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Assassinato é apontado como "gravíssimo"
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
O assassinato do juiz Antonio
José Machado Dias foi considerado um episódio gravíssimo, que
aponta para uma tentativa de intimidação do crime organizado
contra a sociedade, embora não se
tenha certeza sobre a autoria.
É o que dizem policiais federais,
advogados criminalistas, juízes e
autoridades da área de segurança
pública ouvidos pela Folha.
O secretário da Administração
Penitenciária do Rio de Janeiro,
Astério Pereira de Souza, disse
não ter dúvidas da ação do crime
organizado. Comparou o caso aos
assassinatos de magistrados na
Colômbia (pelo narcotráfico) e na
Itália (pela máfia).
Souza é responsável pelo controle do sistema penitenciário de
Bangu. Até ser transferido para o
presídio de Presidente Bernardes
(na alçada do juiz morto), o traficante Luiz Fernando da Costa, o
Fernandinho Beira-Mar, cumpria
pena em Bangu 1.
O diretor da DRE (Delegacia de
Repressão a Entorpecentes) da
Polícia Federal, delegado Getúlio
Bezerra, disse que, embora não se
saiba de onde partiu o ataque ao
juiz, a morte pode ser uma ação
organizada contra uma autoridade que o combatia o crime.
"É uma audácia muito grande
matar um juiz, uma tentativa de
intimidação. Mas pode acabar
tendo um efeito reverso, de mobilização ainda maior da sociedade
e da magistratura contra o crime
organizado", afirmou o delegado.
O ex-ministro da Justiça Miguel
Reale Júnior disse que é prematuro concluir a autoria do crime, e
que alguém pode ter matado o
juiz para culpar Beira-Mar.
"Quem estava pensando em
matar o juiz poderia estar pensando nisso. Nesse clima de emocionalismo, é fácil ligar o crime a Beira-Mar. Recentemente houve outros casos em que se imaginava
um certo motivo para um crime e
na verdade era outro."
O coronel PM Jorge da Silva,
presidente do Instituto de Segurança Pública do Rio, também
considera cedo para atribuir o crime a Beira-Mar.
O senador Magno Malta (PL-ES), que presidiu a última CPI do
Narcotráfico na Câmara, quando
era deputado, disse que esse crime é do estilo do que está acontecendo na Colômbia. "Nós entramos num Estado de exceção e
precisamos de uma legislação específica", disse.
O presidente do Tribunal de
Justiça do Rio, Miguel Pachá, disse ser necessário investigar a verdadeira motivação do caso.
"Se o motivo do crime tiver sido
mesmo represália de marginais
presos, devemos nos lembrar da
Itália, onde o Judiciário desencadeou a Operação Mãos Limpas, e
as mortes de alguns juízes fizeram
com que o Judiciário se unisse para combater o crime organizado."
A Associação dos Magistrados
do Estado do Rio divulgou nota
intitulada "Colômbia ou Brasil?".
Afirma que o assassinato é um
atentado contra o Estado democrático de Direito. A entidade informa que apresentará ao Tribunal de Justiça um plano de emergência preventivo para segurança
dos juízes do Rio de Janeiro.
Colaborou FABIANA CIMIERI, free-lance
para a Folha
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