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Ter confiança é essencial para atendido
DA REDAÇÃO
O Projeto Oficina Boracea procura aplicar conjuntamente uma
série de experiências com moradores de rua já postas em prática
em outras partes do mundo. Mas
uma das fontes de inspiração está
bem próxima dele. Trata-se do
Abrigo Dom Bosco, mantido pelo
Liceu Coração de Jesus, nos Campos Elíseos (centro).
A entidade recebe os catadores,
os seus carrinhos e os seus animais. No abrigo, eles têm armários para guardar seus pertences,
possuem banheiro individual e
podem usar a cozinha.
A entidade é pioneira em aceitar
os carrinhos dos catadores e também seus animais. Ela também
trabalha com a idéia de aumentar
a auto-estima.
"O trabalho deles é importante
do ponto de vista da reciclagem.
O lixo é muito rico. Eles precisam
ter consciência da própria importância", diz Regina Lopes de Oliveira, 36, assistente social da instituição.
O Dom Bosco é algo distante da
imagem repressora e despersonalizada dos abrigos.
"Este é um lugar em que eles podem confiar", diz o padre Antonio Carlos Reami, diretor da entidade, que funciona desde fevereiro de 2001 e acolhe até 55 pessoas
-na sua grande maioria homens
e um ou outro casal.
O catador João Carlos da Silva,
56, vivia na rua porque não queria
se separar de suas duas cadelas,
Bigui e Princesa. "Para elas não
deixo faltar nada", diz.
Silva foi trabalhador da construção civil. Hoje fatura de R$ 10 a R$
15 por dia como catador. Ele não
vê sua família, que mora em Botucatu (SP), desde 1990 e diz que
não sente falta dela. "Aqui são todos irmãos. Um serve o outro."
O catador Silva está no abrigo
desde a fundação. O período de
permanência mais comum é de
uma semana a cinco meses, tempo em que muitos deles procuram reconstruir suas vidas e arranjar um lugar para morar, como um barraco.
Arrumar um quarto para morar
e depois voltar para a Bahia é a
ambição de Dorival Gomes de Sá,
37. Até recentemente, como não
tinha um carrinho, ele recolhia
pouca coisa. Ganhava de R$ 5 a R$
6 por dia. Conseguiu economizar
R$ 40 e pôde comprar o veículo de
trabalho. Agora tem a expectativa
de faturar R$ 300 por mês.
Os catadores empurram seus
carrinhos dez horas por dia em
média e vendem o que recolhem
em depósitos próximos da coleta.
Padre Reami explica que é difícil
atrair a população de rua para um
abrigo. "Alguns não querem perder a sua liberdade. Amam uma
liberdade absoluta. Eles encontram tudo de que precisam na rua
e não se importam com a insegurança. Depois há a questão da bebida. Alguns não conseguem ficar
sem ela." É proibido beber dentro
do Dom Bosco.
Todos os abrigados entrevistados pela Folha tiveram problemas com o álcool. Alguns pararam, pois quase morreram em razão do vício. É o caso de Paulo
Corrêa de Brito, 52, que parou de
beber há cinco anos, depois de
uma internação de um mês para
se recuperar.
Outros dizem beber de forma
controlada na rua. O catador Silva, por exemplo, fala que toma
duas ou três "dosinhas". Há casos
de pessoas que se recuperam da
dependência de outras drogas,
como o crack.
Os responsáveis pelo Dom Bosco ressaltam a importância de
ações de convencimento. Os moradores de rua têm receio de procurar os abrigos, dos quais possuem uma imagem ruim. "Funciona um boca-a-boca. Um experimenta, fala para o outro que é
bom", afirma padre Reami.
(ECD)
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