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NOVO ÊXODO
Colégio Renascença, maior escola judaica do país, vai encerrar as atividades no bairro, que agora virou reduto coreano
Fim de escola deixa Bom Retiro menos judeu
DA REPORTAGEM LOCAL
Em seis meses, quando os 230
estudantes da sede do Colégio Renascença do Bom Retiro, centro
de São Paulo, forem transferidos
para a unidade de Higienópolis,
bairro de classe média na mesma
região, estará simbolicamente encerrado um período de 80 anos de
ocupação judaica naquele bairro.
Na capital, o Bom Retiro já foi
um dos principais redutos da comunidade judaica. Já o Renascença, fundado há 80 anos, é a maior
escola judaica do Brasil, com
1.252 alunos, e uma das cinco
maiores da América Latina.
"É triste, mas a realidade é que o
Bom Retiro deixou de ser um
bairro judaico", diz o presidente
da escola, Max Waintraub, 36,
que, assim como a maior parte da
sua geração, foi criado no "Bonra", diminutivo que identifica o
bairro entre os membros da comunidade judaica paulistana.
Segundo a Federação Israelita
de São Paulo, há 60 mil judeus no
Estado, sendo 54 mil na capital.
Desses, 40% vivem em Higienópolis, onde começaram a chegar
em meados de 70. Os outros estão
espalhados entre Perdizes, Itaim-Bibi, Pinheiros e Jardins.
O colégio é considerado tradicional -ensina história judaica,
religião e hebraico. Mas, segundo
Waintraub, está "longe de ser ortodoxo". O Renascença atende
principalmente alunos de famílias
de classe média chefiadas por
profissionais liberais e empresários que respeitam apenas parte
das tradições religiosas.
Foram justamente essas famílias que começaram a abandonar
o "Bonra" nos anos 70, cedendo
lugar aos coreanos.
Ao longo das décadas, o Bom
Retiro perdeu população também
fora da colônia judaica. O Censo
de 1981 contou 47.588 moradores.
O de 2000, 26.598. O cadastro da
federação mostra que, em 1968, 15
mil judeus moravam lá. Em 2001,
o número caiu para 7.200.
Com o encerramento das atividades do Renascença no Bom Retiro -motivadas pela falta de alunos e o consequente déficit financeiro-, ficam no bairro dois pequenos colégios ortodoxos, que
atendem, principalmente, estudantes de outros bairros. A referência escolar do local, diz Waintraub, passa a ser a Polilogos, a escola coreana, com 270 alunos.
O prédio de 7.500 metros quadrados, na rua Prates, será colocado à venda. Mas Waintraub prefere ver o local, onde funciona o arquivo histórico da comunidade,
ser transformado em uma central
judaica, que abrigaria instituições
que não possuem sede própria.
Waintraub receia que cerca de
50% dos alunos da sede do Bom
Retiro desistam de estudar no Renascença após a transferência.
Ele teme que os alunos das regiões carentes -como conjuntos
habitacionais da periferia da
Grande São Paulo e de cortiços da
região central- , hoje atendidos
no Bom Retiro, sintam-se desconfortáveis na nova sede.
"É muito difícil adaptar alunos
que moram nas coberturas de Higienópolis com os que vivem na
Cohab de Carapicuíba", diz.
A imigração judaica no bairro
começou de forma tímida na década de 20 e teve seu pico entre
1947 e 1950.
(GABRIELA ATHIAS)
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