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"DELIVERY"
Usuários podem receber a droga disfarçada em buquês de flores, em pizzas e até em ovos de Páscoa
Serviço entrega cocaína em domicílio
DA REPORTAGEM LOCAL
"Grã-finos com muito dinheiro, tipo executivo, empresário,
esses querem segurança e pagam por isso. Preferem que a entrega seja feita no escritório, no
horário comercial, disfarçada
em pacotes, em buquês de flores,
pizza, até em ovo de Páscoa. Se o
cliente é dos Jardins, vai pagar
R$ 150 por uns quatro gramas,
de boa qualidade. Se é da periferia ou bairro central, vai pagar
R$ 70 ou R$ 80 e vai levar uns
três gramas, muitas vezes batizada (com alguma mistura)." O relato é de Cláudio, 37, "nome de
guerra" de um assistente de vendas que há cinco anos dedica
parte de seu tempo a fazer entregas de cocaína em domicílio.
Giovanni Quaglia, diretor no
Brasil do Escritório das Nações
Unidas para o Combate ao Crime e às Drogas, diz que o tráfico
e suas ações ousadas são financiadas pelas classes média e alta.
Em troca de segurança, pagam
cada vez mais, incluindo o preço
da entrega. Uma das propostas
de Quaglia é chamar a atenção
dos consumidores para a sua co-responsabilidade no crime.
O "entregador" Cláudio não se
considera um "passador de drogas" como os outros. Diz que só
entrega a amigos e conhecidos,
que sabem o número de seu celular e em quem tem total confiança. "Há mais de 20 anos conheço gente que faz de tudo nesse meio, por isso sei como funciona." Abaixo, trechos do depoimento que deu à Folha:
"O delivery cobra de acordo
com a quantidade que entrega. É
10% do valor do negócio, em dinheiro ou em mercadoria. A taxa de entrega pode até ser menor
se a encomenda for grande, acima de 50 gramas. Gente com dinheiro que costuma cheirar nos
fins de semana costuma fazer
um pool; compram 50 gramas,
depois dividem.
A forma de entrega é sempre
combinada com o cliente, a maneira como o entregador vai se
identificar, como será passado o
dinheiro, tudo da forma mais segura para os dois. É sempre durante o dia, de preferência no escritório, longe da família. Telefonar pedindo de madrugada pode custar o dobro, mas no meu
caso eu desligo o celular e pronto. No final de semana também
não adianta ligar. O resto da semana costuma ser bom todos os
dias, até as segundas-feiras.
Meus clientes não são dependentes, na maioria, mas usam
todo final de semana. Os que
têm dinheiro gastam uns R$ 600
a R$ 800 por mês. Os que têm
menos ficam entre R$ 200 e R$
300. Mas tem gente que um dia
começa a cheirar, fica fissurada e
sai de madrugada procurando
coca, pega o carrão e vai para as
bocas. Lá é bem mais barato e
bem servida, mas o risco é grande. Tem boca como a do Colina,
a do Jardim Elba, a do Jardim
Miriam, da Brasilândia, que chega a formar filas de carro na madrugada. Até carro importado.
As boas bocas de São Paulo
chegam a vender de oito a dez
quilos por semana. Contando
umas 400 bocas, muitas fraquinhas, vai dar por baixo um movimento de dez toneladas de cocaína por mês na cidade. É por
baixo. E, se a gente puser a R$ 40
por grama, vai dar um movimento de uns R$ 400 milhões
por mês".
(AURELIANO BIANCARELLI)
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