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INCLUSÃO SOCIAL
Projeto da prefeitura conseguiu adesão de moradores, que tinham criado associação para combatê-lo
SP vai atender catador e seu melhor amigo
EDNEY CIELICI DIAS
DA REDAÇÃO
"Resgatar a auto-estima" é uma
expressão que está em moda em
determinada parte da Barra Funda, bairro da zona oeste de São
Paulo, próximo ao centro. Esse
gosto idiomático começou a se difundir no começo deste ano,
quando a prefeitura decidiu utilizar uma antiga oficina municipal
de reparo de veículos para dar assistência à população de rua.
No começo, a iniciativa sofreu
resistência dos moradores e de
quem investia na região, mas hoje
os oponentes se transformaram
em aliados, pois passaram a ver
na proposta uma forma de melhorar as condições do local.
O Projeto Oficina Boracea pretende ser uma unidade de referência na reinserção social da população de rua (cerca de 8.700 vivem nas ruas da capital).
"O projeto rompe com a idéia
de que a população de rua deva
ser tratada precariamente", diz a
secretária municipal da Assistência Social, Aldaíza Sposati. "O que
está por trás é a filosofia de dignidade humana e o conceito de sutileza no trato", complementa.
Nesse contexto de dignidade e
sutileza, o Boracea vai permitir,
por exemplo, que os moradores
de rua sejam atendidos conjuntamente com seus cães. "Eles não ficam longe de seus animais. Pode
faltar comida para o dono, mas
não para o cão", explica o padre
Antonio Carlos Reami, 53, diretor
do Abrigo Dom Bosco, entidade
mantida por religiosos salesianos,
pioneira em aceitar catadores
com seus carrinhos e seus animais
(ver texto ao lado).
O projeto ocupa 17.700 m2 (2,5
campos oficiais de futebol) e deve
atender cerca de mil pessoas por
dia quando estiver completamente pronto. Vai oferecer banheiros
individuais, com espelho, para incentivar a auto-estima. Os leitos
são concebidos para preservar a
intimidade das pessoas. Haverá
guarda-volumes, posto de emissão de documentos, posto bancário e central de internet.
Os moradores de rua terão acesso a oficinas que vão ensinar
aproveitamento de material reciclável, restauração de móveis,
costura, feitura de pequenos reparos domésticos (encanamento,
eletricidade). Haverá cursos de alfabetização e leitura. Os abrigados
terão também cinema e teatro.
A primeira parte do projeto, que
vai atender 90 catadores com carrinho, deve ser inaugurada em
março. O Boracea terá um custo
de R$ 20,2 milhões, computando
o funcionamento por cinco anos
-60% a ser financiado pelo BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento), 40% vêm da prefeitura, do governo federal e de parceiros da iniciativa privada.
O projeto faz parte do programa
de reabilitação do centro, que prevê investimentos de R$ 614 milhões, 40% deles voltados a iniciativas diretas contra vulnerabilidades sociais e de inclusão social.
Resistência e adesão
"Devemos resgatar a auto-estima deles, mas sem perder a nossa", diz Jaime de Melo Costa Filho, 52, da Associação Defenda a
Barra Funda, criada para combater o Boracea. Eles temiam que o
projeto degradasse a área. Hoje a
entidade é parceira da iniciativa.
A aceitação do projeto se deu
após uma série de negociações
com a prefeitura. Os moradores
pediram que a entrada do Boracea fosse feita em um local que diminuísse a circulação de pessoas
de rua pela região. Dentro da área
do projeto, vai haver uma base da
Polícia Militar e um centro comunitário dos moradores do bairro.
"É, paradoxalmente, uma forma de melhorar a região. Vai possibilitar a retirada das pessoas das
ruas e permitir que o Estado faça
um trabalho com elas", diz Sergio
Segall, 46, diretor da Klabin Segall
Empreendimentos, que está
construindo quatro torres na Barra Funda (400 apartamentos).
"Em um primeiro momento, foi
anunciado um albergue com sopão. Isso causou uma grande confusão. A prefeitura foi obrigada a
conversar e a ceder. Hoje, o governo municipal tem o compromisso
de transformar aquilo em um
projeto-modelo", diz Segall.
A assessoria da Secretaria da
Assistência Social diz que o projeto sempre teve a ambição de ser
algo maior. De qualquer maneira,
a Klabin Segall se transformou em
uma parceira do projeto.
"Se 100% for realizado, vou ter
orgulho de dizer que moro perto
do projeto", diz o presidente da
Defenda a Barra Funda.
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