DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos focos dos profissionais que trabalham com os transtornos emocionais na primeira infância são as UTIs neonatais, que nos últimos 20 anos passaram a garantir a sobrevivência de bebês prematuros cada vez mais cedo.
Porém, a mesma tecnologia que salva, pode prejudicar o desenvolvimento neuropsicomotor e a qualidade de vida dos bebês.
As internações repetidas, o processo doloroso e a separação precoce dos pais, além do medo de morte permanente, podem representar grandes riscos psíquicos ao bebê prematuro, segundo a psicanalista Cláudia Fernandes, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Bebê.
De acordo com Fernandes, a hospitalização em idade muito precoce pode se configurar como um corte no desenvolvimento da criança e na relação com a mãe.
Quanto mais prematuros, mais dependentes são os bebês de uma outra pessoa para lidar com os aspectos desorganizantes gerados pela falta de estímulos adequados ao desenvolvimento e pelo excesso de estímulos nocivos a ele, como os ruídos provenientes de aparelhos de monitoração, da própria fala e da atuação das equipes, que altera o ciclo de sono e vigília dos bebês.
Segundo a fonoaudióloga e psicanalista Eloisa de Lacerda, os pais poderiam ser os grandes compensadores do estresse vivenciado pelo bebê, mas, muitas vezes, sentem-se desautorizados e incapazes de atuar nos cuidados de seu filho, havendo, inclusive, dificuldades no reconhecimento desse bebê como sendo deles.
"A mãe não toma aquele bebê como dela. Ele acaba sendo do profissional que o atende", diz Lacerda.
Outra questão que pode gerar estresse na relação entre mãe e filho na primeira infância é o aleitamento materno.
Segundo os psicanalistas, a mulher, em geral, sente-se pressionada a amamentar, ainda que não esteja em condições psíquicas para tal. "Isso pode ser grave para ela e para o bebê. O desejo da mãe deve ser respeitado", diz a psicanalista Cláudia Fernandes.


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