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CAOS NO RIO
Vizinho é entreposto de armamento; controle de fronteira melhoraria situação, mas PF diz não ter pessoal
Paraguai alimenta tráfico de armas e drogas
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
Uma das soluções para reduzir a
entrada de drogas e o contrabando de armas seria realizar um
controle ostensivo da fronteira
com o Paraguai.
Segundo a PF (Polícia Federal),
o país vizinho é uma das duas
principais portas de entrada de
cocaína e maconha no Brasil (a
outra é a Bolívia), além de ser um
dos maiores entrepostos de armas
e munições da América do Sul.
Dados da PF revelam que a
maior parte das apreensões de
maconha feitas no Brasil no ano
passado foram no Mato Grosso
do Sul, que faz fronteira com o Paraguai, maior produtor sul-americano de maconha.
Das 191 toneladas da droga interceptadas pela instituição em
2002, 98 t foram achadas no MS.
Na última quinta-feira, sete toneladas de maconha foram apreendidas pela PF no Rio dentro de
um caminhão frigorífico.
Segundo as investigações, a droga foi produzida no Paraguai, entrou pelo MS e abasteceria a favela
Beira-Mar, reduto do traficante
Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, preso em
Presidente Bernardes (SP).
Outra prova da força da rota paraguaia é que 73% do total de
apreensões de maconha feitas pela Polícia Rodoviária Federal
(PRF) neste ano ocorreu no Paraná e em Mato Grosso do Sul.
O Paraguai também é porta de
entrada da cocaína colombiana
no Brasil, de acordo com a PF.
Quadrilhas de traficantes brasileiros, como as de Beira-Mar e Leonardo Dias de Mendonça, compram armas no país e vão até a
Colômbia trocá-las por cocaína
com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Legislação frouxa
Por não possuir uma legislação
que controle a compra e o uso de
armas e munição, o Paraguai se
tornou um dos grandes entrepostos do continente.
Em agosto do ano passado, a PF
apreendeu, no Rio, 50 mil munições de diversos calibres, todas
elas vindas do Paraguai.
A entrada de cocaína via Bolívia
também preocupa. A cocaína boliviana entra no Brasil por Mato
Grosso e Rondônia e vai até o Sudeste pela malha rodoviária. Neste ano, 91,6% da cocaína apreendida pela Polícia Rodoviária se
concentrou nos dois Estados.
Segundo a PF, o Suriname também se tornou uma importante
rota de entrada de armas e drogas
para o Brasil.
Dificuldades
Embora tenha conhecimento
das principais rotas de entrada de
armas e drogas no Brasil, delegados e agentes da PF e da Polícia
Rodoviária ouvidos pela Folha
enumeram muitos fatores que os
impedem de combater o tráfico.
Para o chefe de operações da
PRF, Reynaldo Szydlokski, o efetivo reduzido é um obstáculo
grande. Segundo ele, a instituição
conta com 7.700 homens para policiar uma malha rodoviária de
aproximadamente 65 mil km que
recebe, anualmente, 32 milhões
de veículos. Para ele, o efetivo deveria ser, no mínimo, dobrado.
O delegado da PF Mauro Spósito também considera o efetivo de
sua corporação insuficiente, principalmente nas fronteiras. "Existem menos de 2.000 policiais nas
fronteiras", declarou. O país tem
15.700 km de fronteiras terrestres.
Para tentar resolver o problema,
o ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, anunciou na semana passada a criação de 5.000
vagas na PF.
Szydlokski disse que a ausência
de um banco de dados unificado
entre as instituições policiais dificulta a identificação de criminosos. Afirmou ainda que a PRF não
dispõe de um aparelho de raios X
para examinar cargas.
O desvio de armas de quartéis
das Forças Armadas- 36 no ano
passado no Exército em todo o
país- e a corrupção nas instituições policiais são dois outros obstáculos que atrapalham a guerra
contra o narcotráfico.
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