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SAÚDE
Causas do distúrbio podem estar associadas às alterações hormonais comuns no período e a fatores psicossociais, segundo médicos
Insônia afeta mulheres no pós-menopausa
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A dona-de-casa Maria Edelma
da Silva, 54, não sabe o que é uma
noite bem-dormida há 15 anos,
quando entrou na menopausa.
Desde então, ela acorda sucessivas vezes na madrugada incomodada com as "ondas de calor" e a
transpiração excessiva.
Assim como ela, pelo menos
60% das mulheres na pós-menopausa se queixam de insônia -na
população feminina adulta é de,
no máximo, 40%. Outros distúrbios do sono, como apnéia, ronco, bruxismo e síndrome das pernas inquietas, também são freqüentes entre as mulheres nessa
fase da vida.
As causas desses distúrbios são
incertas, mas os médicos acreditam que elas estejam associadas
às alterações hormonais -devido aos fogachos e à transpiração,
por exemplo- e a fatores psicossociais, como a baixa auto-estima
e as crises familiares.
Uma pesquisa realizada pela
Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo) com mulheres na pós-menopausa mostrou que, quando
submetidas a exames polissonográficos, o índice de alterações no
sono chega a 83%.
Segundo a ginecologista Helena
Hachul de Campos, do departamento de psicobiologia da Unifesp, que fez o trabalho com tese
de doutorado, a queixa de insônia
melhorou com a reposição hormonal -estrogênios isolados ou
associados à progesterona.
O uso da progesterona também
propiciou diminuição da síndrome das pernas inquietas (movimento das pernas durante o sono) e da queixa de bruximo (ação
de ranger os dentes). Já o estrogênio, afirma a médica, teve ação
positiva nos episódios de apnéia
(obstrução parcial ou total das
vias aéreas durante o sono).
O estudo envolveu 33 mulheres
que não apresentavam contra-indicações ao uso de terapia de reposição hormonal (TRH), tinham
pelo menos um ano de amenorréia e não estavam usando TRH
ou drogas hipnóticas.
Para Edmundo Baracat, presidente da Febrasgo (federação das
sociedades de ginecologia e obstetrícia), que foi orientador da tese,
quando comparados os resultados da TRH com o efeito placebo,
as vantagens da reposição hormonal na redução dos distúrbios
do sono ficam evidentes.
Mas tanto Baracat como Campos reconhecem que fatores psicossociais também estão relacionados aos distúrbios do sono das
mulheres menopausadas. "Os filhos já casaram ou saíram de casa,
há crises conjugais. As mudanças
são grandes e simultâneas e, muitas vezes, levam a quadros de depressão e insônia", diz a médica.
O neurologista Luciano Ribeiro
Pinto Júnior também partilha
dessa opinião. Para ele, tirando as
causas secundárias -ambiente
barulhento, por exemplo- os fatores psicossociais são os que
mais afetam o sono das mulheres.
"A insônia é a ponta do iceberg."
Pinto Júnior afirma que o ideal é
tratar a mulher insone de forma
multidisciplinar, combatendo a
raiz do problema. A terapia comportamental, avalia o médico, tem
sido muito eficaz nesses casos.
"Não adianta dar hipnóticos."
Segundo o neurologista, é comum as pessoas superdimensionarem o problema do sono,
quando, muitas vezes, ele nem
existe. Exemplo disso é que 40%
dos pacientes que se queixam de
insônia, quando submetidas à polissonografia, apresentam resultados absolutamente normais.
Em uma consulta médica tradicional, avalia o neurologista, nem
sempre o especialista consegue
captar problemas psicossociais.
O desafio agora de Campos é
encontrar a melhor forma de tratar essas mulheres. Um grupo de
trabalho multidisciplinar foi criado e passará a tratá-las com derivados da soja, terapia de reposição hormonal, fisioterapia, psicoterapia e indutores de sono.
Segundo Helena, o tratamento
será iniciado com os derivados da
soja -isoflavonas- que têm sido utilizados para o alívio de sintomas da menopausa.
Serão selecionadas mulheres
entre 50 e 65 anos de idade -sem
doenças concomitantes, que não
estejam sendo medicadas com
hormônios ou soja ou indutores
de sono- com queixa de insônia.
As pacientes, explica a médica,
farão exame de polissonografia
(para confirmação da insônia) e
outros testes, como exames de
sangue, mamografia, ultra-sonografia e densitometria óssea.
As interessadas devem entrar
em contato pelo tel. 0/xx/11/
275.9420, de segunda a sexta das
9h às 12h, ou, pessoalmente, à r.
Marselhesa, 524, São Paulo.
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