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SAÚDE
Em centro de atendimento no Rio, procura por apoio cresceu 150%; para especialista, atendimento dirigido motivou crescimento
Mais mulheres buscam ajuda para deixar as drogas
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Os mais variados indicadores
demostram que a mulher está trabalhando mais, competindo
mais, conquistando mais status
socioeconômico, ficando mais estressada e adquirindo problemas
de saúde que antes eram "privilégio" dos homens.
Embora não existam estatísticas
que permitam afirmar que as mulheres estejam bebendo mais ou
consumindo mais drogas, dados
colhidos pela Folha em diversas
fontes deixam claro: aumenta o
número de mulheres que estão
buscando tratamento para se
afastar da dependência química.
Esse aumento chega a ser de
150% em um centro de atendimento do Rio. Em São Paulo, enquanto o serviço do Hospital das
Clínicas dedicado às mulheres
amplia suas vagas para atender à
crescente demanda, médicos de
consultórios particulares registram multiplicação dos casos.
Dois prováveis motivos para
que isso ocorra: por conta de mais
informações, a mulher está enfrentando a vergonha de assumir
que é dependente e agora já sabe
que, ao procurar tratamento, encontrará ambientes voltados para
as suas particularidades.
Segundo a literatura médica, o
organismo da mulher é menos
suscetível aos efeitos da cocaína,
então ela responde melhor aos
tratamentos para se livrar da dependência. Enquanto entre os homens o índice de adesão à abstinência durante o tratamento fica
em apenas 30%, o aproveitamento entre mulheres atinge 60%.
Outras particularidades relativas à mulher: a maioria das dependentes consome álcool e relata
que foi apresentada à cocaína pelo
companheiro (que em geral também é dependente) e que busca a
droga para fugir da depressão, do
isolamento social, de problemas
familiares e de distúrbios de saúde. Os homens, na maioria das vezes, relatam que usam a droga
apenas pelo "barato" em si.
Dados do Cead (Conselho Estadual Antidrogas), órgão da Secretaria de Justiça e Direitos do Cidadão do Rio, comprovam o aumento da preocupação da mulher
com o problema. O volume de homens que pela primeira vez procuraram o serviço cresceu, nos
três primeiros trimestres de 2003,
cerca 130%, e o de mulheres, 28%.
De lá para cá, a coisa mudou: o
número de mulheres que buscaram ajuda cresceu mais de 150%,
passando de 55 para 142 casos.
Entre homens e mulheres, informa Murilo Asfora, diretor do
Cead, foram feitos, em 2003, 1.895
atendimentos de novos pacientes.
Destes, 44% diziam ser preferencialmente consumidores de álcool e 26% de cocaína, mas, no caso das mulheres, diz a psicóloga
Sabine Cavalcante, a combinação
álcool-cocaína predomina. Há
ainda casos de abuso de maconha, inalantes e anfetaminas.
Segundo ela, o atendimento em
separado das mulheres no dia-a-dia do Cead surgiu como uma decorrência da própria prática clínica. "Ficava difícil atender a um casal, por exemplo, quando havia
indícios de violência doméstica
ou quando quem tinha estimulado a mulher a consumir cocaína
era o companheiro."
Serviço pioneiro
O primeiro serviço voltado exclusivamente para a mulher dependente surgiu em 1996 no Hospital das Clínicas de São Paulo.
Trata-se do Promud (Programa
de Atenção à Mulher Dependente
Química), coordenado pela psiquiatra Patrícia Hochgraf.
Ela diz que a capacidade do serviço que coordena (284 pacientes
já passaram pelo atendimento) é
muito menor do que a demanda.
"Toda vez que abrimos a triagem
para novos atendimentos é uma
loucura o que aparece de gente."
Por isso o Promud está crescendo: ganha neste mês, em convênio
com a Prefeitura de São Paulo,
mais dois postos de atendimento,
além do que já funciona no HC.
Para a psiquiatra, a maior adesão das mulheres aos tratamentos
se relaciona ao fato de elas estarem encontrando algo diferenciado nos serviços. "Se o homem dependente é considerado sem-vergonha, para a mulher é o fim da linha. Por isso, quando ela percebe
que será bem atendida, que não
será constrangida, fica mais estimulada a buscar tratamento."
Isso também ocorre nas clínicas
e consultórios particulares, onde,
da mesma forma, pode ser verificado um aumento de casos, segundo pelo menos oito especialistas ouvidos pela Folha.
Exemplo: um consultório que
atende pacientes de classe média
alta na zona sul de São Paulo, cujo
titular preferiu o anonimato, acusou aumento de 100% de casos
(de 7 para 14) de mulheres dependentes em busca de tratamento
nos últimos seis meses.
Segundo Hochgraf, o serviço
gratuito do HC também é procurado por pessoas com poder aquisitivo. "Aqui, apesar da diferença
de status, elas estão entre iguais
no que se refere à dependência."
Atendimento público: convênio
Promud/Prefeitura de São Paulo:
0/xx/11/3241-0901; Cead/RJ: 0/xx/21/
3399-1324
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