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NARCOTRÁFICO
Investigação da Polícia Federal revelou poder do ex-garimpeiro Leonardo Dias Mendonça, preso na semana passada
Cem "laranjas" lavaram dinheiro de quadrilha
ALESSANDRO SILVA
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA E GOIÂNIA
O dinheiro do crime organizado
transformou o ex-garimpeiro
Leonardo Dias Mendonça, 39
-que já teve apenas uma loja de
material de garimpo em Roraima-, em um dos principais "barões" do narcotráfico do país, segundo investigações da Polícia
Federal. Na semana passada, a PF
prendeu 24 pessoas por suposta
ligação com a quadrilha de Mendonça, na ação batizada de Operação Diamante, realizada em nove Estados.
O esquema tem proporções tão
grandes que a polícia avalia que
terá de abrir cem inquéritos paralelos ao que levou à prisão do grupo para investigar a movimentação financeira da ""família" montada por Mendonça ao longo dos
últimos cinco anos.
Esse é o número aproximado de
""laranjas" que a quadrilha utilizou para lavar dinheiro e pagar
contas das operações. Um desses
depósitos chegou a US$ 180 mil
dólares, cerca de R$ 670 mil, creditados por um doleiro para o
também traficante Emival Borges
das Dores, preso na Operação
Diamante. Borges das Dores e
Mendonça estão na lista dos traficantes mais procurados pelo governo americano.
O poder financeiro de Mendonça teria feito crescer sua influência
sobre políticos e magistrados.
Gravações telefônicas feitas pela
PF devem levar o Supremo Tribunal Federal a investigar dois desembargadores do TRF (Tribunal
Regional Federal) da 1ª Região e
um ministro do STJ (Superior
Tribunal de Justiça) por suposto
envolvimento com esquema de
venda de habeas corpus para narcotraficantes.
O esquema envolveria ainda o
deputado federal Pinheiro Landim (PMDB-CE) e assessores de
seu gabinete, como o motorista
José Antonio de Souza, também
preso durante a operação.
Preso três vezes desde 99 por
envolvimento com tráfico, Mendonça, ou Leo, como é conhecido,
conseguiu três habeas corpus
-dois no TRF e um no STJ.
Esse ex-garimpeiro apresentou
o traficante Fernandinho Beira-Mar às Farc (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas),
quando estavam foragidos e escondidos nas áreas de plantio e
refino do colombiano Tomas Molina-Caracas, o Negro Acácio, outro traficante procurado pela
DEA (agência antidrogas dos
EUA), de acordo com a PF.
""Não eram sócios. Quem conhecia a região [na Colômbia" era
o Leonardo", diz o delegado Ires
João de Souza, 44, da Delegacia de
Repressão a Entorpecente da PF
em Goiás. Nesse Estado e no Pará
estariam as principais áreas de
atuação da quadrilha.
O grupo teria ainda ramificações nos Estados de São Paulo,
Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul, Amazonas, Rondônia, Roraima, Pará e Rio de Janeiro -por
causa de Beira-Mar-, conforme
relatório do juiz José Godinho Filho, da 5ª Vara Federal de Goiás,
que decretou as prisões da Operação Diamante.
Para o juiz, o grupo de Mendonça se assemelha à máfia italiana
em sua estrutura.
O Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Entorpecentes) de São Paulo investiga uma possível ligação entre
Mendonça e um dos maiores traficantes do Estado, Claudair Lopes de Faria, atualmente foragido.
Ninguém tem ainda a exata noção do patrimônio arrecadado
por Mendonça. A Folha apurou
que ele não possui bens em seu
nome, mas em nome de terceiros:
sua mulher é dona de uma confecção com rede de lojas e seu filho de 13 anos, por exemplo, tem
registrada uma caminhonete Pajero avaliada em R$ 109 mil.
O grupo do traficante negocia
drogas e armas dentro e fora do
Brasil. Neste ano, ele e seu irmão
Helder Dias de Mendonça, que
também está preso, acertaram a
venda de 3.000 kg de cocaína para
um traficante da Venezuela, conhecido como Mário, a um preço
estimado de US$ 25 mil o quilo da
droga refinada.
Durante a investigação, a polícia
rastreou o pagamento de Mendonça a Beira-mar de uma dívida
de cerca de R$ 1,5 milhão, referente a encomendas de drogas. Na
negociação, o advogado Denis
Gonçalves, preso por suposta participação no esquema, teria recebido uma casa em Goiânia, avaliada em US$ 200 mil.
De acordo com o Ministério Público Federal, Mendonça se utilizava da compra de terras e gado
para lavar o dinheiro. Em cinco
depósitos recebidos de Beira-Mar, ele teria repassado cerca de
R$ 72 mil para adquirir gado.
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