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JUSTIÇA SOB AMEAÇA
Presidente do Senado e secretário-geral da CNBB afirmam que país poderá se igualar à Colômbia
Crime organizado acua o país, diz Sarney
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), afirmou estar "perplexo" com o assassinato
do juiz Antonio José Machado
Dias. Ele disse acreditar que a situação brasileira, se continuar no
ritmo atual, levará o país a se igualar à Colômbia, que, segundo ele,
sofre uma infiltração do narcotráfico nas diversas esferas da administração pública.
"Verifica-se com este assassinato a profundidade da insegurança
no país, que a infiltração de métodos do crime organizado nas esferas públicas já acuam nosso país
como acuaram a Colômbia, que
só está na situação em que está
porque as forças do narcotráfico
infiltraram-se, paralisaram e atemorizaram o Judiciário."
Segundo Sarney, o assassinato
do juiz Antonio José Machado
Dias representa um "alarme" para que a questão da segurança seja
tratada com a devida prioridade.
O secretário-geral da CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil), d. Raymundo Damasceno, tem a mesma opinião. Ele
afirmou que a situação da segurança pública no país se assemelha à que ele viu quando esteve na
Colômbia, entre 1991 e 1995.
"É uma situação bastante parecida. Lá, mais de 200 juízes foram
assassinados pelo crime organizado", disse.
Segundo Damasceno, o crime
"avança e ganha terreno" no país,
sendo que, para mudar isso, seria
fundamental uma resposta "dura,
corajosa e rigorosa" do governo
ao assassinato do juiz.
O presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal), ministro Marco Aurélio de Mello, acredita que
o assassinato de Antonio José Machado Dias tenha relação com sua
função de juiz-corregedor.
Apesar disso, diz que, por ora, é
"presunção" acreditar que o traficante Fernandinho Beira-Mar esteja ligado ao crime.
"De qualquer forma, isso mostra a inoperância do sistema [carcerário". Beira-Mar foi transferido de um presídio de segurança
máximo para outro, como se isso
fosse solução. Há algo que precisa
ser corrigido", afirmou Mello. Ele
qualificou o crime como hediondo. "Ele foi pego de surpresa, sem
a menor chance de reagir."
Segundo Mello, a morte do juiz-corregedor é um sinal de que se
chegou a um ponto intolerável.
"Se cumprir a lei e fazer cumprir a
lei implicam risco de vida, estamos muito mal."
Para Perly Cipriano, diretor da
Secretaria Nacional de Direitos
Humanos, é necessário apurar o
crime o mais rapidamente possível para esclarecer uma eventual
relação entre o assassinato do juiz
e o crime organizado.
Cipriano, que é ex-secretário da
Justiça do Espírito Santo - onde
ficou provada a relação entre o
crime organizado e as autoridades estaduais-, disse que esses
grupos criminosos costumam ter
vinculação com setores organizados da sociedade e até com o autoridades. Esses motivos reforçam, segundo ele, a necessidade
de uma apuração rápida e precisa.
Para o presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do
Brasil), Paulo Sérgio Domingues,
os trabalhos de investigação não
podem terminar com a apuração
da morte de juiz-corregedor.
"Temos que cortar o mal pela
raiz. É preciso acabar com as cabeças do crime organizado. E elas
não estão nos morros. Estão nos
esquemas de lavagem de dinheiro
e de tráfico e armas", disse.
A solução, segundo o juiz federal, é a reestruturação da polícia:
"Uma polícia sucateada não consegue investigar. Além disso, não
temos nem sequer um cadastro
nacional de pessoas que estão
sendo processadas, condenadas e
foragidas. Isso favorece o crime
organizado".
Domingues conheceu o juiz assassinado em 1997, quando trabalhou em Presidente Prudente.
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