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BALADA MARGINAL
Líderes aparecem nas letras das músicas e na lista de agradecimentos das gravações, que chegam a vender 3.000 cópias
CDs e bailes funk exaltam PCC no litoral
ANDRÉ CARAMANTE
DO "AGORA"
São Paulo também tem baile
funk. E, assim como acontece há
vários anos no Rio de Janeiro, o
público que superlota os bailes todos os finais de semana nas cidades do litoral do Estado tem uma
nova mania: exaltar uma organização criminosa e seus líderes.
Enquanto cariocas dançam e
cantam hinos das facções Comando Vermelho, Terceiro Comando e Amigo dos Amigos
(ADA), os paulistas do litoral do
Estado cultuam o PCC (Primeiro
Comando da Capital), organização criminosa que age dentro e
fora dos presídios de São Paulo.
Líderes do PCC também são
aclamados nas músicas, principalmente Sandro Henrique Silva
Santos, o Gulu -o bandido mais
temido da Baixada Santista-, e
Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola.
Os nomes dos líderes aparecem
não só nas letras, mas também
nas listas de agradecimentos dos
"proibidões" paulistas, como são
chamados os CDs dos funkeiros.
Prova disso é o CD "Taleban
Parque dos Monstros", dos MCs
-mestre-de-cerimônia- Renatinho e Alemão, dois dos funkeiros mais antigos de Santos, que
cobram de R$ 150 a R$ 200 por
um show em que, além de declamarem rimas de apoio ao PCC,
também cantam funks românticos e outros mais descontraídos.
Eles também cantam em eventos beneficentes, em que agasalhos e alimentos são arrecadados
e depois distribuídos para comunidades carentes do litoral.
Com tiragem de 3.000 cópias, o
disco -lançado no começo deste
ano e com custo de aproximadamente R$ 1.500- teve 1.300 unidades vendidas, algumas a R$ 10 e
outras a R$ 13,90. O que ficou encalhado é distribuído aos jovens
que vão aos bailes onde Renatinho e Alemão cantam.
Nos dias 6, 7 e 8 deste mês, a dupla lotou bailes em São Vicente,
Praia Grande e no Morro do Fontana, no centro de Santos.
Nas prisões paulistas dominadas pelo PCC, também conhecido
como "Partido do Crime" ou
"1533" (porque o P é a 15ª letra do
alfabeto, e o C, a 3ª), os funks da
dupla santista são reverenciados
como hinos da facção criminosa.
"Se liga seu verme, não vai vacilar/Chegando na muralha vamos
lhe pegar/Organização original
Primeiro Comando da Capital/
Para todos os vermes tente me entender/Renatinho e Alemão é um
pê e dois cês", diz a letra de "Parque dos Monstros", um dos destaques do CD.
Ao mesmo tempo em que enaltece o PCC, "Taleban Parque dos
Monstros", cuja capa é uma montagem da foto de Renatinho e Alemão usando capuz, óculos escuros e boné estilo militar, com o
World Trade Center em chamas
ao fundo, também tem letras que
passam mensagens para que os
jovens não entrem para o crime,
caso de "Véu da Maldade".
Outros funks, como "Só os Fortes", mesclam evangelização e o
Partido do Crime. O lema da facção, "Paz, Justiça e Liberdade",
aparece na maioria das letras.
No dia 7 deste mês, Renatinho e
Alemão promoveram o lançamento oficial de seu 5º CD, batizado de "Guerreiro Não Gela". A
tarde de autógrafos aconteceu na
loja de discos Ponto X, localizada
dentro do Shopping Épocas, no
centro de São Vicente.
Das 19 faixas de "Guerreiro Não
Gela", 12 citam o PCC e seu lema.
Desse número, sete foram gravadas em shows da dupla, nos morros do Chaparral e do Santa Rosa,
em Santos.
Várias rádios piratas também
tocam os funks enaltecendo a facção criminosa. Uma delas é a Rádio X FM (90,5 Mhz), que funciona em um pequeno prédio comercial na periferia de São Vicente. A rádio também recebe ligações de presos que, pelo celular,
pedem as músicas do PCC.
O delegado Alberto Corazza, diretor do Departamento de Polícia
Judiciário do Interior 6 (Deinter),
de Santos, disse que a polícia de
toda a Baixada Santista não tem
conhecimento dos bailes funk,
dos CDs e das rádios FMs que falam da maior facção criminosa de
São Paulo.
"Não sabemos de nada sobre esse assunto", afirmou Corazza.
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