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NARCOTRÁFICO
Investigações sobre corrupção no órgão extinto em 2001 e venda de drogas têm elo em doleiro de Belém
Casa de câmbio é a mesma do caso Sudam
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Duas das maiores investigações
em curso no Brasil, a da rede de
narcotráfico desbaratada na semana passada em vários Estados
e a dos desvios de verba da Sudam
(Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia, extinta em
2001), se cruzaram em Belém. Os
dois esquemas usaram a mesma
casa de câmbio da capital paraense, a Cruzeiro, para lavar dinheiro, dizem a Polícia Federal e o Ministério Público Federal.
Não há, até agora, ligação direta
entre os principais acusados dos
dois esquemas investigados.
A rede do tráfico foi alvo da chamada Operação Diamante, que
prendeu 23 pessoas na segunda-feira passada -inclusive Leonardo Dias Mendonça, acusado de liderar a rede criminosa que, diz a
PF, movimentou pelo menos R$
15 milhões nos últimos dois anos.
Já a apuração sobre a Sudam começou em 2001. A Promotoria estima que os desvios foram de cerca de R$ 1,6 bilhão.
O dono à época da casa Cruzeiro, o doleiro José Samuel Benzecry, 40, teve quebrados os sigilos fiscal, bancário e telefônico. O
esquema de lavagem começou a
ser desvendado com a apreensão,
no Rio, pela PF, em 1999, de US$ 2
milhões que estavam com Ourovida Serruya Benzecry, 38, mulher
do doleiro. Segundo relatório da
PF a que a Folha teve acesso, o dinheiro vinha dos EUA e pertencia
a Mendonça. Para tentar liberar o
dinheiro, ele acionou o advogado
Amaury Perez, que também defendeu o doleiro até segunda-feira
passada, quando foi preso em São
José do Rio Preto (SP).
A partir da apreensão dos dólares no Rio, a PF passou a investigar a casa de câmbio Cruzeiro.
"O Amaury Perez era advogado
do Leonardo e do Benzecry. A casa Cruzeiro lavava o dinheiro da
organização. Era esquentado
muito dinheiro com o envio para
o exterior. Esse dinheiro depois
voltava para o Brasil legalizado",
diz o superintendente da PF no
Pará, Geraldo Araújo.
Cheques
Em novembro de 2000, pouco
antes de a Cruzeiro fechar, policiais federais apreenderam documentos e cheques no local. Aí veio
a surpresa: seis dos cheques
apreendidos, no total de R$ 2,47
milhões, eram da Sudam. Os cheques serviram como prova em
uma denúncia da Procuradoria
da República contra o ex-senador
e deputado eleito Jader Barbalho
(PMDB-PA).
Os cheques estavam em um envelope destinado a Antônio José
Costa de Freitas Guimarães, descrito na denúncia como ""principal assessor de Jader".
Benzecry não foi localizado pela
reportagem no Rio de Janeiro, para onde se mudou há cerca de dois
anos. O advogado dele, Amaury
Perez, em entrevista à Agência
Folha em agosto passado, negou
as acusações de que o doleiro estivesse envolvido em operações ilegais de remessa de dinheiro para
o exterior. No escritório de
Amaury Perez na última sexta-feira, ninguém foi encontrado para comentar o caso.
Em depoimento à Justiça Federal, em Belém, Jader classificou
como "fantasiosa" a acusação de
que teria remetidos cheques ao
doleiro José Samuel Benzecry via
Sedex.
Jader disse "estranhar" a acusação e declarou que a farsa contra
ele foi "tão malfeita" que os valores dos cheques ultrapassam os
valores liberados pela Sudam. O
ex-senador também negou envolvimento com as acusações de desvio de verbas na Sudam. Na sexta-feira, Jader não foi localizado pela
Agência Folha para falar novamente sobre o caso.
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