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OUTRO PERFUME
Conexões irregulares degradam ainda mais a qualidade de vida; só Burle Marx e Água Branca têm boas condições
Poluição afeta 9 dos 11 lagos de parques de SP
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Sol e céu azul. Dezenas de paulistanos aproveitam para se exercitar no parque da Aclimação (zona sul de SP). À beira do lago, uma
senhora faz tai chi chuan ao lado
das azaléias. Chegando mais perto da água, porém, a visão é bem
diferente. O "perfume" também.
Cinza escuro e opaco, com uma
nata verde espessa em alguns trechos da superfície e lixo, o lago
exala, em certos pontos, um mau
cheiro característico de esgoto.
O paradoxo se repete em quase
todos os parques da cidade: 9 dos
11 que têm lagos enfrentam problemas de poluição. Entre os
quais o do Ibirapuera, o da Cidade de Toronto e o do Jardim Botânico. Só os lagos dos parques Burle Marx e Água Branca, na zona
sul, estão em boas condições.
Embora alguns estejam em regiões nobres e um deles fique em
uma área de proteção ambiental,
os lagos são vítimas de conexões
irregulares e da inadequação da
rede de esgoto e das galerias de
água da chuva, que não acompanharam o crescimento da cidade.
Lixo jogado no chão e nos córregos que formam os lagos ajuda
a completar o quadro de degradação. Os dados são da Secretaria do
Verde e do Meio Ambiente, que
cuida dos 32 parques municipais;
do Instituto de Botânica, que
mantém o Jardim Botânico; e da
direção do Horto Florestal (os
dois últimos ligados ao governo).
Os lagos poluídos indicam danos à fauna aquática e ao equilíbrio do ecossistema dos parques e
implicam restrições ao aproveitamento dos locais para diversão e
lazer contemplativo, diz José Luiz
Negrão Mucci, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP.
Peixes e outros animais morrem por falta de oxigênio na água,
que se torna imprópria ao contato
humano, por ameaça de transmitir doenças. Isso impossibilita uso
de pedalinhos, barcos e o nado.
Os lagos muitas vezes apresentam trechos cobertos por uma
crosta verde que lembra uma sopa de ervilhas, mas é formada por
algas que se proliferam em excesso por causa da abundância de comida: nitrogênio e fósforo. O primeiro resulta da decomposição
de matéria orgânica, e o segundo
vem em geral de detergentes.
São as algas que consomem o
oxigênio da água e causam a mortandade e o mau cheiro.
"Sabesp [companhia de Saneamento básico de SP] e prefeitura
têm culpa conjunta na poluição",
diz José Roberto Brandão, diretor
no Depave (Departamento de
Parques e Áreas Verdes) da seção
de manutenção dos parques.
As ligações clandestinas de esgoto são feitas pelos moradores,
construtores ou, no passado, pela
própria Sabesp, que conectava
provisoriamente a rede de esgoto
na de água da chuva. "Mas o provisório virou definitivo", diz o engenheiro Luiz Fernando Orsini
Yasaki, consultor da Agência da
Bacia Hidrográfica do Alto Tietê.
Na área do parque da Aclimação, foram achadas 25 dessas ligações cruzadas. Segundo a Sabesp,
todas elas já foram desfeitas.
Quando as ligações clandestinas
são feitas pelos moradores, as razões vão desde a falta de informação até economia, uma vez que
quem se liga na rede paga o dobro
na conta de água (metade do valor equivale ao esgoto recolhido).
Por outro lado, as conexões
clandestinas acabam aprovadas
pelo município, que, concedendo
o habite-se a imóveis nessas condições, lhes dá aval, diz Brandão.
"O sistema separador [redes diferentes para esgoto e água da
chuva] só existe no papel", diz Ricardo Araújo, assessor da Diretoria Metropolitana da Sabesp. Segundo ele, além do despejo de esgoto nas galerias, ocorre o inverso. "Por isso às vezes a rede de esgoto não agüenta e extravasa."
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