pagamento. O dissídio da categoria é a partir de 1º de maio, e deve
ficar entre 10% e 19,2%, o índice
ainda está sendo negociado. Se ficar em 10%, a folha de pagamento, que é de R$ 14,5 milhões, aumentará em quase R$ 1,5 milhão.
Se ficar em 19%, custará mais R$
2,8 milhões. Se não houver uma
contrapartida, não vamos poder
pagar, qualquer que seja o índice.
E, se não pagarmos, haverá paralisações e graves consequências
para a maioria dos pacientes.
Folha - Qual a situação das outras
santas casas no país?
Forte - No país todo são 470, no
Estado de São Paulo, 280. A grande maioria vive em sérias dificuldades, dependendo da ajuda da
comunidade. A nossa, para ter
uma idéia, recebe do SUS exatos
R$ 63,50 para cada R$ 100 que
gasta. Isso antes do dissídio. O
que acontece, na prática, é que os
hospitais estão se descapitalizando, diminuindo a cota de atendimento pelo SUS, o que empurra
os pacientes para outros hospitais, que por sua vez ficarão cada
vez mais sobrecarregados. A saúde é uma atividade econômica para a qual o governo não repassa os
custos. Nossos valores estão congelados enquanto o dólar aumentou três vezes. E quando vamos
trocar a ampola de um tomógrafo, por exemplo, temos que pagar
em dólar. Essa situação está afetando todos os hospitais que têm
atendimento pelo SUS.
Folha - As propostas do governo
não trazem novas perspectivas?
Forte - Elas estão corretas ao
deixar de oferecer reajustes lineares. O governo vai pagar mais pelo procedimento que considerar
mais importante e necessário, de
forma a incentivá-lo. Vai aumentar o dinheiro para programas
prioritários, como o de Saúde da
Família, aumentará as consultas
nos hospitais públicos. Todas medidas importantes e necessárias.
Mas a situação das santas casas
precisa ser pensada com urgência. Além da contrapartida do governo, precisamos da participação dos cidadãos, pois as santas
casas sempre tiveram a característica de serem hospitais construídos e mantidos pela sociedade.
Por exemplo, a Santa Casa de São
Paulo tem oito hospitais, um deles geriátrico, outro para saúde
mental, além do central. No ano
passado foram feitos 2,6 milhões
de exames laboratoriais, 941 mil
atendimentos ambulatoriais e 103
mil internações.
(AURELIANO BIANCARELLI)
Para quem quer contribuir: telefones 0/
xx/11/3226-7042 e 3226-7045; ou pelo
site www.santacasasp.org.br
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