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Sociedade empurra policiais para guerra, afirmam analistas
DA SUCURSAL DO RIO
Melhorar a formação do policial é importante, mas, na opinião de analistas, não é só a falta de treinamento que resulta
em ações desastrosas com a
morte de inocentes. Para eles, a
pressão que parte da sociedade
faz com que a polícia parta cada
vez mais para o enfrentamento
direto, o que acaba resultando
em episódios como os registrados no Rio e no Paraná.
Além da morte do administrador Luiz Carlos da Costa ontem, uma ação da polícia militar do Rio na semana passada já
havia resultado na morte de
João Roberto, 3. No Paraná, a
PM também matou por engano
a estudante Rafaeli Lima, 21,
após ter confundindo seu carro
com o de criminosos no último
fim de semana.
Para Jorge da Silva, ex-secretário estadual de Direitos Humanos e ex-presidente do Instituto de Segurança Pública do
Rio, "ficam de todos os lados da
sociedade empurrando os policiais para uma guerra". Nesse
clima de tensão e com os nervos à flor da pele, diz ele, aumenta o estresse dos policiais.
"A formação policial é importante, mas você ouve as pessoas
dizendo que bandido bom é
bandido morto. Se é legítimo
matar bandido, eles vão atirar."
A antropóloga Ana Paula Miranda, que também presidiu o
Instituto de Segurança Pública
do Rio, concorda que a discussão sobre a abordagem policial
não deve ficar apenas na questão do treinamento.
"Enquanto a lógica for a de
dar prioridade ao enfrentamento, você pode ter experiências maravilhosas em capacitação, mas, quando esse policial
começar a trabalhar na rua, vão
dizer para ele esquecer tudo o
que aprendeu porque o código
lá é outro, e o que vale é ser corajoso e pegar o bandido a qualquer custo", afirma ela.
"Não existe formação policial
capaz de mudar a personalidade de uma pessoa. Os candidatos à PM no Rio passam por
exame intelectual, físico, psicológico e social, mas o perfil de
quem procura a carreira policial é de uma pessoa mais
agressiva, por estar disposta a
correr mais riscos", diz o ex-comandante-geral da PM do Rio,
coronel Ubiratan Ângelo.
Ele afirma também que as
ações da polícia na área de segurança pública no Rio estão
sempre pautadas pelo clamor
da sociedade e da mídia.
Ângelo lembra que, no ano
passado, logo após uma megaoperação da polícia no Complexo do Alemão que resultou em
19 mortes, o secretário José
Mariano Beltrame foi aplaudido, quando, num evento público, teve seu nome anunciado.
"Tempos depois, a mesma sociedade passa a criticar quando
a violência bate à sua porta."
Ele afirma ainda que nunca
houve uma política clara no setor. "Não estou dizendo que
não existe política de segurança
pública neste ou naquele governo. Digo que ela nunca existiu."
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